1
Não, não sou um girassol sonâmbulo
nem ando só
o mundo se esfarela como um peixe seco
enquanto a miséria se pendura em crucifixo
como carne seca
no varal da Bolsa de Valores
Caminho sobre
um mapa que chora
mas terra-mulheres com febre de justiça
me lembram a todo instante
que existem pulsações de tambores vermelhos
e bússola
coração extra
a partir de seus exemplos diários
me reequilibro
O tempo escorre pelos olhos de um porco dourado
que aprendeu a contar e não chora mais
me dizem “não há o que fazer”
mas eu tenho sonhos armazenados em caixas de fósforo
junto às minhas camaradas
junto aos meus camaradas
e os acendo,
brotando uma árvore em minha boca
não, caro inimigo
meu corpo não é território neutro
carrego a dor coletiva entre os dedos
e junto à uma multidão
me torno feito de agulhas e relâmpagos
em que
em todos os passos
costuramos à terra como quem expulsa
mas terra-mulheres com febre de justiça
me lembram a todo instante
que existem pulsações de tambores vermelhos
e bússola
coração extra
a partir de seus exemplos diários
me reequilibro
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O tempo escorre pelos olhos de um porco dourado
que aprendeu a contar e não chora mais
me dizem “não há o que fazer”
mas eu tenho sonhos armazenados em caixas de fósforo
junto às minhas camaradas
junto aos meus camaradas
e os acendo,
brotando uma árvore em minha boca
não, caro inimigo
meu corpo não é território neutro
carrego a dor coletiva entre os dedos
e junto à uma multidão
me torno feito de agulhas e relâmpagos
em que
em todos os passos
costuramos à terra como quem expulsa
o Céu e o Inferno.
3
um pássaro com três asas e nenhum nome
canta dentro de mim
o socialismo me revira
e me impede de ser flor tola
como cão de olhos vermelhos
entalado por injustiças
como espinhos entalados na garganta da história,
caminho descalço
sobre solos que derretem e se decompõem
às vezes entre defuntos
é fogo
mas mesmo defumado
mas mesmo defumado
não
caminho sozinho
às vezes mar,
às vezes cicatriz
às vezes simplesmente amar
nunca caminho em chão simples
já sei
os bancos não vão me salvar
e os algoritmos me observam
com olhos de vidro fumê
e dentes de plástico
às vezes mar,
às vezes cicatriz
às vezes simplesmente amar
nunca caminho em chão simples
já sei
os bancos não vão me salvar
e os algoritmos me observam
com olhos de vidro fumê
e dentes de plástico
eu sei
o mercado não passa de versão renovada do bezerro de ouro
ele flutua numa bolha de sangue
e mastiga o tempo com dentes de código binário
não posso aceitar isso
na enxada, camaradas escondem palavras
a luta lhes brota debaixo da unha
e fazem da mandioca um manifesto
com eles, elas e elos
marchamos com os intestinos em revolução
contra os fantasmas da Europa e suas togas
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na enxada, camaradas escondem palavras
a luta lhes brota debaixo da unha
e fazem da mandioca um manifesto
com eles, elas e elos
marchamos com os intestinos em revolução
contra os fantasmas da Europa e suas togas
contra presidentes laranjas do Norte
e suas ações autoritárias em nome do aço
e suas ações autoritárias em nome do aço
se o fascismo reaprende a coreografia das botas
no formigueiro, ligeiro,
eu reaprendo o passo das formigas
o canto das lavadeiras
o giro dos cataventos
o canto das lavadeiras
o giro dos cataventos
5
entre o que sonho e o que planto
há uma terra fértil
onde mora o amanhã
com seu manto de esperança,
sua língua coletiva de povo
e sua fome querendo virar árvore frutífera
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