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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Filme resgata história de Madre Maurina, religiosa presa e torturada durante a ditadura militar

 

Atividade trouxe para a exibição em torno de 100 pessoas
Fotos: @filipeaugustoperes 

Atividade teve como objetivo debater sobre a necessidade, junto à sociedade, de se transformar o Lar Santana em um memorial da resistência 

Na noite desta terça-feira (5), o portão do antigo Lar Santana, na Vila Tibério, em Ribeirão Preto, transformou-se em sala de cinema e arena de memória. Foi exibido ali, ao ar livre e gratuitamente, o documentário “Maurina – O Outono Que Não Acabou”, de Gabriel Silva Mendeleh, que resgata a trajetória da única freira brasileira presa e torturada durante a ditadura militar (1964–1985). A sessão foi acompanhada por moradores, militantes, educadores e jovens, e abriu espaço para uma roda de conversa com reflexões sobre justiça, memória e verdade.


O local da exibição não foi escolhido ao acaso: foi no Lar Santana que Madre Maurina viveu por muitos anos e de onde foi levada pelas forças repressoras do regime. A religiosa se tornou um dos rostos mais emblemáticos da resistência, denunciando, até seus últimos dias, as torturas cometidas nos porões da ditadura.


“Esse espaço precisa ser preservado como um memorial vivo da resistência do nosso povo. Não podemos permitir que vire uma secretaria ou seja engolido pelo abandono. Ele deve ser um espaço de memória, de luta e de justiça”, afirmou o advogado Vanderley Caixe Filho, integrante do coletivo que luta pela criação do Memorial da Resistência Madre Maurina . 




Caixe denunciou ainda o atual estado de degradação do prédio, que chegou a ser usado como arena de paintball, com conhecimento da Guarda Civil. 


“É inadmissível”, disse.


Vanderley também chamou atenção para a importância de se preservar a memória daquelas e daqueles que lutaram e tombaram por um outro modelo de sociedade em meio à ditadora militar.


“Preservar a história de Madre Maurina é preservar o direito de lembrar que o Brasil viveu um regime de terror. É impedir que o esquecimento abra espaço para a repetição”, disse Vanderley, emocionado. 


“E é também um compromisso com as gerações que ainda lutarão por um país mais justo.”


A proposta de transformar o Lar Santana em memorial vem sendo construída coletivamente. Na próxima segunda-feira, 11 de agosto, às 19:30, será realizada uma assembleia popular no próprio local para fundar o Instituto Memória, voltado à preservação histórica e à promoção de ações de educação e cultura. 


“Esse espaço pode se tornar algo único no Brasil: um memorial erguido num prédio que foi palco da resistência, e não da repressão”, destacou André Molinari, militante do Partido Comunista Revolucionário, durante o evento .



Para Molinari, enquanto outros memoriais foram criados em antigos centros de tortura, o Lar Santana é um símbolo de acolhimento e de cuidado, coordenado por uma mulher que, como Jesus Cristo, ousou desafiar os poderes de seu tempo. 


“Ela era uma revolucionária à sua maneira”, declarou.


A juventude também se fez presente. Júlia Giagio, representante do DCE da USP, integrante da UJR, lembrou da luta de estudantes como Áurea Moretti, também homenageada durante a noite. 


“A memória de Áurea e de Madre Maurina precisa estar viva. Ribeirão Preto não é uma cidade reacionária, como querem pintar. Ribeirão é uma cidade de luta, e essa história foi sistematicamente apagada”, afirmou .



Ainda segundo Júlia , o abandono do Lar Santana pela Prefeitura — há quase 11 anos sem função pública — reflete um projeto deliberado de apagamento da memória. 


“A tentativa de transformar esse prédio em um anexo da Secretaria de Educação é um gesto simbólico de silenciamento. É preciso resistir. Esse lugar deve ser um espaço para a juventude, para as universidades, para os movimentos sociais”.


O evento foi encerrado com aplausos e um chamado coletivo à mobilização. 





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