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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

2016 começou... e aí?



O ano que começou é o de 2015, lógico, mas o ano político que se inicia após as eleições nacionais é o de 2016, o ano das eleições municipais. O quadro que se "desenha" passa necessariamente pelo desenho aí de cima, ou seja, vai passar pelas ações da senhora Prefeita de Ribeirão Preto.
Em 2008, Dárcy Vera se elegeu pelo DEM (na época o partido de Gilberto Kassab), com um grande apoio do governador José Serra (o criador de Kassab, que assumiu como Prefeito quando Serra deixou a Prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo do Estado em 2006). No arco de alianças da então candidata, além dos pequenos PPS e PV, estava o PMDB (com o bonfinense Marinho Sampaio na Vice). O principal adversário foi o PSDB (dos adversários internos Gasparini e Nogueira). Naquele momento, e pela direita, Dárcy substituía o PT na parceria com o PMDB formada em 2000, na eleição de Palocci. Esse quadro embaralhava muito as coisas, pois Dárcy era próxima de Serra mas inimiga dos tucanos locais, e o PMDB, eminência parda nos governos da cidade desde 2000, ficava, também, numa situação dúbia: Baleia, o chefe local, apoiava o governador e era adversário do PSDB local.
De 2008 para 2012, Dárcy ( que nunca se deu bem com o chefe de Nogueira, Alckmin) acompanhou o movimento político do seu líder, Gilberto Kassab, saindo da esfera de influência tucana para a esfera de influência lulo-dilmista. Mudou do DEM para o então criado PSD. Esse movimento de Dárcy deixou mais clara uma disputa política, comandada pela elite de Ribeirão Preto, que se repete desde a década de 70: o campo conservador de Gasparini e Nogueira-pai/Nogueira-filho ( que se formou na ARENA e se mantém no PSDB) e um campo dito mais "progressista" (iniciado por João Gilberto Sampaio no MDB e continuado por Palocci e por Dárcy). Reparem que ambos os campos têm o apoio da elite, nunca deixaram de ter ( talvez exceto o primeiro governo Palocci, onde a elite teve que engolir certas medidas populares com as quais ela, elite, nunca concordou ). Mas, seja num governo mais à esquerda ou mais à direita, sempre estarão no seu cerne a ACI, as empreiteiras e a turma da bufunfa. Ribeirão é uma cidade restrita a uma minoria poderosa.
O fato novo de 2016 é a ida de Gilberto Kassab para o poderoso Ministério das Cidades. Dárcy, que já conta com polpudas verbas do PAC para a mobilidade urbana, terá praticamente dois anos para atuar junto ao seu chefe político por verbas de um ministério que mexe com obras que impactam diretamente a vida da população. E isso é um instrumento muito valioso. Hoje a Prefeita é, até por méritos, um saco de pancadas. Todo mundo bate. São diversos os programas de TV, apelativos, estilo Datena, financiados por interesses, que surram a Prefeita todo dia. Até o PMDB bate. Mas isso pode mudar. E aí, como fica?
Na esfera próxima da Prefeita não há nenhum candidato à altura. Seus dois braços mais fortes, o Secretário Luchesi Júnior e o eterno Superintendente da Transerp Willian Latuf, não são braços tão fortes para encabeçarem uma campanha a Prefeito. Na Câmara também não há quem se destaque. Então sobra quem? Bom, só sobra o PMDB. Por mais que se olhe em volta ou que se espere uma cartada mágica da Prefeita, tudo aponta para a candidatura de Baleia Rossi, inclusive fortalecido por sua boa eleição para deputado Federal. E Baleia tem muito dinheiro para essa empreitada.
Do outro lado estará o campo mais conservador, encabeçado por Nogueirinha, do PSDB. Esse é o embate que se anuncia. Aliás, um embate que tem história. Entre 1970 e 1989 Gasparini e o pai do Nogueirinha se revezaram na Prefeitura, seja na Arena, seja do PDS, enfim. E do outro lado estavam Gilberto Sampaio e João Cunha, do PMDB. Portanto, senhores, a história não muda. Enquanto isso, os pequenos partidos vão se assanhar em torno desse centro em disputa, com o objetivo de manter seus espaços de poder, leia-se: cargos.
Aí você pode se questionar: mas então Ribeirão não sai nunca dessa armadilha?
Não, meu caro, não sai.
Palocci e Dárcy Vera foram dois expoentes populares que não conseguiram romper com essa realidade para criar em Ribeirão um novo e diferente campo político. Continuamos e continuaremos nas mãos dos mesmos. Somos uma cidade de 600 mil moradores, com 228 bairros (51 na zona norte, 61 na zona leste, 67 na zona oeste e 49 na zona sul e Bonfim), com cerca de 80% da população morando em bairros populares ( onde falta de tudo ) e continuaremos a ser governados pela minoria que detém o poder econômico. Ribeirão é uma cidade social e politicamente excludente ( e isso será assunto de outros artigos ). Somente uma nova onda política, com base popular e no movimento de massas, com uma visão estratégica e futurista da cidade pode representar coisa nova. E isso, sinceramente, está longe de acontecer.

Obs: E o PT? Bom, o PT em Ribeirão Preto não escapa à realidade do PT no Estado de São Paulo: precisa se reconstruir. Por aqui, o PT teve o poder, teve um líder popular, mas hoje é um partido que participa da luta política fora do embate central. Na campanha presidencial quem veio a Ribeirão Preto pedir voto e "unir a militância" foi o vice Michel Temer. E no encontro com Temer eram os militantes peemedebistas que davam as cartas, a histórica militância petista era secundária no ato. O PT foi o único partido em Ribeirão que ousou propor coisas novas (e falarei sobre elas num artigo específico), mas foi derrotado no tempo. Hoje seus candidatos mais fortes terão que suar para se elegerem ou se reelegerem vereadores (apesar do bom trabalho que fazem). Caberá ao partido lançar de novo um candidato coringa, caberá se somar com a turma do Baleia ou se lançar numa aventura apoiando o jovem Ricardo Silva. É aguardar. Acho que mais do que tudo, o PT de Ribeirão tem que seguir o caminho desenhado recentemente por Lula: se reaproximar do movimento de massas e enfrentar com coragem a estrutura dominante com um discurso diferente e inovador, não há outro jeito.

Ricardo Jimenez


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