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Arcebispo Dom Moacir Silva celebra missa no Lar Santana Fotos: @filipeaugustoperes |
Neste domingo (7), centenas de pessoas estiveram participaram do Grito dos Excluídos, em Ribeirão Preto. Com o lema nacional “Vida em primeiro lugar! Cuidar da Casa Comum e da democracia é luta de todo dia”, a celebração reuniu fé, memória popular e compromisso social.
A concentração aconteceu na praça Coração de Maria, onde aconteceram falas de diversas pessoas, diversas entidades, partidos políticos e representantes da sociedade civil. Em seguida, os militantes realizaram uma marcha até o Lar Santana , lugar em que a população luta pela implementação do Memorial da Resistência Madre Maurina Borges. No local, o arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva celebrou a missa do 31º Grito dos Excluídos.
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Fátima Suleiman, presidenta do Comitê Permanente para a Causa Humanitária Palestina |
Neste ano, as pautas que mobilizaram os milhares de trabalhadores e trabalhadoras foram: Brasil Soberano, contra o tarifaço norteamericano; redução da jornada de trabalho; isenção do imposto de renda para quem recebe até R$5 mil mensais; entre outras.
Memória e resistência no Lar Santana
Um dos pontos centrais das falas foi a ocupação do Lar Santana, realizada em agosto. O advogado Vanderlei Caixe, da Associação Memorial da Resistência Madre Maurina Borges, afirmou que o ato simboliza a construção do poder popular e a retomada da memória histórica da cidade, lembrando que o espaço foi o local da prisão e tortura da Madre durante a ditadura.
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Lar Santana durante a missa |
O ambientalista Paulo, da Associação Pau Brasil, reforçou o caráter popular da ocupação, alertando contra tentativas de esvaziar seu significado. Para ele, devolver o Lar Santana ao povo é garantir que a história de resistência não seja apagada.
Vozes da Igreja e da juventude
A dimensão religiosa também esteve presente. O padre Flávio Livotto leu a mensagem oficial do Grito dos Excluídos, baseada na encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, denunciando a crise ambiental e a precarização social. Já o jovem Carlos, da Pastoral da Juventude, destacou o compromisso das novas gerações com a defesa da vida, da democracia e da “casa comum”, criticando a mercantilização da vida e a criminalização da juventude.
Socialismo, trabalho e justiça social
Diversos militantes de partidos de esquerda destacaram a necessidade de mobilização popular e de ruptura com o capitalismo.
Caio Cristiano, presidente do PSOL, criticou a ausência de um chamado nacional pelo governo Lula neste 7 de setembro e defendeu a centralidade da classe trabalhadora.
Gustavo, do PCB, ressaltou a luta de classes e a necessidade de solidariedade internacionalista, especialmente com a Palestina.
Estevan Martins de Campos, do MES/PSOL, defendeu a unidade contra a extrema direita e contra a anistia aos golpistas.
Representantes do MST também marcaram presença. Joaquim Lauro Sando, da direção estadual, defendeu a reforma agrária, a preservação ambiental e a justiça tributária como caminhos para a soberania.
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Padre Flávio Livotto |
No campo institucional, as vereadoras Perla Müller e Duda Hidalgo (PT) denunciaram a precarização da vida e defenderam justiça social, redução da jornada de trabalho, políticas públicas contra a desigualdade e resistência ao fascismo.
Moradia e luta concreta
A questão da moradia esteve no centro da fala de Matheus, da Unidade Popular (UP). Ele anunciou que o MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) realizou 18 ocupações em 15 estadosneste 7 de setembro, conectando a luta pela habitação digna à soberania popular.
Solidariedade à Palestina
A dimensão internacional ganhou força nos discursos. Fátima Suleiman, do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, fez um denunciou o genocídio e a limpeza étnica promovidos por Israel contra o povo palestino. Convocou ainda a militância para o ato internacional do próximo dia 13 em solidariedade à Palestina.
Na mesma linha, a militante Sônia, do TLS, relacionou a luta palestina à resistência brasileira e convocou mobilização massiva contra a reforma administrativa em tramitação no Congresso.
Um chamado coletivo à mobilização
Encerrando o ato, João Brás, presidente do Memorial Madre Maurina, fez duras críticas a setores conservadores locais e reforçou o papel da memória histórica e da luta sindical na defesa da democracia. Ele destacou que a soberania popular e a solidariedade internacional são os pilares de uma sociedade justa.
Dom Moacir Silva
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Dom Moacir pediu pediu que os presentes traduzam sua fé em ações concretas de solidariedade e justiça no cotidiano |
Após a marcha, já no Lar Santana, em homilia, Dom Moacir Silva dirigiu-se aos presentes com uma reflexão de caráter espiritual e social, baseada no Evangelho e nos ensinamentos da Igreja e destacou que a vida é um caminho marcado por desafios e escolhas, mas que deve ser orientado pela sabedoria de Deus e pela prioridade do amor.
“A nossa vida é um caminho nem sempre linear, nem sempre fácil, que nos leva até a meta final da nossa existência, a vida verdadeira, a vida eterna”,
afirmou o arcebispo, destacando que apenas pela abertura ao Espírito Santo é possível encontrar a direção correta .
O Evangelho e o discipulado
Inspirado nas leituras bíblicas, Dom Moacir destacou que seguir Jesus exige compromisso radical e renúncia ao egoísmo.
“Quem embarca na aventura do Reino de Deus deve fazê-lo sem reticências, sem transigências, com total empenho e compromisso”,
disse, lembrando que o discipulado implica tomar a cruz do amor, do serviço e da doação .
O Arcebispo questionou ainda se os cristãos de hoje têm colocado os valores do Reino acima de seus próprios interesses, desafiando os presentes a refletirem sobre suas prioridades diante das exigências de Jesus.
Amor como fundamento da vida social
O arcebispo frisou que o amor deve estar no centro da experiência cristã e da construção social.
“É o amor que nos permite descobrir a igualdade de todos os homens, filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo”, declarou .
Para Dom Moacir, a exploração, a guerra e a injustiça não podem ser superadas por métodos violentos. Ele chamou atenção para o fato de que apenas a conversão dos corações ao amor poderá inaugurar uma nova ordem social:
“A construção de um mundo mais feliz e fraterno só acontecerá com a conversão ao amor. Quando nascer a civilização do amor, teremos finalmente um mundo humano, justo, pacífico e fraterno” .
Cuidado da casa comum e desafios atuais
Em sua reflexão, Dom Moacir também lembrou que o compromisso cristão passa pelo cuidado da criação. Alertou contra o desmatamento, a degradação ambiental e a lógica econômica que coloca o lucro acima da vida, reforçando que
“cuidar da casa comum é parte essencial da missão do discípulo” .
Encerramento
Ao final, pediu que os presentes traduzissem sua fé em ações concretas de solidariedade e justiça no cotidiano.
“Peçamos ao Senhor a graça de nos deixarmos envolver profundamente pelos apelos dessa palavra e traduzir esse envolvimento em gestos concretos do nosso dia a dia”, concluiu
Roteiro da missa defende a “civilização do amor” e chama à conversão pelo cuidado da casa comum no Encontro dos Excluídos
Tom profético e comunitário
Após a homilia, logo na abertura, os cânticos ressaltaram solidariedade e serviço:
“Eu vivo pra amar e pra servir” e “Sou profeta da verdade, canto a justiça e a liberdade”. O Ato Penitencial trouxe a denúncia das injustiças sociais:
“O pecado arrancou a alegria do sertão… o lucro tem lugar, sertanejo não tem”.
Partilha no centro da mensagem
Inspirada nos Atos dos Apóstolos, a liturgia destacou a partilha como fundamento da vida cristã: “
Os cristãos tinham tudo em comum”.
O ofertório reforçou que a criação é destinada a todos e que a fé deve se traduzir em solidariedade concreta.
Eucaristia como esperança
Na consagração, a Eucaristia foi apresentada como “ato supremo de amor e esperança”, capaz de transformar a dor em vida e fortalecer a caminhada dos que lutam por justiça e dignidade. Cânticos populares, como o “Santo Olelê”, aproximaram a celebração da cultura popular e da espiritualidade do povo.
Fé e luta lado a lado
Em sua celebração Dom Moacir, entendeu o Grito dos Excluídos como um chamado permanente à ação transformadora.
“A vida precisa estar em primeiro lugar, acima do lucro e da exclusão. A democracia e a Casa Comum só se sustentam quando há partilha, solidariedade e respeito à dignidade humana”, afirmou o arcebispo.
Ao término da missa, o arcebispo plantou uma árvore no local em memória de Madre Maurina Borges, onde também abençoou com o gesto de direcionar a água sobre a árvore da freira franciscana.
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Água benta |
Após o ato de plantar, Dom Moacir, acompanhado por Vanderlei Caixe, caminhou pelo prédio do Lar Santana, onde pode visualizar o abandono realizado pelo poder público com a memória e a vida de luta e fé de Madre Maurina Borges.
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Advogado Vanderlei Caixe e Dom Moacir durante visita ao Lar Santana |
O que Memorial da Resistência Madre Maurina Borges
Para os organizadores, transformar o Lar Santana em Memorial da Resistência Madre Maurina Borges é um ato de reparação histórica e de preservação da memória coletiva de Ribeirão Preto. O espaço, que já foi orfanato dirigido por Madre Maurina, resgata a trajetória da religiosa injustamente acusada e torturada pela ditadura militar, simbolizando a luta contra o esquecimento.
Os militantes afirmam que mais do que um museu, o memorial se propõe a ser um espaço vivo de educação e reflexão, com oficinas, debates e atividades culturais, garantindo que a democracia e os direitos humanos sejam valores sempre lembrados e reafirmados pelo compromisso coletivo do “Nunca Mais!”
MST realiza ação solidária
Após a celebração da missa, por meio da Cooperativa Orgânica Agroflorestal Comuna da Terra, o MST realizou ação solidária e entregou 1 tonelada de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos às pessoas presentes no ato e à população dos arredores.
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