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Método de alfabetização cubano alcançou mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo Fotos: @filipeaugustoperes |
Educadoras Paula França e Fran Magalhães apresentaram histórico do método cubano de alfabetização, que já alcançou mais de 10 milhões de pessoas em 30 países e tem transformado realidades em municípios brasileiros
Durante o primeiro dia da Formação Estadual da Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos nas Periferias, no CEFOL, em Valinhos (SP), as educadoras populares Paula França e Fran Magalhães, da equipe nacional do “Sim, Eu Posso”, apresentaram um panorama histórico e político do método de alfabetização de origem cubana que hoje inspira a construção de uma educação popular em diferentes territórios do Brasil.
As educadoras resgataram campanhas de alfabetização promovidas em Cuba (1961), Nicarágua (1980), Guiné-Bissau (1975), Venezuela (2003–2005) e Zâmbia (a partir de 2022) como experiências revolucionárias de erradicação do analfabetismo.
Logo após a revolução de 1959, em Cuba, com mais de 250 mil voluntários, educadores populares, mais de 1 milhão de pessoas foram alfabetizadas em um ano, reduzindo o analfabetismo de 1/4 da população para 3,9-%. Atualmente, apenas 0,1% da população.
Na Venezuela, sob o governo de Hugo Chávez, o país foi declarado território livre do analfabetismo em 2005, após a alfabetização de mais de 1,5 milhão de pessoas com apoio de educadores cubanos.
O método “Sim, Eu Posso” — criado a partir da experiência cubana e adaptado para mais de 30 países — já alfabetizou mais de 10 milhões de pessoas na América Latina, Caribe, África, Ásia e Europa. Ele é reconhecido pela Unesco e traduzido para idiomas como português, espanhol, francês, inglês, chinês, árabe e até braille.
No Brasil, a adoção do método pelo MST começou com experiências-piloto no Piauí, com mais de 80% de sucesso na alfabetização. A partir daí, o movimento expandiu a iniciativa para assentamentos e periferias em estados como Bahia, Ceará, Pernambuco, Pará, Paraná, Santa Catarina, Sergipe, Maranhão e Rio Grande do Norte. Um dos casos emblemáticos é o de Maricá (RJ), onde, entre 2022 e 2023, foram alfabetizadas mais de 1.800 pessoas, com metas de alcançar mais 700 educandos em 2025.
Paula e Fran destacaram que, além da alfabetização funcional, a jornada se propõe a desenvolver o pensamento crítico, despertar o gosto pelo estudo e promover transformação social e pessoal dos educandos. A metodologia freiriana é uma referência central:
“Não estamos em sala de aula para ensinar apenas símbolos e códigos, mas para provocar consciência, emoção e compromisso coletivo”, afirmou Fran.
Em Maricá, por exemplo, o processo inclui duas fases: uma de alfabetização inicial e outra de aprofundamento, com oito eixos temáticos (educação, saúde, agroecologia, habitação, gênero, raça, história, cultura e identidade), associados a gêneros textuais e conteúdos gramaticais.
“Eles não querem sair da jornada. Muitos querem fazer uma segunda, terceira, quarta vez. Criamos um vínculo afetivo e formativo profundo com os educandos”, relatou Paula.
Em suas falas, as educadoras também destacaram as turmas em formação nos municípios do interior paulista, ressaltando a importância da contextualização do conteúdo com a realidade de cada território.
“A alfabetização não é apenas um direito, mas uma porta de entrada para a dignidade, a cidadania e a transformação coletiva”, concluiu Paula França.
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