País terá 41% da população com obesidade em 2035 Imagem: Atlas da Obesidade |
Publicado no último dia 2 de março pela Federação Mundial da Obesidade, o “Atlas Mundial da Obesidade” prevê que até 2035, o número de crianças com obesidade dobre entre meninos e aumente mais de 100% entre meninas. De acordo com o relatório, o problema não se resume mais aos países desenvolvidos. O texto alerta para o crescimento exponencial em países em desenvolvimento, sendo o consumo de ultraprocessados uma das causas. Para o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Ribeirão Preto, é preciso atacar aspectos estrutuais.
Segundo o relatório, isso significa que mais de 1,5 bilhão
de adultos e quase 400 milhões de crianças estarão vivendo com obesidade dentro
de 12 anos, a menos que medidas significativas sejam tomadas.
De
acordo com o relatório, se medidas de prevenção e tratamento não forem
aprimoradas, o impacto econômico do sobrepeso e da obesidade pode ultrapassar
US$ 4,32 trilhões anualmente até 2035. Isso representa quase 3% do Produto
Interno Bruto (PIB) global, equivalente ao impacto financeiro causado pela
pandemia de COVID-19 em 2020.
Problema
não se restringe aos países de alta renda
O
relatório destaca que o problema não está restrito aos países de alta renda.
Segundo o texto, os níveis de obesidade estão aumentando mais rapidamente em
países de baixa e média-baixa renda, onde os recursos e a capacidade de
resposta são muitas vezes limitados. Deste modo, até 2035, estima-se que o
impacto econômico do sobrepeso e obesidade seja de mais de US$ 370 bilhões por
ano apenas nesses países.
O
parecer da Federação Mundial da Obesidade enfatiza a necessidade de ação
urgente por parte dos governos e formuladores de políticas e recomenda
implementação de planos de ação nacional e a adoção das Recomendações da Organização Mundial da
Saúde para a Prevenção e o Manejo da Obesidade são consideradas cruciais para enfrentar esse
desafio de saúde global.
Brasil
De acordo com o relatório, a partir de um crescimento de 2,8% nos casos de obesidade, o Brasil, se nada for feito, terá 41% da sua população obesa em 2035. Se o recorte for feito apenas em crianças, este crescimento será de 4,4%, o que levará a um impacto em 3% do PIB nacional. Veja a tabela abaixo.
Subsídio aos ultraprocessados
A partir dos dados que constam no inquérito Olhe para a Fome e no estudo Premature Deaths Attributable to the Consumption of
Ultraprocessed Foods in Brazil , tendo-os debatidos por pesquisadores na
mesa temática Tributação de Alimentos e Saúde, durante a 344ª Reunião Ordinária
do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
em Julho de 2023, o Conselho Nacional de Saúde afirmou que alimentos
ultraprocessados como achocolatados e macarrão instantâneo recebem alíquota
zero no país, o refrigerante recebe subsídio enquanto que uma abóbora orgânica
chega à mesa do consumidor com uma alíquota de 18%.
Ainda
de acordo com o CNS, a disparidade atinge, principalmente, as minorias étnicas
e de baixa renda, em que , 65% dos lares comandados por pessoas pretas e pardas convivem
com restrição de alimentos, sendo o aumento do consumo de ultraprocessados, nos
últimos dez anos, , mais expressivo entre a população esta população, além de indígenas,
moradores da área rural e das regiões norte e nordeste.
Para COMSEAN, é preciso atacar aspectos estruturais
Realizada em agosto de 2023, no Instituto Federal de Sertãozinho, a Conferência Regional de Segurança Alimentar e Nutricional da Regional de Ribeirão Preto apontou a necessidade de se considerar os determinantes estruturais e macrodesafios para soberania e segurança alimentar e nutricional.
Aspectos como a reforma agrária popular, o acesso a água de qualidade, a produção de alimentos, prioritariamente, livre de agrotóxicos e a indispensável discussão sobre mudanças climáticas, bem como adequações e mitigações de seus efeitos perpassaram o debate do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da região. O debate foi dividido em 3 princpais eixos. Veja abaixo, os encaminhamentos da Conferência.
EIXO 1 -
DETERMINANTES ESTRUTURAIS E MACRODESAFIOS PARA A SOBERANIA E SEGURANÇA
ALIMENTAR E NUTRICIONAL:
1.
Programa de Educação Alimentar e Nutricional (EAN):
· Parcerias contínuas com universidades, OSCs, ONGs, e movimentos sociais.
· Ações nas escolas, unidades de saúde, e equipamentos sociais.
· Enfoque em aproveitamento integral dos alimentos, PANC, hortas
agroecológicas, entre outros.
· Distribuição de material impresso e áudio visual para orientação.
2. Agricultura Urbana
· Criação de um programa de agricultura urbana com incentivos fiscais.
· Estímulo à criação de hortas comunitárias em terrenos públicos e/ou
privados.
· Parcerias com instituições religiosas e OSCs para implantação de hortas.
· Priorização de apoio técnico remunerado para agricultores familiares.
3. Assistência Técnica e Políticas para Agricultura Familiar
· Garantia de assistência técnica para pequenos produtores.
· Incentivos financeiros para capacitações de agricultores familiares.
· Criação de políticas públicas específicas para a agricultura familiar.
· Implantação de Feiras Livres dos produtos da zona rural.
4. Tributação e Compras Públicas
· Redução da tributação sobre alimentos orgânicos/agroecológicos.
· Ampliação das compras públicas da agricultura familiar.
· Estímulo à criação de associações e cooperativas de agricultores
familiares.
· Promoção de ações para diminuição do desperdício de alimentos.
EIXO 2 - SISTEMA
NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SISAN) E
POLÍTICAS PÚBLICAS GARANTIDORAS DO DIREITO HUMANO À
ALIMENTAÇÃO ADEQUADA:
1. Atendimento Diversificado e Cozinhas Comunitárias
· Estratégias para atendimento de diversos públicos, principalmente em
municípios menores.
· Apoio ao abastecimento do Bom Prato e Cozinhas Comunitárias com produtos
de agricultores familiares.
· Criação de novas cozinhas com orientações técnicas e remuneração para
cozinheiras.
2. Profissionais de Nutrição
· Garantia de profissionais de nutrição no âmbito escolar e na área da
saúde.
· Foco especial na primeira infância até 1000 dias e gestantes.
3. Acesso a Água Potável e Saneamento Básico
· Garantia de acesso a água potável para assentados e comunidades em
vulnerabilidade.
· Estratégias para diagnóstico e monitoramento de famílias em insegurança
alimentar.
4. Bancos de Alimentos e Distribuição
· Criação de bancos de alimentos para demandas emergenciais.
· Distribuição de cestas básicas e alimentos in natura.
· Fornecimento de hipoclorito de sódio para higienização dos alimentos.
EIXO 3 - DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
1. Comunicação e Participação Social
· Ampliação dos meios de comunicação para fomentar informações sobre
segurança alimentar.
· Criação de espaços de escuta sobre hábitos alimentares.
2. Reativação de Conselhos Municipais e Participação Estudantil
· Fomento à reativação dos conselhos municipais vinculados ao SISAN.
· Estímulo à participação de estudantes universitários nas políticas de
segurança alimentar.
3. Manutenção de CONSEAs e CAISAN’s
· Criação de políticas e mecanismos para garantir a manutenção de conselhos estaduais e municipais relacionados à segurança alimentar.
Para Joaquim Lauro Sando, da Direção Regional do MST e integrante
do COMSEAN a alimentação não adequada pode causar diferentes
problemas em crianças e adolescentes, tendo a obesidade como o seu
principal problema visível. De acordo com Sando, diversas ações
podem ser tomadas para combater a insegurança alimentar.
Joaquim Lauro Sando durante oficina doCurso de Formação de Agentes Populares de Agroecologia, ministrada na Comunidade da Paz em 2021 Foto: Filipe Augusto Peres |
Luciano Botelho, da Direção Estadual do MST e presidentedo COMSEAN falou sobre a atuação do MST no combate à insegurança alimentar e às ações que o COMSEAN tem tomado no município para combater tal problema.
Luciano Botelho, Presidente do COMSEAN e militante do MST pela Direção Estadual. Foto: Filipe Augusto Peres |
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