segunda-feira, 26 de outubro de 2015
A esquerda e os progressistas terão pernas para lutar em tantas frentes?
A não aceitação do resultado das eleições de 2014 por parte do PSDB e de seu fiel escudeiro DEM e a eleição de Eduardo Cunha para a presidir a Câmara dos Deputados, com apoio total dos mesmos PSDB e DEM, foram apenas os lances finais de uma ofensiva conservadora e golpista que havia se iniciado por volta de 2013, aproveitando-se da fraqueza da articulação política do governo Dilma.
Dilma é uma tocadoras de obras excelente e uma estrategista também muito boa, daquelas que sabem fazer um projeto andar. Mas na política Dilma é um fiasco. A fissura na base política do governo, que na prática não existe desde 2013, e a total falta de comunicação social de seu governo, que não conversa com o povo, estão na raiz da crise política.
O fato é que a partir de 2013, em um acontecimento ainda debatido e pouco compreendido até hoje, nasceu o monstrinho que se aninhou na Câmara dos Deputados nas eleições de 2014 (e só não se aninhou no Senado por que lá a renovação é mais lenta). Aproveitando-se do momento, grupos políticos organizados pelo grande capital tomaram acento no parlamento: empresários, ruralistas, evangélicos de business e afins.
O trabalhador perdeu representatividade, assim como as minorias e os progressistas. O PT passou a sofrer a mais violenta perseguição política da história recente, incluindo táticas nazistas de generalizações e execração públicas. Sem o PT a esquerda murcha.
Espremida pela pressão midiática fascistoide e desorganizada por falta de rumo político, a bancada do PT não atua mais da maneira combativa e histórica como sempre atuou.
O resultado é um avanço conservador sem precedentes em todas as esferas, no Parlamento e na sociedade. Surgiu um neo-macartismo apoiado nos meios de comunicação e representados por políticos fisiológicos que insufla sobre todos que consideram não alinhados uma horda de boçais vociferantes.
Os progressistas são acuados na defensiva e o poderoso lobby das bancadas do capital avança sobre direitos trabalhistas, direitos sociais e ameaça inclusive os direitos humanos.
A pergunta que não quer calar é: a continuar essa marcha, terão a esquerda e os progressistas pernas suficientes para lutar em tantas frentes? O retrocesso é inexorável?
Formulo apenas uma listinha de frentes de batalha em que devem atuar os progressistas e democratas: defender o mandato de Dilma e a própria democracia (com toda a complexidade que isto enseja dentro do movimento progressista), defender as conquistas sociais dos últimos 13 anos (algo ainda mais complexo do ponto de vista de unir os progressistas), buscar se defender do retrocesso legislativo causado pelo Parlamento (terceirização, constitucionalização da grana empresarial, corte no bolsa família, lei anti-terrorismo, estatuto da família, diminuição da idade penal, entrega do Pré-Sal, negociado sobre o legislado na questão sindical etc), disputa municipal do ano que vem (onde o embate do discurso será duro e cansativo), as questões estaduais como o sucateamento da saúde e da educação públicas e o embate na sociedade e nas redes sociais contra o avanço sobre o Estado Democrático de Direito ameaçado por investigações midiáticas e seletivas como a que se faz em Curitiba.
É mole?
Há luzes no fim do túnel, como o posicionamento de alguns ministros do STF sobre o golpismo da oposição e também de juristas e intelectuais importantes. Há ainda um movimento social organizado capaz de sair às ruas e de criar a Frente Brasil Popular. Há os blogs progressistas que fazem um bom trabalho de esclarecimentos.
Mas sem falar ao povo, sem ampliar o discurso com o povo e sem indicar um sinal de melhora na economia, a situação se torna muito complicada.
A esquerda sempre teve dificuldades em se entender e em atuar de maneira conjunta. Nesse período de dificuldades e ameaça, a coisa só piora. Sem rumo político não há como se fazer ação política. E, hoje, o diálogo para se compreender a conjuntura e se traçar um rumo político está difícil até mesmo dentro dos partidos, imagine no conjunto da esquerda e do movimento social e progressista.
É preciso não só se entender o momento, para atuar nele, mas entender como chegamos a isso. Há míseros 5 anos, tínhamos um presidente que deixou o cargo com 85% de aprovação popular e agora estamos sendo perseguidos nas ruas e vendo nossos adversários, que derrotamos 4 vezes seguidas, arrotarem força de braços dados como uma figura como Eduardo Cunha.
Talvez, nessa quadra atual, nós não tenhamos mesmo pernas para atuar em tantas frentes, mas uma organização mínima de discurso e de ação se fazem urgentes.
Sentar, dialogar, compreender e atuar, não há outra receita.
Ricardo Jimenez
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