Marielle Franco
homenageada no desfile da Mangueira em 2019
Com a vitória, a agremiação foi alvo de críticas e acusações. Por isso, o
início do samba-enredo pode ser visto como uma resposta da Mangueira,
falando sobre o quanto a escola permanece firme, forte e unida, sem se deixar
abalar pelas más línguas.
Além disso, a letra é narrada em primeira pessoa por Jesus Cristo.
Portanto, isso também significa que a Mangueira tem a bênção de Cristo.
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no Buraco Quente
Meu nome é Jesus da Gente
A explicação para a estrofe acima é dada no texto de apresentação do
samba-enredo.
Misturando a história bíblica com a versão imaginada por Leandro
Vieira, a letra lembra que a imagem de Jesus Cristo preso na cruz
representa todos nós. Logo, ele não pode ser retratado apenas como uma
figura branca e masculina.
Já o verso moleque pelintra no Buraco Quente, traz
uma ambiguidade: o moleque pelintra, tanto pode ser o menor de idade
maltrapilho que anda pelo Buraco Quente, local onde a Mangueira foi fundada,
quanto uma referência a Zé Pelintra, entidade da Umbanda.
De qualquer forma, o que a composição afirma é que Jesus Cristo
é homem, é mulher, é negro, é indígena e pode ter qualquer religião. Na
versão moderna, ele é Jesus da Gente, nascido na Mangueira.
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
A história de Jesus da Gente traz referências às lutas de minorias por
direitos civis. O punho cerrado, por exemplo, é um símbolo de resistência muito
empregado por movimentos sociais.
A composição nos lembra, ainda, as origens humildes do Jesus bíblico, compartilhadas
por muitas pessoas nas favelas e periferias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário