À Feira Popular da Agricultura Familiar e Economia Solidária
me chamo maria, e caminho
tenho outros
não tenho ouro,
tenho morada,
já não tive
com as minhas companheiras
como as minhas companheiras
tenho os pés no chão, a mão na enxada,
o coletivo me abraça
e carrego a esperança,
de fazer ouvir minha voz rouca
minha mão pesada
calejada
a cidade me atravessa como faca,
a vida me atravessa como faca
os muros me dizem onde não posso pisar,
os prédios se erguem,
frio, gigante
a especulação imobiliária quer me concretar
mas eu como faca se for preciso
derrubo o muro se for preciso
e precisa eu sigo,
nós seguimos
nos seguimos
porque sou eu quem levanta o dia,
sou eu quem faz girar o moinho da vida
me chamam maria, e muitos já chamaram,
o suor que deixamos no chão não se apaga,
cada rosto, cada passo, cada chama
um sol para cada uma de nós
Ilumina, lamina
mas lâmina em terra seca
fazemos água
nas feiras me reuno com outras marias,
minhas mães mãos Maria
da terra
de terra
trocamos nosso pão
trocamos nossas histórias,
sementes sem patrão,
sem dono, sem mestre
a força que vem do alto, vem do chão,
e o chão para quem trabalha
vejo as máquinas, as fábricas,
monarcas neoliberais…
latifúndios indo fundo com seu capataz
os homens que mandam e matam tentam fazer da vida um número,
uma coisa,
mas somos pedra, somos raiz,
flor esta:
floresta
não passaremos despercebidas
em nossa mão solidária
planta
árvore
linha e estrato
alimentamos o mundo
nosso suor transforma
forma sulcos na terra
direções em autogestão coletiva
atóxica
alinhada
desalienada
desalinhada do modus operandi capitalista
grão nesse campo duro
eu maria
grão
encontro encontros
marias
e como grão
de grão em grão
me espalho
me espelho
me espelho
em minhas marias
e marias
de grão em grão
espelhadas em amares
espelhadas em amares
nos amamos
nos espalhamos
nos espalhamos
como grãos
e desatamos os nós
e desatamos os nós
(e porque nos amamos)
as correntes que nos prendem
e germinamos em meio ao concreto,
contra toda a forma de fome que nos fazem
as correntes que nos prendem
e germinamos em meio ao concreto,
contra toda a forma de fome que nos fazem
além-comida amamos
à justiça, à liberdade real
à justiça, à liberdade real
socialista
ao pão nosso de cada dia
chão nosso de cada dia
me chamo maria e caminho,
não somos mercadoria, nem números,
nem sombras,
antes
faísca que informa,
árvore que renasce e rompe asfalto,
desgosto aos inimigos
árvore que rompe incêndio
ao pão nosso de cada dia
chão nosso de cada dia
me chamo maria e caminho,
não somos mercadoria, nem números,
nem sombras,
antes
faísca que informa,
árvore que renasce e rompe asfalto,
desgosto aos inimigos
árvore que rompe incêndio
mundo que insiste em florescer.
Filipe Augusto Peres
A Feira Popular da Reforma Agrária acontece todos os sábados, das 07 às 14 horas, no espaço do CEAGESP Armazéns, localizada na Rua Acre, 1300, Bairro Ipiranga, em Ribeirão Preto/SP.
2 comentários:
Parabéns a nós produtoras guerreiras que todos os dias estamos de pé pra produzir alimentos saudáveis pra nossa família da cidade
PARABÉNS A TODOS E TODAS GUERREIROS (A) ,,,PARABENS FELIPE SIMPLEMENTE LINDO AMEI ..GRATIDÃO SEMPRE PELA PARCERIA ...ABS
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