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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Formação Estadual da Jornada de Alfabetização discute papel do MST e da EJA na superação das desigualdades sociais

 

O MST coordena 2700 turmas de alfabetização em áreas de reforma agrária.
Fotos: @filipeaugustoperes

Em Valinhos (SP), Rubneuza Leandro, do Setor de Educação do MST, defendeu a educação de jovens e adultos como estratégia de transformação popular e apresentou dados que revelam a dimensão estrutural do analfabetismo no Brasil


Durante o primeiro dia da Formação Estadual da Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos nas Periferias, realizado nesta sexta-feira (8), no CEFOL, em Valinhos (SP), Rubneuza Leandro de Souza, do Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apresentou análise da realidade educacional brasileira e defendeu a alfabetização popular como ferramenta central na disputa por um projeto de país justo, democrático e igualitário.


Rubneuza iniciou contextualizando a atuação nacional do MST no campo da alfabetização. O movimento coordena atualmente mais de 2.700 turmas nas periferias urbanas e em áreas de reforma agrária, atendendo cerca de 40 mil jovens e adultos em processo de alfabetização pelo método Sim, eu posso.


Segundo Rubneuza, a educação de jovens e adultos (EJA), embora prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases como modalidade da educação básica, continua tratada pelo Estado como política compensatória e fragmentada. A educadora denunciou que, na maioria das vezes, os programas de alfabetização são descontinuados, sem garantia de escolarização completa, o que leva muitos estudantes a repetirem o ciclo de alfabetização diversas vezes. 


“A pessoa vira doutora em conceito, de tanto começar e nunca conseguir concluir”, relatou.


A dirigente ressaltou ainda o recorte social do analfabetismo, o qual atinge, de forma concentrada, populações negras, indígenas, pobres e periféricas — especialmente nas regiões Norte e Nordeste, 


No Sudeste, apesar do índice percentual ser menor (2,3% em estados como São Paulo), Rubneuza destacou que há bolsões invisibilizados de exclusão, como em favelas, ocupações e periferias afastadas.


Souza ainda defendeu que a educação promovida pelo MST é uma forma de disputar o imaginário popular e romper com o projeto histórico de negação do conhecimento. Inspirada em Paulo Freire, a militante reafirmou que a alfabetização deve unir leitura da palavra e leitura do mundo, promovendo não apenas a instrução, mas a formação crítica e a consciência de classe. 


“Não podemos tratar os educandos como quem deve receber papinha. Eles querem e precisam mastigar as contradições do mundo”, afirmou.


Estamos aqui para ocupar o latifúndio do saber


Denunciando a ofensiva neoliberal sobre a educação pública — marcada por meritocracia, privatização e individualismo —, Rubneuza destacou a importância da militância dos educadores populares: 


“Estamos aqui para ocupar o latifúndio do saber. A alfabetização é, para nós, um ato político, cultural e profundamente humano.”


Ao final de sua fala, convocou os educadores a irradiar esperança e reconstruir o gosto pelo estudo entre o povo trabalhador. 


“Nossa tarefa é fazer as pessoas voltarem a sonhar. Porque um povo que sonha é um povo que resiste — e transforma”, concluiu.




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