Autoritarismo policial, grilagem de terras, ataque à ciência, desmonte da educação e venda do patrimônio público: o projeto de Tarcísio em São Paulo aprofunda o modelo ultraliberal com repressão e exclusão social
O governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo não é apenas a reprodução do velho receituário neoliberal. Ele representa, na prática, um resumo tóxico de autoritarismo policial, desmonte dos direitos sociais e entrega acelerada do patrimônio público à iniciativa privada. Se antes suas falas eram vendidas como tecnocráticas e gerenciais, hoje o que se vê é um projeto ideológico alinhado ao ultraliberalismo econômico e ao autoritarismo social.
Sob o pretexto da eficiência e da modernização, a educação pública paulista vive um dos seus maiores desmontes. Aprovou-se a PEC 9/2023, que reduz de 30% para 25% o investimento mínimo obrigatório em educação. Na prática, são R$ 11,3 bilhões a menos para escolas, professores e alunos. Além disso, prolifera-se o modelo de escolas cívico-militares, corte de orçamento e terceirização da gestão, aprofundando a precarização da educação pública.
A ciência também virou alvo. O governo incluiu na LDO 2025 a possibilidade de cortar até 30% do orçamento da FAPESP, principal motor de financiamento à pesquisa científica no estado. A proposta gera indignação na comunidade acadêmica, que denuncia também a tentativa de reestruturar carreiras de pesquisadores e até venda de áreas pertencentes ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Se na educação e na ciência o projeto é de precarização, na segurança pública a aposta é no aprofundamento do Estado policial e na militarização da vida social. A violência explode: crianças e adolescentes mortos por PMs cresceram 120% no estado. A alta da violência policial reflete a autonomia ideológica da PM, que age como força política independente, blindada, e com licença para matar. Na Cracolândia, segundo especialistas, Tarcísio e Ricardo Nunes aplicam um verdadeiro estado de exceção permanente, alinhado a práticas próprias do fascismo.
Essa lógica de truculência não se restringe às periferias urbanas. Ela chega com força também ao campo. Recentemente, a Polícia Militar realizou, sem ordem judicial, o despejo violento da ocupação na Usina São José S/A, em Rio das Pedras (SP).
“É uma atitude frequente. A defesa de latifúndios criminosos é feita com bombas e repressão, enquanto há mais de 500 mil hectares de terras públicas devolutas no estado, especialmente no Pontal do Paranapanema”, denuncia Gilmar Mauro, da direção nacional do MST.
Ainda sobre a questão da terra no Estado de São Paulo, Gilmar afirma que o governo Tarcísio pratica “grilagem sobre grilagem”, vendendo terras públicas com 90% de desconto a fazendeiros, terras que deveriam ser destinadas à reforma agrária.
“Poderíamos assentar 100 mil famílias nessa região e ainda promover reflorestamento e agroecologia”, afirma.
E completa.
“Não queremos conflito, mas não há sequer espaço para diálogo. Mesmo nas gestões de Geraldo Alckmin, Bruno Covas ou Franco Montoro havia canais institucionais de negociação. Com Tarcísio, isso acabou. O que resta é repressão pura.”
O projeto econômico, por sua vez, é transparente. As privatizações avançam a toque de caixa. A venda da Sabesp, três linhas da CPTM entregues à iniciativa privada e a transferência de serviços como parques, escolas e saneamento básico transformam São Paulo num verdadeiro balcão de negócios.
O desmonte das políticas ambientais segue a mesma lógica. A gestão dos parques públicos foi retirada da Secretaria de Meio Ambiente e transferida para uma secretaria voltada a parcerias com a iniciativa privada, subordinando o interesse coletivo e ambiental ao lucro.
Diante desse cenário, é legítimo perguntar: a quem serve o governo de Tarcísio? A resposta está nas manchetes: serve ao capital financeiro, aos grandes grupos empresariais, aos interesses do agronegócio predatório e às elites que, historicamente, se recusam a conviver com qualquer projeto de sociedade que avance na distribuição de direitos, na justiça social e na democracia real.
O modelo aplicado em São Paulo não é apenas um laboratório neoliberal — é a construção de um projeto autoritário, que combina repressão social, militarização da vida, extermínio da população pobre, desmonte do Estado e financeirização total dos bens públicos. É uma escolha de classe, uma escolha de campo, e uma escolha contra o povo.
A resposta também está se construindo: nas ruas, nas ocupações, nas alianças entre trabalhadores, movimentos sociais, mães de vítimas da violência policial, movimentos de moradia e sindicatos.
Como afirma Gilmar Mauro, o caminho é a construção de uma grande ação
coletiva para enfrentar o governo neofascista de São Paulo. E, mais do que
nunca, essa luta não diz respeito apenas aos paulistas — diz respeito a toda a
sociedade brasileira que ainda acredita na democracia, na dignidade e na
justiça social.
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