Fotos: Filipe Peres
Evento da Frente Mulheres pela Democracia, de Rib. Preto, traz o papel subversivo dos feminismos ao romper as fronteiras da normatividade. A desconstrução pela via da psicologia social foi a primeira discussão e contou com a presença de Ana Bock
Por Juliana Mello Souza*
O movimento feminista em Ribeirão Preto deixa de ser tímido e, ao que tudo indica, ganha fôlego e se move. É um movimento que, muito embora haja algumas poucas fissuras de representatividade, discute, problematiza e atua. E atua num trabalho de base consistente e engajado, criando reais possibilidades de empoderamento das mulheres envolvidas.
Um destes movimentos é a Frente Mulheres pela Democracia, recentemente criado por jovens mulheres, dos mais diversos segmentos, com forte compromisso social, sobretudo pela redução das assimetrias de gênero e da desigualdade social.
A primeira iniciativa de discussão foi realizada no último sábado (dia 20/08), num dos espaços voltados à cultura de resistência em Ribeirão, o Armazém Baixada. O tema "Mulheres, Saúde Mental e Capitalismo" foi convidativo e muito bem conduzido pela sua figura principal, a Profa. Doutora em Psicologia Social Ana Maria Mercês Bock.
Bock abriu o encontro pautando o caráter misógino do golpe em curso no Brasil e de como a cultura patriarcal no país é permissiva quanto à representatividade assimétrica e machista das mulheres na política, nomeadamente na figura da presidenta Dilma Rousseff. A partir deste ponto, Bock explicou de que forma as insituições - com destaque para a mídia - constrói uma narrativa que reproduz a violência contra (o protagonismo das) as mulheres.

"As desvalorizações decorrentes destes arquétipos são frutos de uma moralidade hegemônica do próprio sistema capitalista, patriarcal e excludente em sua essência. A (re)produção de uma certa normalidade do ponto de vista psicológico traz profundos riscos para as minoriais sociais, como, por exemplo, as mulheres", explicou Bock. Assim, a invisibilidade produzida nestas relações sociais, complementa a psicóloga, contribui para o desenvolvimento e o agravamento de sérias patologias.
O panorama é complexo, mas há saídas possíveis. Uma delas, como defende Ana Bock, é pela via do diálogo que promove a subversão da normalidade e da moralidade hegemônicas das nossas relações sociais.
O encontro ainda contou com um Sarau Anti-Capitalista colaborativo. Mulheres, de diferentes idades e com diferentes linguagens, narraram as suas experiências e expectativas com poesia, música e outras formas de expressão que, como frisou Bock, vêm para desconstruir as fronteiras normativas da linguagem e, assim, moverem-se.
Juliana Mello Souza
Jornalista e Doutora em Linguagens, Comunicação e Estudos das Mulheres pela Univ. de Coimbra | Portugal
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