A subnotificação dos casos de COVID é notória. O número de testes
diagnósticos para o COVID por milhão de habitantes, feito no Brasil, é menor
que os feitos na Venezuela, Chile, Peru, Uruguai, Colombia, Equador e Paraguai,
a despeito de sermos o terceiro país em número de mortos a nível mundial, em
vias de tornar-nos o segundo. Estima-se que o número reportado de casos
corresponda entre 10% a 30% do número real.
Mas é possível ter uma visão mais real. Como diagnosticava-se casos de
gripe espanhola, se não existiam testes na época? Ou casos de peste bubônica,
na peste negra, quando sequer conhecia-se a existência de germes?
O Covid causa uma síndrome respiratória infecciosa grave, de rápida
progressão. Por isso a urgência em se disponibilizarem-se respiradores. Outras
doenças, como gripe e pneumonia podem causar também. Mas, embora elas flutuem
ao longo do ano (mais comuns no inverno), elas causam síndrome respiratória
aguda em uma frequencia relativamente estável, para um dado mês, ao longo dos
anos.
Em outras palavras, se compararmos os casos graves de gripe em janeiro
de 2018 ou 2019, detectaremos uma linha de base, que pode ser comparada com os
dados de outros anos, para calcular-se diferenças.
No caso de Ribeirão Preto, segundo dados da Secretaria de Saúde, a média
de casos de Síndrome Respiratória Grave em 2018 e 2019 foi de 6 casos para
Janeiro. Em janeiro de 2020 foram 7 casos. Nada diferente. Em fevereiro, a
média para 2018 e 2019 foi de 7 casos e em 2020, 11 casos. De novo, nada muito
inquietante. Mas em Março, os valores foram 18 (média anos anteriores) e 142
(2020). Em Maio, saltaram de 45 para 360. E em Junho projeto que saltarão de 68
para 698.
Um excesso de casos da ordem de 700% para Maio, e 926%
para Junho.
Ao final de Junho deveremos ter ao redor de 1300 casos em excesso em
Ribeirão, relativo a 2018/2019. Essa é a conta que temos que ter em mente.
Esses são os casos que não tem como ser ocultados.
Poderíamos ainda, tivéssemos números, calcular o excesso de óbitos. E
não só em Ribeirão, mas em SP e no Brasil.
Os dados são inquietantes e mostram que, como o previsto, a
subnotificação grosseira dos dados, e que ainda não atingimos o pico. Com a
flexibilização irresponsável de isolamento social, afirmo que o pico será muito
maior do que o originalmente previsto. Essa tragédia, que se traveste agora em
farsa, agudiza-se com a ausência patológica de liderança para seu combate.
Marcelo E Bigal MD. PhD
Neurologista e pesquisador, CEO - Ventis Therapeutics
Veja aqui a entrevista concedida pelo dr. Marcelo Bigal ao programa Virando a Página do Blgo O Calçadão uma parceria Carcará/Calçadão
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