Flotilha Global Sumud, rumo a Gaza, parte de Barcelona, na Espanha, em 31 de agosto de 2025 [Esra Hacioglu/Agência Anadolu] |
Por Filipe Augusto Peres
Israel mantém embargo quase absoluto à assistência humanitária a Gaza, ao assumir o controle da distribuição mediante a chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês), mecanismo militarizado responsável por mais de mil mortes.
As ações israelenses,
investigadas como genocídio pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ),
sediado em Haia, deixaram ao menos 63 mil mortos e dois milhões de
desabrigados, sob cerco, destruição e fome, desde outubro de 2023.
Na semana passada, a Organização
das Nações Unidas (ONU), por meio do consórcio da Classificação Integrada de
Fases de Segurança Alimentar (IPC), declarou oficialmente a fome generalizada
em Gaza, com centenas de milhares afetados.
Se você acha que nada disso é motivo suficiente para defender Palestina Livre do estado sionista de Israel, mas se considera uma pessoa laica, você deveria se interessar pela defesa do Estado Palestino.
Quando falamos em Palestina Livre, muita gente pensa que estamos falando de um problema distante, do outro lado do mundo. Mas a verdade é que a luta palestina toca diretamente a vida política e democrática do Brasil. Defender a Palestina, além de ser a balança moral de nosso tempo, ultrapassa a ideia de solidariedade internacional: é também um gesto de proteção ao nosso Estado laico.
O que está em jogo? Israel se apresenta como “Estado judeu”, sustentado por um conjunto de leis que dão privilégios aos judeus e colocam os palestinos em condição de segunda classe. A Lei do Retorno (1950) garante cidadania a qualquer judeu do mundo, mas nega o mesmo direito a palestinos expulsos em 1948. A Lei da Nakba (2011) proíbe financiamento a instituições que lembrem a expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas terras. E as chamadas Leis de Emergência permitem prisões sem julgamento e restrições de direitos a árabes-palestinos
Trata-se de um Estado confessional, que não separa religião de política.
É justamente esse modelo que inspira setores empresariais do neopentecostalismo brasileiro ligados à chamada teologia do domínio. Essa corrente defende que os cristãos devem “conquistar” todas as áreas da sociedade, da política à economia, da mídia à educação para moldar o país segundo a Bíblia. Não basta ter liberdade de culto; o objetivo é transformar o Brasil em um “Estado cristão”. Quando exaltam Israel, esses grupos não estão falando apenas de geopolítica: estão apontando o caminho de um projeto de poder religioso no Brasil.
Defender a Palestina Livre, portanto, é mais do que denunciar a ocupação, o extermínio e a opressão de um povo. É também dizer que nenhum Estado deve ser construído sob a supremacia de uma religião. No Brasil, significa proteger a democracia da bancada da bíblia e garantir que o futuro não seja de cidadanias de primeira e segunda classe, mas de igualdade plena, independentemente da fé de cada um..
A laicidade do Estado brasileiro, princípio que garante liberdade religiosa, pluralismo e direitos iguais, estará em risco a partir do momento em que o pensamento de uma determinada corrente religiosa virar lei. Apoiar a Palestina, pedir Palestina Livre, defender que a Palestina Histórica volte às mãos de seu povo por direito, também significa afirmar que queremos um Brasil democrático, plural e livre de projetos de poder que confundem púlpito com parlamento.
Tirando fanáticos religiosos, religiosos-empresariais com claro interesses escusos, toda pessoa que considere a necessidade de vivermos em uma nação laica, deve e precisa defender a Palestina Livre do rio ao mar.
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