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O MST coordena 2700 turmas de alfabetização em áreas de reforma agrária. Fotos: @filipeaugustoperes |
Em Valinhos (SP), Rubneuza Leandro, do Setor de Educação do MST, defendeu a educação de jovens e adultos como estratégia de transformação popular e apresentou dados que revelam a dimensão estrutural do analfabetismo no Brasil
Durante o primeiro dia da Formação Estadual da Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos nas Periferias, realizado nesta sexta-feira (8), no CEFOL, em Valinhos (SP), Rubneuza Leandro de Souza, do Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apresentou análise da realidade educacional brasileira e defendeu a alfabetização popular como ferramenta central na disputa por um projeto de país justo, democrático e igualitário.
Rubneuza iniciou contextualizando a atuação nacional do MST no campo da alfabetização. O movimento coordena atualmente mais de 2.700 turmas nas periferias urbanas e em áreas de reforma agrária, atendendo cerca de 40 mil jovens e adultos em processo de alfabetização pelo método Sim, eu posso.
Segundo Rubneuza, a educação de jovens e adultos (EJA), embora prevista na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases como modalidade da educação básica, continua tratada pelo Estado como política compensatória e fragmentada. A educadora denunciou que, na maioria das vezes, os programas de alfabetização são descontinuados, sem garantia de escolarização completa, o que leva muitos estudantes a repetirem o ciclo de alfabetização diversas vezes.
“A pessoa vira doutora em conceito, de tanto começar e nunca conseguir concluir”, relatou.
A dirigente ressaltou ainda o recorte social do analfabetismo, o qual atinge, de forma concentrada, populações negras, indígenas, pobres e periféricas — especialmente nas regiões Norte e Nordeste,
No Sudeste, apesar do índice percentual ser menor (2,3% em estados como São Paulo), Rubneuza destacou que há bolsões invisibilizados de exclusão, como em favelas, ocupações e periferias afastadas.
Souza ainda defendeu que a educação promovida pelo MST é uma forma de disputar o imaginário popular e romper com o projeto histórico de negação do conhecimento. Inspirada em Paulo Freire, a militante reafirmou que a alfabetização deve unir leitura da palavra e leitura do mundo, promovendo não apenas a instrução, mas a formação crítica e a consciência de classe.
“Não podemos tratar os educandos como quem deve receber papinha. Eles querem e precisam mastigar as contradições do mundo”, afirmou.
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Estamos aqui para ocupar o latifúndio do saber |
Denunciando a ofensiva neoliberal sobre a educação pública — marcada por meritocracia, privatização e individualismo —, Rubneuza destacou a importância da militância dos educadores populares:
“Estamos aqui para ocupar o latifúndio do saber. A alfabetização é, para nós, um ato político, cultural e profundamente humano.”
Ao final de sua fala, convocou os educadores a irradiar esperança e reconstruir o gosto pelo estudo entre o povo trabalhador.
“Nossa tarefa é fazer as pessoas voltarem a sonhar. Porque um povo que sonha é um povo que resiste — e transforma”, concluiu.
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