José de Calasanz abriu uma porta em Trastevere:
duas salas pobres, crianças de rua,
a primeira escola gratuita da Europa.
As elites tremeram.
“Educação para os nossos filhos”,
e lançaram o veneno da calúnia,
reduziram sua obra,
tentaram apagá-lo do mapa.
séculos depois, o mesmo refrão:
cada vez que o povo aprende a ler,
os donos do poder perdem o sono
e tentam, incomodados,
boicotar o sonho
na Espanha do século XVII,
na América Latina do século XXI,
os nomes mudam,
mas o medo segue o mesmo
a pobreza não os assusta
(nunca se incomodaram com o que os torna ricos)
mas a palavra escrita em outras mãos
que não a deles
ou a palavra compartilhada
a partir de não doutrinados
em suas academias
e institucionalidades
temem:
o verbo-martelo
ação pela foice,
a leitura desarma-coronéis,
a conta que reparte os latifúndios
e combate o dogma capitalista
temem
Calasanz morreu sem ver sua vitória,
como tantos outros que plantaram escolas
em territórios de silêncio
sua herança:
cada caderno aberto na periferia
como um ato de guerra contra os senhores
é verdade
as elites continuam rindo nos banquetes,
e tem seus representantes no meio de nós
que repetem, sem vergonha,
a velha canção de manutenção
“Educação não é para todos”
“escola não é para todo mundo”
ou que o tempo já passou
e que não vale à pena
o plantão noturno
nós, porém, sabemos:
uma sala de trabalhadoras
com dez cadeiras de madeira
vale mais que todos os palácios
e quando um trabalhador
e quando uma trabalhadora
escreve seu nome sem pedir licença,
a Terra inteira respira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário