Romero Jucá: "É preciso estancar a sangria"
POR ÁLVARO MAIA
Recordar é viver, mas é preciso
acompanhar. Muitos brasileiros já se esqueceram da famosa gravação de Romero
Jucá. Talvez seja a hora de recuperar o principal da informação.
Em maio de 2016, veio a público
a gravação da conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado (para ouvir ou ler
todo o conteúdo, ponham no Google: romero
juca gravacao). Tanscrevemos aqui, da Folha de S. Paulo, de 26/5/2016, uma
parte da conversa que sintetiza o caso:
Na gravação, o ex-presidente da Transpetro afirma ao então senador do
PMDB que, "a solução mais fácil" era colocar Michel Temer no comando
da Presidência. Jucá concorda com o interlocutor e ressalta que somente Renan
Calheiros, que, segundo ele, "não gosta de Temer", é contra a
proposta de afastar Dilma do Palácio do Planalto por meio de um processo de
impeachment.
"Só o Renan que está contra essa porra. Porque não gosta do
Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o
Eduardo Cunha está morto, porra", diz Jucá ao ex-presidente da Transpetro.
Na sequência, Machado destaca que é preciso "botar o Michel num
grande acordo nacional".
"Com o Supremo, com tudo", enfatiza o ministro.
"Com tudo, aí parava tudo", concorda Machado.
"É. Delimitava onde está, pronto", avalia Romero Jucá,
sugerindo que quem já está sendo investigado continuaria alvo da Lava Jato, mas
quem ainda não faz parte da apuração do esquema de corrupção ficaria blindado.
Agora, quase um ano depois,
vejamos, em dez imagens, o andamento do projeto.
Temer no lugar de Dima
1) Temer no poder: passo fundamental. Aproveitar a crise. Bastou
prometer tirar o país da crise econômica e fazer com que todos, povo e
imprensa, se convencessem de que esse era o motivo do impeachment.
"Era um desabafo, não um plano"
2) Jucá na articulação: nomeado primeiramente como Ministro do
Planejamento, Romero Jucá foi realocado para a função de articulador do
Governo, visto que as gravações dos planos de combate à Lava Jato vazaram para
a imprensa.
Sessão para anistia ao caixa dois
3) Anistia: em
sessão noturna da Câmara, os deputados tentaram fazer passar uma lei que
anistiaria os crimes de caixa dois, mas recuaram devido às reações da
força-tarefa da Lava Jato, que tiveram apoio de parte da imprensa.
Em cima: votaram pela prisão.
Em baixo: votaram contra a prisão.
4) Transitado em julgado: buscaram no Supremo Tribunal Federal
conseguir que as prisões de condenados somente fossem autorizadas depois de
transitado em julgado, o que faria com que os processos levassem de dez a vinte
anos. Mas o Supremo decidiu, por seis votos a cinco, manter as prisões dos
condenados em segunda instância. Duro golpe para o projeto.
Velório de Teori Zawascki
5) Morte de Teori:
por "sorte" do Governo, morre o ministro Teori Zawascki, um dos que
votaram pela manutenção dos condenados em segunda instância. Porta aberta para
que o projeto contra a Lava Jato venha a ter maioria no Supremo.
Velhos Amigos
6) Rearticulação: Gilmar Mendes, que havia votado pela prisão em
segunda instância, reúne-se com Moreira Franco e Michel Temer no Palácio Jaburu
logo depois do velório de Teori Zawascki, divulgando à imprensa ter sido apenas
um encontro de velhos amigos.
"Fique surpreso por ser encontro num barco"
7) Maioria no Supremo: com a entrada de Alexandre de Morais no
Supremo, o projeto ganha maioria na Corte e ainda a chance de pôr no
Ministério da Justiça alguém menos preocupado com a imagem pública e que
consiga enfim redirecionar as ações da Polícia Federal. Assim que foi indicado,
Alexandre de Morais reuniu-se, num barco particular, com senadores
investigados.
"Delação premiada é dar voz a bandido"
8) Edison Lobão na CCJ: no Senado, para a presidência da Comissão de
Constituição e Justiça, foi nomeado um senador investigado pela Lava Jato,
ferrenho defensor do fim da delação premiada. O instituto da delação é, no seu
entender, "um absurdo jurídico, por dar voz a bandidos". Nesta
quinta-feira, 16 de fevereiro, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e
apreensão em escritórios de Marcio Lobão, filho do senador, investigado, como o
pai, por desvios de dinheiro nas obras de Angra III e Belo Monte. O senador,
entre outros papéis-chave, tem a missão de conduzir a sabatina dos indicados ao
Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República, ou seja, de certa
forma escolher os próximos juristas que irão investigar os senadores envolvidos
em corrupção.
Celso de Melo e Moreira Franco
9) Foro privilegiado: Temer cria um ministério que havia sido extinto
e dá foro privilegiado a Moreira Franco, outro senador investigado na Lava
Jato, e articulador do governo para sanar a sangria. Moreira Franco é aquele
mesmo que, quando eleito governador do Rio de Janeiro, nos anos 80, desfez o
projeto dos CIEPs de Darcy Ribeiro, projeto que revolucionava a educação --
integral -- para mais de meio milhão de crianças das periferias, e as afastava
das mãos do tráfico.
E vem aí o novo carnaval do Congresso
10) Futuras
comemorações: mais uma festa dos representantes do povo.
Um dia os jovens não precisarão mais de representantes
que decidam por eles.
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Álvaro Maia é professor, anarquista e fundador do blogue Democracia Direta:
www.democracia-direta.blogspot.com.br
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