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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ato “Resistência Palestina” reúne uma centena em defesa da causa palestina

 

Ato Resistência Palestina encheu a UGT
Fotos: @filipeaugustoperes


Neste domingo (31), organizado pelo Comitê Permanente pela Causa Humanitária Palestina e o PCBR, o Memorial da Classe Operária, (UGT), em Ribeirão Preto, recebeu o ato “Resistência Palestina”, atividade que busca fortalecer a solidariedade internacional e dar visibilidade às vozes engajadas na defesa do povo palestino contra o genocídio perpetrado pelo Estado de Israel. O encontro teve a presença de lideranças políticas, jurídicas e sociais as quais denunciaram a invasão israelense e  afirmaram o apoio à luta pela libertação da Palestina. O ato foi mediado pela presidenta do Comitê Permanente Humanitário pela Causa Palestina, Fátima Suleiman.


Logo no início, o advogado Vanderlei Caixe e Gabriel Hoffman destacaram a ligação entre a resistência internacional e as lutas populares no Brasil.


Vanderlei Caixe: “A resistência palestina ecoa em nossa própria história”


Vanderlei Caixe

Advogado, integrante do Memorial da Resistência Madre Maurina Borges, coordenador da UGT, Vanderlei Caixe abriu sua fala lembrando a história do espaço onde o evento aconteceu, construído no final da década de 1920 por anarquistas e comunistas em regime de mutirão. 


“Esse prédio seria apagado da história negra e preta de Ribeirão Preto, não fosse, ironicamente, a destruição da Cerâmica da Saúde pelo Carrefour e, depois, a pressão popular que garantiu sua preservação”, relatou .


Caixe destacou a importância de ocupar e ressignificar espaços históricos de luta. Para Vanderlei, a resistência palestina é parte de um processo mais amplo: 


“O território palestino, ocupado desde os persas até os cruzados, e entregue de vez aos europeus pela Grã-Bretanha no século XX, continua em luta e resistência. Enquanto existir esse projeto racista e colonial, a Palestina permanecerá em pé” 


O militante destacou ainda que o evento tinha também caráter formativo. 


“É um momento muito importante de luta e de formação que podemos aproveitar na tarde de hoje”, disse, dando as boas-vindas ao público e preparando o espaço para as falas seguintes .


Gabriel Hoffman: “O povo dá vida novamente àquele espaço”




Na sequência, o jovem militante Gabriel Hoffman, da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), reforçou a conexão entre a luta palestina e a resistência local. 


“[...] essa causa é tão cara para nós que temos dado quase tudo o que podemos para ajudar”, afirmou .


Hoffman destacou que a solidariedade internacional se constrói junto das lutas populares brasileiras, e fazendo referência à ocupação do “Lar Santana”, em Ribeirão Preto, chamou atenção para a importância de se manter viva a memória da resistência contra a ditadura empresarial-militar. 


“Foi uma tentativa da elite de Ribeirão Preto de apagar a história de luta da cidade. Muitas pessoas tiveram suas vidas interrompidas pelo regime fascista de 1964, e hoje o povo dá vida novamente àquele espaço”, explicou .


Gabriel ainda lembrou que o antigo orfanato, antes cuidado por religiosas franciscanas, foi um lugar de acolhimento, estudo e alimentação para muitas crianças, e que hoje volta a ser ocupado por movimentos sociais. E aproveitou para convocar o público.


“Essa semana será intensa de atividades lá. Segunda-feira, às seis da tarde, vamos ter um curso de introdução à teoria marxista. Convido todos a participar” 


O jornalista Breno Altman, criador do portal Opera Mundi, conhecido por pela crítica ao sionismo e à invasão de Israel ao Estado Palestino, compôs a mesa, junto ao médico palestino Dr. Abdel Latif Hassan, a advogada Dra. Jamile Abdel Latif, a militante Ju Sieg, Fátima Suleiman, presidenta do Comitê Permanente pela Causa Humanitária Palestina e Ihab Abunima, médico de origem palestina, da Cisjordânia, recém chegado ao Brasil


Breno Altman


O ovo da serpente remete ao final do século XIX


O Sionismo é inimigo da humanidade 


Durante sua intervenção sobre o genocídio perpetrado pelo Estado de Israel sobre a Palestina, o jornalista Breno Altman detalhou as origens históricas e os desdobramentos atuais do conflito, defendendo que a compreensão do tema exige romper com visões superficiais e narrativas distorcidas.


Logo no início, Altman afirmou que não se trata de “um conflito religioso ou milenar”, mas de um processo histórico com origem definida: 


“Esse ovo da serpente está no final do século XIX, quando surge no seio do judaísmo europeu uma corrente chamada sionismo” . 


Breno afirmou que, diferentemente de movimentos de libertação nacional, o sionismo não buscava independência de um povo sobre seu território, mas a criação artificial de um Estado de supremacia étnica judaica em região habitada majoritariamente por outros povos.


De acordo com o jornalista, Theodor Herzl, considerado formulador do sionismo, propôs a fundação de um “Estado judeu” como saída para séculos de perseguição, mas essa visão foi minoritária dentro do próprio judaísmo até as décadas de 1930 e 1940. Altman destacou que, à época, a principal corrente entre os judeus não religiosos era o marxismo, que entendia a questão judaica como parte da luta contra o capitalismo. 


“O sionismo não foi uma solução natural, mas uma artificialidade apoiada por setores religiosos e, sobretudo, por interesses coloniais britânicos”, acrescentou .


Altman descreveu o desenvolvimento do projeto sionista em três etapas: primeiro o colonialismo de povoamento, baseado na compra de terras e imigração financiada pela burguesia judaica; depois, o colonialismo por segregação, com instituições exclusivas para judeus; e, por fim, a colonização violenta, marcada pela formação de milícias, as quais seriam a base das Forças Armadas de Israel em 1948 .


Ao comentar a fundação do Estado de Israel, o jornalista destacou que


“O Estado de Israel já nasceu como um Estado de apartheid, fundado sobre violência extrema e sobre a limpeza étnica que ficou conhecida como a Nakba


Altman rejeitou a ideia de que o problema estaria restrito a governos específicos, defendendo que a raiz do conflito está na própria estrutura sionista.


“Não é um raio em céu azul, é a continuidade de uma doutrina racista e colonial” .


Sobre as tentativas de negociação, Altman criticou os Acordos de Oslo, assinados em 1993. O jornalista disse que, mesmo quando liderado por setores moderados, como o trabalhismo de Yitzhak Rabin, Israel agiu para inviabilizar um Estado palestino. 


No dia seguinte à assinatura dos acordos, o regime sionista impulsionou a colonização para impedir qualquer possibilidade de soberania palestina” . 


Para Altman, ainda que taticamente a criação de um Estado palestino seja um avanço, a solução estrutural só virá com o fim do regime de supremacia étnica.


“Enquanto existir o sionismo, não haverá solução. Assim como não havia solução na África do Sul sob o apartheid” .


O jornalista também abordou a divisão entre Fatah e Hamas, situando-a no boicote internacional após a vitória eleitoral do Hamas em 2006. E lembrou que o grupo islâmico chegou a propor suspensão da luta armada e aceitação de um Estado palestino limitado, mas Israel, EUA e União Europeia impuseram bloqueios que culminaram na cisão política e no cerco total à Faixa de Gaza a partir de 2007 .


Altman reforçou que a violência contra Gaza antecede os ataques de 7 de outubro de 2023.


“O que ocorreu não foi um ataque, mas um contra-ataque a 16 anos de brutalidades genocidárias” . 


Segundo Breno, os bombardeios sistemáticos, a destruição da economia local e a morte de milhares de palestinos, em sua maioria mulheres e crianças, configuram um genocídio planejado. 


“Matar crianças e mulheres não é excesso, é cálculo para reduzir a capacidade reprodutiva do povo palestino”, denunciou .


Por fim, Altman chamou atenção para a manipulação ideológica que identifica antissionismo com antissemitismo. 


“Ser antissionista não é ser contra os judeus, assim como ser antifascista não era ser contra os italianos. O sionismo é uma corrente ideológica racista e colonial, e precisa ser combatido como inimigo da humanidade” .


Para Altman, a causa palestina é a grande “régua moral e geopolítica” do presente. “Se o povo palestino derrotar o regime sionista, será também um golpe mortal no sistema imperialista mundial”, concluiu 


Dr. Abdel Latif Hassan





Nascido em Belém. Intensivista, Dr. Abdel acumula décadas de atuação em defesa da Palestina e foi testemunha direta da Primeira Intifada, período de levante popular que marcou a resistência contra a ocupação israelense.


 “Israel pode matar nossas crianças, mas nunca matará nosso sonho”


Em sua fala, o médico palestino Dr. Abdel Latif Hassan trouxe ao público não apenas dados e análises, mas também a memória viva de sua família e de seu povo. 


“Estar aqui me traz tristes lembranças daqueles que já foram e nunca voltarão”, disse, recordando o pai e os avós, trabalhadores sem casa nem memorial .


Logo no início, destacou a essência da experiência palestina.


“Na vida de cada palestino existem duas certezas: a vitória da Palestina e a derrota do sionismo”


Para o médico, o genocídio atual não começou em outubro de 2023, mas remonta à fundação do Estado de Israel em 1948, quando mais de 530 aldeias foram destruídas, 15 mil pessoas mortas e mais de 80% da população expulsa de suas casas .


O médico comparou o presente ao passado.


“O que acontece em Gaza hoje já aconteceu há quase 70 anos. Em 1956, durante a ofensiva israelense apoiada pela Grã-Bretanha e pela França, milhares de civis foram mortos e tentaram expulsar toda a população. Falharam. Gaza tornou-se a maldição de Israel, como disse Ben-Gurion à época” .


A “inutilidade da vitória”


Latif também refletiu sobre as chamadas vitórias israelenses, classificando-as como ilusórias. Ele lembrou que, após a Guerra dos Seis Dias em 1967, alguns pensadores judeus advertiram sobre os riscos da ocupação permanente. Citou o filósofo Yeshayahu Leibowitz, que previu três fases: o êxtase nacionalista, o messianismo da ocupação e, por fim, a degradação moral de uma sociedade que oprime outro povo. 


“Estamos presenciando a realização dessa profecia”, afirmou. Para Latiff, a própria elite israelense já havia alertado para o perigo de uma sociedade fundada na injustiça .


O limite da força


Embora reconheça que Israel possui um dos exércitos mais poderosos do mundo, Latif insistiu que a força não garante vitória definitiva. 


Israel pode atacar Líbano, Síria, Irã, até o distante Iêmen. Mas para manter sua dominação precisa cada vez mais de violência. E depois de 7 de outubro, a máscara caiu. O mundo enxerga Israel como um Estado criminoso” .


O Dr. ainda destacou a contradição vivida pelas comunidades judaicas no exterior.


“O maior risco para os judeus não são os palestinos, mas Israel e suas políticas. A promessa de porto seguro transformou-se no lugar menos seguro para qualquer judeu” .


O sonho que não morre


Apesar da devastação em Gaza, com 80% dos prédios destruídos, hospitais e universidades arrasados e milhares de mortos, o médico reforçou a resiliência palestina. 


“Israel consegue matar nossas crianças, nossas mulheres, mas nunca vai conseguir matar nosso sonho. Para matar o nosso sonho precisariam matar milhões de pessoas ao redor do mundo que hoje se sentem palestinas de alma” .


E recordou que, em 3.500 anos de história, a Palestina foi ocupada 27 vezes, por assírios, babilônios, romanos, otomanos, entre outros impérios. 


Todos eles se foram, e a Palestina continua jovem como nunca”. Ao falar de sua terra, emocionou-se: “Choramos nossos mortos, mas nunca abaixamos a cabeça. Nosso olhar sempre estará voltado para o céu” .


A vitória da humanidade


Encerrando, Latif afirmou que a luta palestina não é apenas nacional, mas universal.


“Queremos uma Palestina livre do rio ao mar, mas livre de ocupação, racismo e apartheid. Um espaço onde judeus, muçulmanos e cristãos possam viver juntos, sem discriminação”. E concluiu com firmeza: “Não há mais espaço para racistas, nazistas e sionistas. A vitória da Palestina será a vitória da humanidade”


Dra. Jamile Abdel Latif



De origem palestina, membra da Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil) e representante do Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino de Campinas, a Dra. Jamile Abdel Latiff trouxe a perspectiva jurídica e organizativa da diáspora.


“Israel é uma coleção de mentiras”


A advogada palestina-brasileira Dra. Jamile Abdel Latif centrou sua fala na importância das palavras e da disputa de narrativas. 


“Como advogada, sei que as palavras têm muito mais poder do que as pessoas pensam”, afirmou . 


Para Jamile, a cobertura da mídia hegemônica, especialmente no Brasil, adjetiva de forma interessada: quando se refere ao Hamas, fala em “grupo terrorista”, mas jamais classifica Israel como praticante de “limpeza étnica” ou o povo palestino como sujeito de “resistência”.


A advogada destacou que a manipulação das palavras molda a opinião pública e lembrou que dois primeiros-ministros israelenses reconheceram que o próprio Estado de Israel nasceu do terrorismo.


“Explodindo, estuprando, expulsando, criando valas comuns. Essa é a história de Israel”


Para Jamile, desde a ideia de “terra sem povo” até a negação da existência palestina por Golda Meir em 1969, Israel consolidou sua narrativa sobre mentiras e cinismo. 


“Israel é uma coleção de mentiras”, resumiu .


Antissionismo não é antissemitismo


Jamile destacou que o problema dos palestinos nunca foi com o fato de o outro ser judeu, mas sim colono. 


“Se fosse português, falaríamos dos portugueses. Se fosse alemão, falaríamos dos alemães. O problema não é antissemitismo, é colonialismo”, pontuou. 


Para a Dra., Israel enterrou os valores do judaísmo, transformando-se no “túmulo do judaísmo”. 


“O judaísmo que produziu Einstein, Freud, Marx, Hannah Arendt e Buber é o anti-Israel”, afirmou .


A advogada citou o próprio David Ben-Gurion, fundador do Estado israelense, que teria reconhecido a mudança cultural.


“Com Israel morria o judeu filósofo e nascia o judeu guerreiro”


Essa transformação, segundo a advogada, revelou o caráter psicopata de uma sociedade que nega verdades evidentes, como a fome em Gaza. 


“Israel é uma mentira atrás da outra. Eles dizem: ‘não existe fome em Gaza’. Mas são os próprios generais israelenses que afirmam que Gaza deve morrer de fome”, denunciou .


Genocídio e decadência moral


Jamile também destacou a violência institucionalizada. Lembrou que, em 2016, um rabino do exército israelense chegou a defender o estupro de mulheres árabes como forma de “desestresse” dos soldados. E citou o caso recente de um chefe da inteligência cibernética israelense preso por pedofilia, que conseguiu retornar a Israel sem punição. 


“Olhem a decadência de Israel. Uma sociedade em que 76% apoia deixar palestinos morrerem de fome e mais da metade admite que é válido estuprar palestinos. Que moral existe nisso?”, questionou .


Jamile observou que cada vez mais vozes israelenses e judias denunciam os crimes de Israel, mas sofrem perseguições. 


“Quando um judeu denuncia Israel, imediatamente é atacado como antissemita. Isso é psicopatia coletiva”, declarou.


Palestina livre, do rio ao mar


A advogada frisou que a luta palestina não é pela expulsão de ninguém, mas pela construção de uma sociedade justa. 


“Quando falamos Palestina livre, do rio ao mar, não queremos expulsar nem matar ninguém. Queremos uma sociedade laica, democrática, de iguais direitos”, explicou, lembrando que essa foi a proposta já apresentada pela OLP em 1964 .


Latiff também expôs a contradição dos acordos internacionais. 


“Aceitamos a solução de dois Estados, mesmo sabendo que era injusta, limitada a 22% do território histórico. Nem isso Israel permitiu”


Para Jamile, a “farsa” das negociações mostra que Israel jamais teve compromisso com a paz.


“O sionismo é o anti-judaísmo”


No final, Jamile afirmou.


“O sionismo é o anti-judaísmo. É a negação do que somos”


Para a integrante da FEPAL, a resistência palestina é, acima de tudo, uma luta pela vida e contra a tentativa de transformar os palestinos em “vítimas perfeitas”, aquelas que morrem em silêncio. 


“Nós amamos a vida e queremos viver”, afirmou.


 Ju Sieg



Integrante da Frente em Defesa do Povo Palestino de São Paulo e da campanha internacional BDS Brasil (Boicote, Desinvestimento e Sanções),Ju Sieg trouxe a articulação entre movimentos no Brasil e o cenário global de mobilização.


“A resistência palestina é a tendência do futuro”


A militante Ju Sieg, integrante da Frente em Defesa do Povo Palestino de São Paulo e do movimento BDS Brasil, destacou em sua fala a centralidade da resistência palestina no cenário internacional. 


“Estamos diante de uma das maiores causas da humanidade no dia de hoje, uma das lutas mais justas do nosso tempo”, afirmou .


Ju recordou que, em contato com juventudes palestinas de diferentes organizações, aprendeu que não se trata apenas de uma “questão palestina”, mas de um reconhecimento histórico.


“É um povo que nos ensina o que é resistência e que traça para nós patamares de avanço na nossa luta internacional” .


Resistência como resposta à colonização


Ju Sieg explicou que não é possível compreender o conflito apenas como disputa religiosa ou histórica. Para ela, trata-se de um projeto moderno de colonização, fundado na supremacia étnica e na limpeza étnica. 


“Os idealizadores do sionismo sempre colocaram: máximo de terras para o mínimo de árabes. Não existe possibilidade de conciliação quando este é o projeto em sua essência” .


A militante ressaltou que, diante dessa realidade, resistir é a única opção.


“Para o povo palestino existir é preciso resistir. E a resistência inclui também a luta armada, porque a colonização tem como linguagem central a violência. Não se pode esperar que a resposta a uma ocupação militar seja apenas pacífica” .


Sieg comparou essa dinâmica a outros processos históricos: da luta contra a ditadura empresarial-militar no Brasil às lutas de libertação africanas. E Citou Amílcar Cabral para explicar a lógica da resistência.


“O inimigo tem sempre armas na mão, e ou só ele tem armas e nós não temos, ou somos doidos e nos organizamos para neles dar tiros também” .


O silêncio da comunidade internacional


Ju Sieg criticou duramente a conivência de países e instituições com Israel. 


“Estamos falando de 77 anos de apartheid e de limpeza étnica normalizados pela comunidade internacional”, disse . 


Para a militante, os vínculos políticos, militares, econômicos e culturais de vários países com Israel sustentam o regime de ocupação. 


“Não pode ser aceitável que qualquer pessoa comprometida com a luta pela humanidade considere normal manter relações com o que há de mais bárbaro no nosso tempo” .


Boicote, desinvestimento e sanções


A militante lembrou a importância do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), criado em 2005 por mais de 170 entidades palestinas. Explicou que o movimento se baseia em três pontos fundamentais: o direito de retorno dos refugiados palestinos, igualdade de direitos para os palestinos que vivem em Israel e o fim da ocupação israelense nos territórios reconhecidos internacionalmente como palestinos .


Ju deu exemplos concretos da cumplicidade brasileira com o regime israelense.


“No dia 7 de setembro, toneladas de aço saíram do Porto de Santos rumo à Haifa, para alimentar a indústria militar israelense. Nosso petróleo abastece os tanques e aviões que bombardeiam Gaza. Não podemos aceitar isso” .


Um horizonte de vitória


Encerrando sua fala, Ju Sieg citou a militante palestina Leila Khaled


“Nossa luta será longa e árdua, porque o inimigo é poderoso, bem organizado e bem sustentado desde o exterior. Mas venceremos porque representamos a tendência do futuro, porque somos a imensa maioria dos oprimidos, porque a humanidade está do nosso lado e porque estamos determinados a alcançar a vitória” 


Ihab Abunima



Médico de origem palestina, da Cisjordânia, recém chegado ao Brasil.


“Nunca foi tão claro que só a resistência nos resta”


O médico palestino Ihab Abunimam iniciou sua fala lembrando que até o significado de seu nome carrega simbolismo.


 “Ihab significa dádiva em árabe, e é uma dádiva estar aqui com vocês”, afirmou .


O médico centrou sua intervenção na situação da Cisjordânia, onde vive a maior parte do povo palestino. De acordo com Ihab, desde os Acordos de Oslo, em 1994, a região é governada pela Autoridade Palestina, mas os efeitos dessa administração, combinados com a ocupação israelense, aprofundaram a fragmentação territorial. 


“O que esse governo fez foi ir atrás das pessoas que tentaram resistir, atrás das armas, contra os refugiados, para não dar desculpas para os israelenses nos matarem”, disse .


O avanço dos assentamentos


O médico destacou que, nesses 30 anos, os assentamentos israelenses multiplicaram-se. 


“Na Cisjordânia, os assentamentos dobraram em dez vezes. Setecentos mil novos colonizadores chegaram desde então e agora moram em nossas terras, no lugar dos palestinos”, relatou .


E descreveu o cotidiano das comunidades palestinas como uma vida sob confinamento. Aldeias e cidades pequenas estão conectadas por estradas que podem ser fechadas a qualquer momento pelo exército israelense. 


“Na entrada de cada aldeia há um portão amarelo. Depois de um ato que eles chamam de terror, podem fechar a aldeia por dias ou semanas. Quem sai pode não conseguir voltar”, contou.


O fracasso dos acordos


Ihab foi incisivo ao analisar o processo de negociações políticas.


“A Autoridade Palestina escolheu o caminho da chamada resistência pacífica, dos acordos e negociações. Mas o resultado foram comunidades isoladas, iguais aos campos criados nos Estados Unidos para os povos indígenas” .


De acordo com o médico, os diversos tratados assinados ao longo das últimas décadas só serviram para mascarar a continuidade da ocupação. 


“Eles assinaram muitos acordos, e todos foram quebrados pelos colonizadores. E hoje vemos claramente o resultado desses acordos”, criticou .


A única saída: resistir


O médico afirmou que, diante da situação atual, não há mais espaço para ilusões. 


“O nosso caminho está muito claro. Nunca foi tão claro como agora. O único caminho que temos é a resistência”, declarou, em tom firme .


E denunciou a desumanização sofrida pelos palestinos. 


“Os israelenses adoram dizer que nós, palestinos, somos animais, um povo sem valor. Mas seguimos de pé”, concluiu .


Fátima Suleiman




De origem palestina, ativista ambiental e presidenta no Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, Fátima reforçou a conexão entre a luta pela terra, pela vida e pelo direito do povo palestino a um futuro digno.


“A resistência palestina é feminina”


A presidenta Fátima Suleiman trouxe exemplos do cotidiano palestino em meio ao genocídio, e contou a história de uma menina que, diante da morte da mãe, reuniu todos os seus brinquedos e disse que os entregaria a Deus para tê-la de volta. 


Esse genocídio é para exterminar as próximas gerações”, afirmou .


Fátima destacou o papel central das mulheres na luta. 


“A resistência palestina é feminina. São as mães que criam seus filhos, que encorajam seus companheiros. São os corpos das mulheres que sustentam a resistência”, disse. Ela fez uma ponte entre a Palestina e o Brasil, comparando a luta das mulheres palestinas à resistência das camponesas do MST e à agroecologia


“A agroecologia é feminina porque pensa nas futuras gerações, em dar vida, em proteger o meio ambiente. Nós palestinos também lutamos pela terra, pela nossa terra” .


Contra a ocupação e a banalização da luta


A militante denunciou as tentativas de suavizar a realidade da ocupação. 


“Não existe ocupação, existe invasão. Existe roubo de terras. É isso que acontece lá”, afirmou. Para Suleimam , defender a Palestina não exige sofisticação intelectual.


“Basta ter humanidade. Humanidade” .


Fátima criticou aqueles que tentam decidir, de fora, o futuro do povo palestino. 


“Quem decide a Palestina é quem mora lá. Quando apoiamos a libertação da África do Sul do apartheid, não escolhemos como deveria ser o regime. Apenas apoiamos. É o que deve ser feito”, disse .


Sionismo e resistência


A presidenta do Comitê declarou que o sionismo deve ser derrotado. 


“Os sionistas cairão. O sionismo tem que ser eliminado”, disse. 


Para Fátima , a luta palestina é também uma luta contra o imperialismo: 


“Hoje é a Palestina. É uma terra cobiçada pelos imperialistas, mas lá eles não encontrarão espaço. Lá existe resistência, um povo que cai em pé, lutando por sua pátria, por sua cultura” .


E ainda questionou o apagamento cultural praticado por Israel.


“Por que querem dizer que a nossa culinária pertence a eles? Por que nos perseguem tanto? Por que querem nos matar?”. Para Fátima, a resposta está no antagonismo entre a violência do ocupante e os valores que movem o povo palestino: “Estamos do lado contrário, o lado do amor, do respeito e das futuras gerações” .


Solidariedade internacional


Em outro momento, Fátima celebrou a coragem de brasileiros que se juntam à luta internacional. Ela citou Tiago Ávila, Maria Conte e Monsenhor Peixoto, entre outros, que se preparavam para integrar a flotilha Sumud, em direção a Gaza. 


“Quinze brasileiros estão partindo rumo a Gaza na flotilha Sumud. Eu gostaria muito, uma salva de palmas, para todos”, disse, sendo aplaudida pelo público .


Um apelo à continuidade da luta


Encerrando sua fala, Fátima fez um pedido.


“Peço a todos vocês que continuem na luta, que sigam de mãos dadas nessa luta”


Para Fátima , apoiar a Palestina é apoiar a humanidade, e a vitória só será alcançada com solidariedade ativa, firme e persistente 


Articulação e solidariedade


O evento foi uma iniciativa do Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina e do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), com apoio de diversos coletivos e partidos, como o MST Ribeirão Preto, Resistência Caipira, PSOL Ribeirão Preto, PT Ribeirão Preto, Unidade Popular (UP), PCB Ribeirão Preto e Associação Amiga da Classe Operária (UGT).




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2 comentários:

Anônimo disse...

Foi incrível! 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

Anônimo disse...

Maravilhoso 👏🏼😍💚

Prego frouxo

  eleições Buenos Aires o anarco-capitalista bate no peito último prego no caixão  no kirchnerismo