Agronegócio contina a ser o grande causador do desmatamento |
Mesmo com queda de 32% em relação ao ano anterior, desmatamento segue massivamente associado à expansão agropecuária; Amazônia e Cerrado concentram 83% da devastação
O agronegócio continua sendo o maior vetor de destruição ambiental no Brasil. Segundo o Relatório Anual do Desmatamento (RAD) 2024, divulgado pelo MapBiomas, nada menos que 97% da perda de vegetação nativa no país nos últimos seis anos está associada à agropecuária. Apesar da redução de 32,4% na área desmatada em relação a 2023, os dados mostram que o modelo de produção baseado na conversão de florestas e savanas em áreas de pasto e lavoura segue predominante e estrutural na dinâmica de ocupação do território brasileiro.
Em 2024, o Brasil perdeu mais de 1,2 milhão de hectares de vegetação nativa. A maior parte dessa destruição ocorreu nos biomas Amazônia e Cerrado, que juntos concentraram mais de 83% da área desmatada. Pelo segundo ano consecutivo, o Cerrado lidera o ranking, com 652 mil hectares desmatados, seguido pela Amazônia, com 377 mil hectares. Ainda que tenha havido uma queda significativa em quase todos os biomas — com destaque para a redução de 59% no Pantanal —, o impacto do agronegócio continua muito grande.
A maior parte do desmatamento está diretamente relacionada à conversão de vegetação nativa em áreas agrícolas, especialmente nas formações savânicas (52,4%) e florestais (43,7%). Estados da região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e da Amazônia Legal lideram os registros. O Maranhão, por exemplo, encabeça o ranking estadual com mais de 218 mil hectares desmatados em 2024, mesmo após uma redução de 34%.
A relação entre desmatamento e expansão agropecuária não é apenas territorial. Do total de imóveis cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) com alertas de desmatamento, 88,7% da área perdida está vinculada a propriedades com algum histórico anterior de supressão da vegetação. Mais da metade dos alertas validados em 2024 recaem sobre áreas com reincidência no desmatamento, e 93% apresentam indícios de ilegalidade, segundo os critérios adotados pelo MapBiomas.
Outro dado alarmante diz respeito à pressão do desmatamento sobre áreas protegidas. Ainda que em menor proporção, Unidades de Conservação e Terras Indígenas também seguem ameaçadas: foram 57,9 mil hectares desmatados dentro de UCs e 15,9 mil em TIs somente em 2024.
Para o MapBiomas, os dados mostram que o avanço do desmatamento está longe de ser um fenômeno espontâneo. Ele é impulsionado por políticas públicas permissivas, fragilidade na fiscalização e um modelo econômico que prioriza a produção de commodities em detrimento da preservação ambiental e da justiça climática.
Ao mesmo tempo, o relatório alerta para os riscos comerciais do desmatamento, sobretudo em razão da nova regulamentação da União Europeia (EUDR), que veta a importação de produtos originados em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Cerca de 5,5 milhões de hectares desmatados após essa data podem estar sujeitos a barreiras comerciais, afetando diretamente o setor exportador brasileiro.
O RAD 2024 ainda reforça a urgência de uma
transição para modelos de produção que respeitem os limites ecológicos e os
direitos dos povos do campo e das florestas. De acordo com o relatório, reduzir
o desmatamento não é apenas uma meta ambiental: é uma condição essencial para a
soberania climática, alimentar e econômica do país.
Leia o relatório na íntegra clicando aqui.
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