Experiências de implantação de Sistemas Agroflorestais nos assentamentos do MST. Foto: Arquivo MST/Filipe Augusto Peres |
Relatório da FAO destaca a urgência de substituir as práticas do agronegócio (monoculturas e agrotóxicos) por práticas regenerativas que promovam saúde, biodiversidade e resiliência climática
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou nesta terça-feira (12) o relatório "O Estado da Alimentação e da Agricultura 2024".
O relatório analisa
os desafios e as soluções para transformar os sistemas agroalimentares globais.
Além
de propor estratégias para equilibrar sustentabilidade, equidade e resiliência
em um cenário de crescente insegurança alimentar global, o documento destaca a
necessidade de contabilizar os custos escondidos associados a esses sistemas,
como impactos ambientais, sociais e de saúde,
De
acordo com o relatório, os custos escondidos gerados pelos sistemas
agroalimentares ultrapassaram US$ 10 trilhões em 2020.
"Os custos ocultos dos sistemas agroalimentares,
incluindo impactos ambientais, sociais e de saúde, são estimados em mais de US$
10 trilhões anualmente. Esses custos, não contabilizados nos preços de mercado,
sobrecarregam ecossistemas e populações vulneráveis".
Entre
esses custos, o texto destaca os problemas de saúde pública relacionados à má alimentação,
como obesidade, diabetes e desnutrição, os quais sobrecarregam os sistemas de
saúde e reduzem a produtividade global.
"Dietas inadequadas são responsáveis por um
aumento significativo de doenças crônicas e custos associados ao sistema de
saúde global, que ultrapassam bilhões de dólares anualmente".
O
relatório propõe uma classificação dos sistemas agroalimentares em seis
categorias: crise prolongada, tradicional, em expansão, diversificado, em
formalização e industrializado.
"A tipologia desenvolvida pela FAO classifica os
sistemas agroalimentares em seis categorias, permitindo intervenções adaptadas
a diferentes contextos regionais e econômicos."
A reforma agrária como
alternativa ao latifúndio
Latifúndio é fome
Mesmo
sem citar diretamente, o relatório da FAO reconhece a necessidade de se
combater a concentração de terras, de modo a promover sistemas agroalimentares
mais sustentáveis.
O
texto afirma que a concentração fundiária limita o acesso de pequenos
agricultores a recursos essenciais, dificultando a adoção de práticas agrícolas
sustentáveis e a diversificação da produção.
Além
disso, a distribuição desigual de terras é entendido como uma contribuição para
a insegurança alimentar, perpetuando, desta forma, as desigualdades sociais e
econômicas nas áreas rurais.
O
relatório sugere que políticas de reforma agrária e governança fundiária
inclusiva são fundamentais para garantir que comunidades locais participem
ativamente na gestão e uso sustentável dos recursos naturais. Ao abordar a
concentração de terras, é possível fomentar a resiliência dos sistemas
agroalimentares e promover o desenvolvimento rural sustentável.
“A governança
fundiária inclusiva e o apoio aos pequenos produtores são elementos essenciais
para reduzir desigualdades rurais, promover práticas agrícolas sustentáveis e
garantir que os benefícios da transformação agroalimentar sejam amplamente
distribuídos. Sem essas medidas, a concentração de terras continuará a limitar
a capacidade de comunidades locais em participar de forma significativa na
gestão de recursos e na adoção de inovações sustentáveis.”
A agrofloresta como
alternativa à monocultura
FAO destaca o papel da produção agroflorestal como alternativa à monocultura
O
texto afirma que sistemas diversificados possuem maior flexibilidade para
adotar práticas sustentáveis, destacando a a agrofloresta devido ao respeito ambiental
e ao combate às desigualdades no acesso a alimentos saudáveis.
E
Afirma ser a agrofloresta uma solução viável para muitos dos problemas
estruturais dos sistemas alimentares, uma vez que o modelo de produção combina
árvores, culturas agrícolas e pecuária, oferecendo benefícios econômicos,
ambientais e sociais.
"A agrofloresta é uma abordagem sustentável que
combina a produção de alimentos com benefícios ambientais, como a restauração
de ecossistemas, sequestro de carbono e preservação da biodiversidade."
Outro
ponto destacado em relação a produção agroflorestal foram que estas práticas aumentam a resiliência das colheitas frente a
secas e inundações, auxiliando na adaptação às mudanças climáticas.
"Sistemas agroflorestais aumentam a resiliência
das colheitas frente a secas e inundações, oferecendo uma estratégia de
adaptação crítica em face das mudanças climáticas."
A
promoção de uma alimentação saudável foi outro ponto central do relatório. De
acordo com a FAO, atualmente, cerca de 3 bilhões de pessoas não têm condições
de acessar uma dieta equilibrada.
"Cerca
de 3 bilhões de pessoas no mundo não têm condições econômicas ou acesso
logístico para consumir uma dieta saudável, contribuindo para níveis crescentes
de desnutrição e doenças relacionadas à má alimentação".
Para
enfrentar esse desafio, a FAO sugere uma série de intervenções, como subsídios
para alimentos saudáveis, tributação de alimentos ultraprocessados, educação
alimentar e rotulagem nutricional clara.
"Políticas fiscais, subsídios para alimentos
saudáveis e campanhas de conscientização podem reverter a tendência de consumo
excessivo de alimentos ultraprocessados e promover escolhas mais sustentáveis e
nutritivas."
Crítica à
monocultura e ao uso de agrotóxicos
O modelo de produção baseado em agrotóxicos é criticado em relatório
Outro
ponto abordado pelo relatório é a transformação das cadeias de suprimento
alimentar.
No
relatório, a FAO alerta para os impactos negativos do atual modelo de produção
baseado em monoculturas e insumos químicos intensivos e afirma que estes
degradam o solo, afetam a biodiversidade e aumentam a emissão de gases estufa.
"A dependência excessiva de monoculturas e insumos
químicos contribui para a degradação do solo, perda de biodiversidade e
emissões de gases de efeito estufa."
Valorização dos
mercados locais em detrimento das grandes cadeias
O
texto ainda sugere que práticas regenerativas, como rotação de culturas e
manejo integrado de pragas, aliadas ao fortalecimento de mercados locais, podem
oferecer uma alternativa sustentável.
"A transformação das cadeias alimentares exige a
implementação de práticas regenerativas, como rotação de culturas e manejo
integrado de pragas, além do fortalecimento de mercados locais."
O agronegócio é o grande problema
Embora
a necessidade de mudança seja clara, a FAO reconhece que a transformação dos
sistemas agroalimentares enfrenta interesses econômicos, políticos e culturais
muito fortes, o que desemboca em custos altíssimos às populações mais
vulneráveis.
"A transformação dos sistemas agroalimentares é
dificultada por barreiras econômicas, políticas e culturais, mas a inação pode
resultar em custos ainda maiores para populações vulneráveis e ecossistemas
globais."
Proposta de solução
Para
superar esses desafios, o relatório sugere a criação de parcerias
internacionais que promovam o diálogo entre governos, setor privado e sociedade
civil.
"Parcerias entre governos, setor privado e sociedade
civil são fundamentais para superar barreiras e implementar práticas que
promovam sustentabilidade, equidade e segurança alimentar."
O
relatório conclui que os sistemas agroalimentares globais podem evoluir para
equilibrar saúde, sustentabilidade e economia.
"Com uma abordagem integrada e investimentos
direcionados, os sistemas agroalimentares podem garantir alimentação saudável
para todos, preservar o meio ambiente e fortalecer economias locais,
alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável."
Tenha acesso ao relatório completo clicando aqui
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