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terça-feira, 12 de novembro de 2024

FAO critica monocultura, concentração de terras e o uso de agrotóxicos em relatório

 

Experiências de implantação de Sistemas Agroflorestais nos assentamentos do MST.
Foto: Arquivo MST/Filipe Augusto Peres

Relatório da FAO destaca a urgência de substituir as práticas do agronegócio (monoculturas e agrotóxicos) por práticas regenerativas que promovam saúde, biodiversidade e resiliência climática

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicou nesta terça-feira (12) o relatório "O Estado da Alimentação e da Agricultura 2024".

O relatório analisa os desafios e as soluções para transformar os sistemas agroalimentares globais.

Além de propor estratégias para equilibrar sustentabilidade, equidade e resiliência em um cenário de crescente insegurança alimentar global, o documento destaca a necessidade de contabilizar os custos escondidos associados a esses sistemas, como impactos ambientais, sociais e de saúde,

De acordo com o relatório, os custos escondidos gerados pelos sistemas agroalimentares ultrapassaram US$ 10 trilhões em 2020.

"Os custos ocultos dos sistemas agroalimentares, incluindo impactos ambientais, sociais e de saúde, são estimados em mais de US$ 10 trilhões anualmente. Esses custos, não contabilizados nos preços de mercado, sobrecarregam ecossistemas e populações vulneráveis".

Entre esses custos, o texto destaca os problemas de saúde pública relacionados à má alimentação, como obesidade, diabetes e desnutrição, os quais sobrecarregam os sistemas de saúde e reduzem a produtividade global.

"Dietas inadequadas são responsáveis por um aumento significativo de doenças crônicas e custos associados ao sistema de saúde global, que ultrapassam bilhões de dólares anualmente".

O relatório propõe uma classificação dos sistemas agroalimentares em seis categorias: crise prolongada, tradicional, em expansão, diversificado, em formalização e industrializado.

"A tipologia desenvolvida pela FAO classifica os sistemas agroalimentares em seis categorias, permitindo intervenções adaptadas a diferentes contextos regionais e econômicos."

A reforma agrária como alternativa ao latifúndio

Latifúndio é fome
Foto: Arquivo MST/Filipe Augusto Peres

Mesmo sem citar diretamente, o relatório da FAO reconhece a necessidade de se combater a concentração de terras, de modo a promover sistemas agroalimentares mais sustentáveis.

O texto afirma que a concentração fundiária limita o acesso de pequenos agricultores a recursos essenciais, dificultando a adoção de práticas agrícolas sustentáveis e a diversificação da produção.

Além disso, a distribuição desigual de terras é entendido como uma contribuição para a insegurança alimentar, perpetuando, desta forma, as desigualdades sociais e econômicas nas áreas rurais.

O relatório sugere que políticas de reforma agrária e governança fundiária inclusiva são fundamentais para garantir que comunidades locais participem ativamente na gestão e uso sustentável dos recursos naturais. Ao abordar a concentração de terras, é possível fomentar a resiliência dos sistemas agroalimentares e promover o desenvolvimento rural sustentável.

“A governança fundiária inclusiva e o apoio aos pequenos produtores são elementos essenciais para reduzir desigualdades rurais, promover práticas agrícolas sustentáveis e garantir que os benefícios da transformação agroalimentar sejam amplamente distribuídos. Sem essas medidas, a concentração de terras continuará a limitar a capacidade de comunidades locais em participar de forma significativa na gestão de recursos e na adoção de inovações sustentáveis.”

A agrofloresta como alternativa à monocultura

FAO destaca o papel da produção agroflorestal como alternativa à monocultura
Foto: Arquivo MST/Filipe Augusto Peres

O texto afirma que sistemas diversificados possuem maior flexibilidade para adotar práticas sustentáveis, destacando a a agrofloresta devido ao respeito ambiental e ao combate às desigualdades no acesso a alimentos saudáveis.

E Afirma ser a agrofloresta uma solução viável para muitos dos problemas estruturais dos sistemas alimentares, uma vez que o modelo de produção combina árvores, culturas agrícolas e pecuária, oferecendo benefícios econômicos, ambientais e sociais.

"A agrofloresta é uma abordagem sustentável que combina a produção de alimentos com benefícios ambientais, como a restauração de ecossistemas, sequestro de carbono e preservação da biodiversidade."

Outro ponto destacado em relação a produção agroflorestal foram que estas práticas  aumentam a resiliência das colheitas frente a secas e inundações, auxiliando na adaptação às mudanças climáticas.

"Sistemas agroflorestais aumentam a resiliência das colheitas frente a secas e inundações, oferecendo uma estratégia de adaptação crítica em face das mudanças climáticas."

A promoção de uma alimentação saudável foi outro ponto central do relatório. De acordo com a FAO, atualmente, cerca de 3 bilhões de pessoas não têm condições de acessar uma dieta equilibrada.

 "Cerca de 3 bilhões de pessoas no mundo não têm condições econômicas ou acesso logístico para consumir uma dieta saudável, contribuindo para níveis crescentes de desnutrição e doenças relacionadas à má alimentação".

Para enfrentar esse desafio, a FAO sugere uma série de intervenções, como subsídios para alimentos saudáveis, tributação de alimentos ultraprocessados, educação alimentar e rotulagem nutricional clara.

"Políticas fiscais, subsídios para alimentos saudáveis e campanhas de conscientização podem reverter a tendência de consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e promover escolhas mais sustentáveis e nutritivas."

Crítica à monocultura e ao uso de agrotóxicos

O modelo de produção baseado em agrotóxicos é criticado em relatório
Foto: Arquivo MST/Filipe Augusto Peres

Outro ponto abordado pelo relatório é a transformação das cadeias de suprimento alimentar.

No relatório, a FAO alerta para os impactos negativos do atual modelo de produção baseado em monoculturas e insumos químicos intensivos e afirma que estes degradam o solo, afetam a biodiversidade e aumentam a emissão de gases estufa.

"A dependência excessiva de monoculturas e insumos químicos contribui para a degradação do solo, perda de biodiversidade e emissões de gases de efeito estufa."

Valorização dos mercados locais em detrimento das grandes cadeias

O texto ainda sugere que práticas regenerativas, como rotação de culturas e manejo integrado de pragas, aliadas ao fortalecimento de mercados locais, podem oferecer uma alternativa sustentável.

"A transformação das cadeias alimentares exige a implementação de práticas regenerativas, como rotação de culturas e manejo integrado de pragas, além do fortalecimento de mercados locais."

O agronegócio é o grande problema

Embora a necessidade de mudança seja clara, a FAO reconhece que a transformação dos sistemas agroalimentares enfrenta interesses econômicos, políticos e culturais muito fortes, o que desemboca em custos altíssimos às populações mais vulneráveis.

"A transformação dos sistemas agroalimentares é dificultada por barreiras econômicas, políticas e culturais, mas a inação pode resultar em custos ainda maiores para populações vulneráveis e ecossistemas globais."

Proposta de solução

Para superar esses desafios, o relatório sugere a criação de parcerias internacionais que promovam o diálogo entre governos, setor privado e sociedade civil.

"Parcerias entre governos, setor privado e sociedade civil são fundamentais para superar barreiras e implementar práticas que promovam sustentabilidade, equidade e segurança alimentar."

O relatório conclui que os sistemas agroalimentares globais podem evoluir para equilibrar saúde, sustentabilidade e economia.

"Com uma abordagem integrada e investimentos direcionados, os sistemas agroalimentares podem garantir alimentação saudável para todos, preservar o meio ambiente e fortalecer economias locais, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável."

Tenha acesso ao relatório completo clicando aqui


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