Na noite desta terça-feira (19), dezenas de pessoas se reuniram no Lar Santana, em Ribeirão Preto (SP), em um ato em solidariedade ao povo palestino e contra a interferência do governo de Donald Trump no Brasil. Organizado pelo Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina e pelo Memorial da Resistência Madre Maurina Borges, o encontro foi marcado por palavras de ordem, bandeiras palestinas e discursos que denunciaram o genocídio em curso na Palestina.
Sob o lema “Parem o genocídio – Fora Trump do Brasil e da Palestina”, os participantes reafirmaram a necessidade de enfrentar o imperialismo e exigir a responsabilização de lideranças políticas que fomentam a violência e o fascismo. Outra pauta levantada foi a exigência de prisão dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
A presidenta do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, Fátima Suleiman, destacou a centralidade da mulher palestina na resistência contra a ocupação.
“A resistência palestina é feminina. Na Palestina, eles têm focado muito nas mortes das mulheres, porque são elas que dão continuidade à vida, que geram o futuro. Essa limpeza étnica visa exterminar grávidas, crianças, o futuro de um povo. E nós precisamos entender que tudo o que acontece lá serve de laboratório para outras partes do mundo onde existem riquezas. Defender a Palestina é também defender o Brasil”
O advogado Vanderlei Caixe, integrante da Associação de Amigos do Memorial Madre Maurina (UGT), ressaltou a simbologia de realizar o encontro no Lar Santana.
“Esse é um lugar de resistência, que nós temos a obrigação de preservar. Quando eles tentam apagar a Palestina, é para dizer que ela nunca existiu. Assim também querem apagar a ditadura e até mesmo trazer seu retorno. Nós, pessoas conscientes, que temos amor e coragem, devemos lutar contra isso”
Já a vereadora Duda Hidalgo (PT) denunciou a contradição da Prefeitura de Ribeirão Preto ao separar recursos para viagens internacionais enquanto espaços históricos locais permanecem abandonados.
“A prefeitura tinha R$ 80 mil separados para a viagem do prefeito a Israel, para apertar a mão de quem está com as mãos sujas de sangue. Fizemos um requerimento e obtivemos resposta formal confirmando isso. Mas não há um centavo para investir aqui dentro do Lar Santana, um espaço abandonado da nossa cidade. Não podemos nos enganar: a direita tem escolhido disseminar ódio e justificar suas alianças com políticas genocidas em nome de ‘boas práticas’. Gaza pode estar distante, mas a luta é a mesma, e precisamos travá-la também aqui em Ribeirão Preto”
Além destas falas, realizaram falas representantes das seguintes organizações, entidades ou partidos políticos
• Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
• Partido dos Trabalhadores (PT)
• Unidade Popular (UP)
• Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR)
• Partido Comunista Brasileiro (PCB)
• Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
• Associação Amigos do Memorial da Madre Maurina – UGT
• ANTIFA – Resistência Caipira Botafogo de Ribeirão Preto
• Associação Amigos do Memorial da Classe Operária
• Partido da Causa Operária (PCO)
Dirigentes e militantes dessas entidades ressaltaram a importância da solidariedade internacionalista, da unidade popular contra o avanço do imperialismo e da necessidade de se lutar pela construção do Memorial da Resistência Madre Maurina no Lar Santana.
Memória e resistência
O Lar Santana, palco do encontro, foi lembrado por seu simbolismo histórico, ligado à trajetória de Madre Maurina, única religiosa presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil. Os organizadores ressaltaram que o espaço carrega a marca da resistência e da defesa dos direitos humanos, tornando-se um lugar apropriado para discutir genocídio, soberania e justiça social.
Exibição do documentário
Durante o ato, o público assistiu ao documentário “Filhas da Nakba”, dirigido por Estela Falastin, traduzido por Salam Akhras Mazloum e produzido pela VEUS Producciones. O filme retrata, pela voz de mulheres palestinas, as consequências da Nakba — a “catástrofe” de 1948, que marcou a expulsão de centenas de milhares de palestinos de suas terras — e a resistência que atravessa gerações.
Ponto importante do documentário é a afirmação de que massacres como o de Deir Yassin mostra como, diante da catástrofe, foram sobretudo as mulheres que mantiveram viva a identidade cultural e a organização comunitária em meio à diáspora .
Nas imagens, surgem relatos que evidenciam o papel decisivo das palestinas nos campos de refugiados: criaram centros comunitários, escolas improvisadas em barracas de lona e redes de solidariedade para preservar a cultura e a memória do povo palestino. Ao longo das décadas, essas mulheres também assumiram protagonismo direto na luta política e armada.
Figuras como Leila Khaled, que participou do sequestro de aviões nos anos 1960 para denunciar a prisão de palestinos, quebraram estereótipos e mostraram ao mundo que a resistência feminina vai além do espaço doméstico .
O documentário ainda retrata a presença das mulheres na Primeira Intifada, nos anos 1980, quando, lado a lado com crianças, enfrentaram soldados israelenses com pedras, ao mesmo tempo em que organizavam protestos, manifestações e estruturas de apoio. Muitas foram presas, torturadas e violentadas, mas fortaleceram a identidade coletiva de luta mesmo dentro das prisões .
Outro aspecto explorado é o cotidiano sob ocupação militar em territórios como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. As cenas revelam as humilhações dos checkpoints, os partos interrompidos em bloqueios, a violência de colonos e a vida em um território transformado em cárcere a céu aberto. Em Gaza, os drones sobrevoam constantemente o céu, enquanto mulheres relatam a escassez de alimentos e remédios como parte de uma política de sufocamento .
Ao final, a obra faz um chamado político e ético: mostrar que a resistência palestina é profundamente feminina e intergeracional. As mulheres educam seus filhos para o amor à pátria, preservam tradições, se organizam em movimentos internacionais como a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e mantêm viva a esperança de libertação. Como sintetiza uma das entrevistadas,
“[...]depois de cada dor, a esperança. A Palestina será livre, e a mulher terá um grande papel na liberdade e no futuro” .
Veja o documentário completo clicando aqui.
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