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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Fantasmagoria

 

Fantasmagoria (Iberê Camargo)

arranham-se os corpos no azul espesso,
não são homens, não são deuses,
são espectros de carne ralada na espátula do tempo

um carrega o peso do agro morto,
bois empedrados nos ombros,
não mastiga, não reparte,
apenas acumula desertos latifúndios

outro risca o ar com números,
o pão se desmancha em raio distante,
o café em miragem,
o feijão em senha indecifrável

cálculo:
a faca que sempre corta as mesmas bocas:
operárias

camponesas

o terceiro sopra moedas
como ferrugem suspensa
na mão do banqueiro: tormenta dourada
na mão da costureira: poeira que some


no centro 

um sapo de carne pouca ferve

uberizado
não sabe da chama lenta que o devora

tudo pulsa em círculos,
tudo lateja em azul e negro,
os fantasmas dançam
uma liturgia de ossos e fumaça

                                                                                mas nas ruas,

aos poucos

brisa                                            a                                         brisa
um outro sopro se ergue:
vozes riscadas na noite,
punhos que rasgarão                                                       o espectro,

                                                matéria 

viva contra a fantasmagoria do capital.


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