O debate nas redes sociais e principalmente nos blogs progressistas está grande. Todas as análises buscam explicar a mudança de tom no jornalismo da Globo na última semana.
Tem análise para todos os gostos, desde daquelas que apontam para um acordo de cúpula entre a Globo, banqueiros e industriais com o governo para buscar superar o clima de crise e de ruptura na ordem democrática, temendo-se um acirramento das posições a ponto de se conflagrar um conflito civil, até aquelas que desconfiam da postura da Globo, temendo apenas uma retirada estratégica de seu corpo do movimento principal do golpe enquanto permanece conspirando através de seus braços de ação, o PSDB de Aécio e os fascistinhas do dia 16 próximo.
Aqui no blog O Calçadão nós não temos nem bola de cristal e muito menos fontes privilegiadas. Atuamos aqui com os dados que apuramos de todas as fontes públicas possíveis. Fazemos a nossa análise a partir das nossas conclusões sem fugir dos fatos.
Vamos lá.
Vínhamos embalados por um ambiente de otimismo até as tais "jornadas de junho" de 2013. Ali o ambiente começou a se modificar. A avaliação de Dilma caiu e, apesar de ter se recuperado no período eleitoral de 2014, jamais retornou ao que tinha em abril de 2013 (76% de aprovação).
Dilma, que nunca se notabilizou na prática política, foi perdendo pouco a pouco o diálogo com o Congresso, notadamente com a Câmara. Com Dilma a articulação política foi relegada a um segundo plano. Um erro grave que cobra um preço enorme.
Com as "jornadas de junho", a Globo encontrou o caminho das pedras, repetindo um padrão mundial de manifestações que contestam de tudo na aparência, mas que servem ao sistema, na prática. Colocou nas ruas uma classe média analfabeta política e raivosa, que reverbera um conservadorismo intolerante, burro e rasteiro. Botou o governo na defensiva, unificou um grupo político de oposição em torno de Aécio, transformou o clima da Copa do Mundo em um clima tenso (um anti-clímax) e iniciou um processo de desconstrução da imagem da Petrobrás, atingindo, assim, dois objetivos: ferir Lula e questionar a política do pré-sal (partilha e conteúdo nacional).
Todo o esquema estava pronto: Aécio venceria Dilma, São Paulo permaneceria nas mãos de Alckmin, Serra entraria no Senado para atropelar o pré-sal e o PT estaria aniquilado, restando apenas Haddad esperando sua vez de ser humilhado em 2016.
Mas o povo e a crise econômica mundial resolveram atrapalhar os planos.
Dilma vence, Aécio é humilhado em Minas, a crise chega e a Globo se vê em maus lençóis: tem sua nota rebaixada pela Standard & Poors e teria que enfrentar um enorme conflito político e social para defenestrar o PT do poder, de olho no que mais a interessa, as verbas publicitárias do governo, a verdadeira fonte do seu poder imperial.
A corda esticou demais. Aécio e seus parceiros do Revoltados online não são de confiança e são apenas coisas vazias, sem conteúdo. A fórmula Eduardo Cunha se revelou uma sandice, pois o homem quer quebrar o Brasil para se livrar da cadeia. O PT ainda tem poder nos movimentos sociais e não vai cair sem luta. Uma briga intensa, portanto, não seria interessante para ninguém.
Repito: este blog não tem bola de cristal. Mas eis a agenda da última semana:
-Dilma se reúne com governadores. Todos desesperados para governar a crise e ansiosos pela paz política;
- Dilma se reúne com as lideranças do Senado e Câmara, de onde se vê que na Câmara a coisa é grave;
-Cunha se reúne com a Globo;
-A Globo se reúne com senadores do PT após audiência de louvor aos seus 50 anos;
-A Globo muda sua linha editorial, alivia com Dilma e bate em Aécio e Cunha;
-Temer sai a campo posando de pilar da concertação supra-partidária.
-Temer sai a campo posando de pilar da concertação supra-partidária.
Para O Calçadão a coisa é clara: estamos diante da segunda Carta ao Povo Brasileiro. A primeira, de 2002, acordava um Lula palatável ao sistema. A segunda, acorda um armistício: Dilma segue governando, as verbas da Globo estão garantidas e Michel Temer e seu PMDB governam a política.
A esse concerto vem atrelado os interesses dos banqueiros (como Trabuco do Bradesco, que acabou de comprar o HSBC) e dos industriais, animados, vejam só!, com o valor do real frente ao dólar, que vai catapultar as exportações e a atividade industrial no médio prazo (o setor sucroalcooleiro já sente o vigor voltando).
Restam disso tudo uma certeza e três dúvidas.
A certeza é que mais uma vez os progressistas e os movimentos sociais e sindicais perdem. A concertação política é uma capitulação ao financismo. A famosa argumentação do "governo em disputa", que é real, mais uma vez causa uma derrota ao povo, ao trabalhador.
Em 2003, a Carta ao Povo Brasileiro afastou muita gente, alguns criaram o PSOL. O que vai ser agora? Terão os progressistas condições de construir uma alternativa real de poder, como ocorre na Grécia e na Espanha?
Em 2003, a Carta ao Povo Brasileiro afastou muita gente, alguns criaram o PSOL. O que vai ser agora? Terão os progressistas condições de construir uma alternativa real de poder, como ocorre na Grécia e na Espanha?
As outras duas dúvidas são em relação ao PT e a tal da lava jato.
Com relação à lava jato, pergunta-se como a concertação política vai afetar a investigação do juiz Moro, que sempre se pautou pela seletividade midiática, a ponto de ganhar prêmio da Globo?
Com relação ao PT a pergunta é: quem vai ganhar a disputa interna? Sim, pois só um cego não vê que o PT está em disputa, principalmente em São Paulo. Vencerão Mercadante e Cardoso, os homens de confiança da Dilma? Ou vencerão o Lula e Haddad, os representantes da luz no fim do túnel tanto para mobilizar os movimentos sociais quanto para se construir uma narrativa política que enfrente o conservadorismo paulista?
Na opinião de O Calçadão, sairá vitorioso aquele que tiver votos. E quem tem votos no PT hoje?
Fica mais uma vez uma lição aos progressistas, a mesma lição que os progressistas gregos acabam de levar: a disputa política é algo monstruoso, cruel, violento e é preciso um acúmulo profundo de forças (onde a organização das massas é algo importante mas não o único fator) para dar subsídio a um processo de transformação e enfrentamento. Enquanto isso, nos resta lidar com os Marinho, com o PMDB e com as "cartas" de capitulação do PT.
O movimento do dia 20 se torna fundamental. É um recomeço da mobilização. É um sinal de que as massas organizadas não tolerarão que mexam no nosso maior patrimônio, a democracia! Devemos defender a legitimidade dos 54 milhões de votos, mesmo com críticas a Dilma. O dia 20 servirá inclusive de apontamento de para onde as forças orgânicas que orbitam o PT caminharão. Será para Lula?
Eu caminharia para Lula e, principalmente, para Fernando Haddad.
Eu caminharia para Lula e, principalmente, para Fernando Haddad.
Ricardo Jimenez
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