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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Ato em Ribeirão Preto reúne movimentos em defesa da Palestina e contra Trump

Ato reuniu dezenas de pessoas
Fotos: @filipeaugustoperes

 Manifestação contou com exibição do documentário “Filhas da Nakba” no Lar Santana

Na noite desta terça-feira (19), dezenas de pessoas se reuniram no Lar Santana, em Ribeirão Preto (SP), em um ato em solidariedade ao povo palestino e contra a interferência do governo de Donald Trump no Brasil. Organizado pelo Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina e pelo Memorial da Resistência Madre Maurina Borges, o encontro foi marcado por palavras de ordem, bandeiras palestinas e discursos que denunciaram o genocídio em curso na Palestina.

Sob o lema “Parem o genocídio – Fora Trump do Brasil e da Palestina”, os participantes reafirmaram a necessidade de enfrentar o imperialismo e exigir a responsabilização de lideranças políticas que fomentam a violência e o fascismo. Outra pauta levantada foi a exigência de prisão dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

A presidenta do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, Fátima Suleiman, destacou a centralidade da mulher palestina na resistência contra a ocupação. 

“A resistência palestina é feminina. Na Palestina, eles têm focado muito nas mortes das mulheres, porque são elas que dão continuidade à vida, que geram o futuro. Essa limpeza étnica visa exterminar grávidas, crianças, o futuro de um povo. E nós precisamos entender que tudo o que acontece lá serve de laboratório para outras partes do mundo onde existem riquezas. Defender a Palestina é também defender o Brasil” 

O advogado Vanderlei Caixe, integrante da Associação de Amigos do Memorial Madre Maurina (UGT), ressaltou a simbologia de realizar o encontro no Lar Santana. 

“Esse é um lugar de resistência, que nós temos a obrigação de preservar. Quando eles tentam apagar a Palestina, é para dizer que ela nunca existiu. Assim também querem apagar a ditadura e até mesmo trazer seu retorno. Nós, pessoas conscientes, que temos amor e coragem, devemos lutar contra isso” 

Já a vereadora Duda Hidalgo (PT) denunciou a contradição da Prefeitura de Ribeirão Preto ao separar recursos para viagens internacionais enquanto espaços históricos locais permanecem abandonados. 

“A prefeitura tinha R$ 80 mil separados para a viagem do prefeito a Israel, para apertar a mão de quem está com as mãos sujas de sangue. Fizemos um requerimento e obtivemos resposta formal confirmando isso. Mas não há um centavo para investir aqui dentro do Lar Santana, um espaço abandonado da nossa cidade. Não podemos nos enganar: a direita tem escolhido disseminar ódio e justificar suas alianças com políticas genocidas em nome de ‘boas práticas’. Gaza pode estar distante, mas a luta é a mesma, e precisamos travá-la também aqui em Ribeirão Preto” 

Além destas falas, realizaram falas representantes das seguintes organizações, entidades ou partidos políticos 

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Partido dos Trabalhadores (PT)
Unidade Popular (UP)
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR)
Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
Associação Amigos do Memorial da Madre Maurina – UGT
ANTIFA – Resistência Caipira Botafogo de Ribeirão Preto
Associação Amigos do Memorial da Classe Operária
Partido da Causa Operária (PCO)

Dirigentes e militantes dessas entidades ressaltaram a importância da solidariedade internacionalista, da unidade popular contra o avanço do imperialismo e da necessidade de se lutar pela construção do Memorial da Resistência Madre Maurina no Lar Santana.

Memória e resistência

O Lar Santana, palco do encontro, foi lembrado por seu simbolismo histórico, ligado à trajetória de Madre Maurina, única religiosa presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil. Os organizadores ressaltaram que o espaço carrega a marca da resistência e da defesa dos direitos humanos, tornando-se um lugar apropriado para discutir genocídio, soberania e justiça social.

Exibição do documentário

Durante o ato, o público assistiu ao documentário “Filhas da Nakba”, dirigido por Estela Falastin, traduzido por Salam Akhras Mazloum e produzido pela VEUS Producciones. O filme retrata, pela voz de mulheres palestinas, as consequências da Nakba — a “catástrofe” de 1948, que marcou a expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas terras — e a resistência que atravessa gerações.

Ponto importante do documentário é a afirmação de que massacres como o de Deir Yassin mostra como, diante da catástrofe, foram sobretudo as mulheres que mantiveram viva a identidade cultural e a organização comunitária em meio à diáspora .

Nas imagens, surgem relatos que evidenciam o papel decisivo das palestinas nos campos de refugiados: criaram centros comunitários, escolas improvisadas em barracas de lona e redes de solidariedade para preservar a cultura e a memória do povo palestino. Ao longo das décadas, essas mulheres também assumiram protagonismo direto na luta política e armada. 

Figuras como Leila Khaled, que participou do sequestro de aviões nos anos 1960 para denunciar a prisão de palestinos, quebraram estereótipos e mostraram ao mundo que a resistência feminina vai além do espaço doméstico .

O documentário ainda retrata a presença das mulheres na Primeira Intifada, nos anos 1980, quando, lado a lado com crianças, enfrentaram soldados israelenses com pedras, ao mesmo tempo em que organizavam protestos, manifestações e estruturas de apoio. Muitas foram presas, torturadas e violentadas, mas fortaleceram a identidade coletiva de luta mesmo dentro das prisões .

Outro aspecto explorado é o cotidiano sob ocupação militar em territórios como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. As cenas revelam as humilhações dos checkpoints, os partos interrompidos em bloqueios, a violência de colonos e a vida em um território transformado em cárcere a céu aberto. Em Gaza, os drones sobrevoam constantemente o céu, enquanto mulheres relatam a escassez de alimentos e remédios como parte de uma política de sufocamento .

Ao final, a obra faz um chamado político e ético: mostrar que a resistência palestina é profundamente feminina e intergeracional. As mulheres educam seus filhos para o amor à pátria, preservam tradições, se organizam em movimentos internacionais como a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e mantêm viva a esperança de libertação. Como sintetiza uma das entrevistadas, 

“[...]depois de cada dor, a esperança. A Palestina será livre, e a mulher terá um grande papel na liberdade e no futuro” .

Veja o documentário completo clicando aqui.




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