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domingo, 4 de outubro de 2015

Eleição do Conselho Tutelar: tumulto e peso das igrejas!

Na manhã deste domingo fui votar na eleição para o Conselho Tutelar em Ribeirão Preto. Pela primeira vez a eleição é realizada no mesmo dia e horário no país todo.

Já na chegada, às 8:40 da manhã, uma fila de contornar o quarteirão na Escola Dom Luís Amaral Mousinho. Como a eleição era prevista só para a parte da manhã e com um único ponto de votação, eu já imaginava que a coisa poderia piorar, como piorou.

Relatos demonstram que a situação lá pelas 11 horas era de quase tumulto.

Eu enfrentei 50 minutos de fila até conseguir adentrar à escola. Muitos já eram barrados no portão pela ausência do Título de Eleitor, obrigatório para votar.


Dentro da escola, nova fila e mais 20 minutos de espera.

Ribeirão Preto elegerá 15 conselheiros tutelares que serão remunerados pelos próximos 4 anos para atuarem num dos 3 Conselhos Tutelares da Cidade. A eleição foi concorrida e com cara de eleição para vereador. O jogo foi pesado.

O Conselho Tutelar é um órgão mantido pela Prefeitura e atua diretamente nas escolas em parceria com o Ministério Público e o Juizado da Infância e Juventude. 

A grande concorrência não se dá somente pelo fato de ser um cargo remunerado, mas porque há enorme interesse político por trás.

A grande participação popular é boa para a democracia, mas se torna um problema quando o poder público não se prepara para isso. O tumulto favorece aqueles que buscam quebrar as regras e acaba afastando as pessoas de eleições futuras.

Era nítida a organização das igrejas evangélicas nessa eleição. Atualmente há um movimento forte do conservadorismo e do fundamentalismo religioso (com reflexos na Câmara dos Deputados) com relação aos assuntos referentes ao comportamento social e à educação.

Na Câmara dos Deputados tramita o tal estatuto da família e um projeto de lei chamado "escola sem partido" (uma cassação à liberdade de cátedra do professor). As políticas públicas de defesa das minorias sofrem um claro ataque conservador. O debate do momento é sobre a questão da identidade de gênero, que o fundamentalismo chama de "ideologia de gênero".

Isso foi bastante claro na eleição de hoje para o Conselho Tutelar. Dominar as pautas e atuação dos conselhos tutelares parece uma estratégia clara do fundamentalismo.

Vi muitos candidatos reclamando que as igrejas contrataram ônibus para levar o pessoal para a votação.

Do outro lado, o lado dos movimentos progressistas, havia um certo desconforto e falta de unidade. O momento em que vivemos dificulta o debate progressista e isso pode se refletir na composição dos conselhos.

Contribui para isso o clima de perseguição e criminalização que sofre o PT. Para o movimento progressista e para a luta das minorias, o enfraquecimento do PT pode ser trágico. Foi o PT que historicamente compôs boa parte dos conselhos e conseguiu implementar políticas públicas progressistas.

É bom lembrar que o PSDB, que nasceu na década de 80 com um verniz progressista, é hoje parceiro em muitos projetos fundamentalistas e autor do tal "escola sem partido".

Fica desta eleição a percepção clara de que o futuro vai ser de combate duro. Fica a lição de que somente a unidade e a organização pode enfrentar o avanço conservador. Fica a lição de que apostar no enfraquecimento do PT pode ser um enorme tiro no pé de todos os outros partidos, movimentos de esquerda e da própria sociedade.

Ainda há tempo para aqueles que não foram dominados pelo ódio cego midiático fazerem uma reflexão crítica de tudo e observar que um partido com 1,7 milhão de filiados e com participação fundamental em políticas públicas que levaram proteção e desenvolvimento à milhões de pessoas não pode ser simplesmente apagado do mapa.

Minha impressão desta eleição foi de tumulto, peso das igrejas e certa apreensão das forças progressistas. Que seja um sinal amarelo e que esse sinal provoque debates e reorganização de luta.

Ricardo Jimenez

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