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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Em Ribeirão Preto, palestinos denunciam atos de desumanização e o extermínio cometidos pelo Estado de Israel

 

Foto: Filipe Augusto Peres


Em Ribeirão Preto, organizado pelo Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, mesa debate o genocídio contra os palestinos cometidas pelo Estado de Israel

Organizado pelo Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina, mediado por sua presidenta e delegada da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Fátima Suleiman, aconteceu nesta quarta-feira (30), na sede municipal do Partido dos Trabalhadores, em Ribeirão Preto, a mesa “Os mitos de Israel e a verdade que liberta: Entenda o que se passa na Faixa de Gaza”.

A atividade reuniu simpatizantes, apoiadores da causa palestina oriundos de partidos políticos de esquerda, movimentos sociais e entidades sociais, além de várias lideranças locais. Além de Fátima, integraram a mesa Ualid Rabah, Presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil – FEPAL, Dr. Abdel Latif Hassan, médico intensivista, nascido em Belém (Palestina) e a Dra. Jamile Latif, advogada de origem palestina.

Ao iniciar sua fala, Fátima destacou que o Comitê Permanente da Causa Humanitária Palestina é apartidário e agradeceu às pessoas, organizações, partidos políticos e movimentos sociais que apoiam a causa palestina. Para ela, o apoio desses aliados é fundamental para fortalecer o movimento de resistência.

“Respeitamos todas as pessoas, com todas as suas ideologias, mas dentro do poder, a única causa é a Palestina.”

Presidente da FEPAL Expõe Realidade do genocídio de Israel na Palestina

O Estado de Israel é um projeto que começou no século XIX



A mesa foi iniciada pela fala do presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah,o qual  apresentou a longa história do conflito e denunciou o genocídio em curso contra o povo palestino,

Rabah contextualizou o conflito como um projeto colonial iniciado no final do século XIX com o sionismo e destacou como a Palestina foi escolhida como local para a criação de um Estado judaico, desconsiderando a população nativa palestina. Segundo Rabah, essa escolha marcou o início de um projeto colonial de substituição populacional que levou a décadas de conflitos, extermínio e sofrimento para os palestinos.

“O projeto sionista, começou[...] em 1896. No livro
O Estado judeu, de Theodor Herzl, resolve que haverá um Estado supremacista judeu em algum canto do mundo… escolhem a Palestina.”

O presidente da
FEPAL acusou Israel de estar promovendo um genocídio e uma limpeza étnica contra o povo palestino, especialmente em Gaza. O presidente comparou a situação atual com outros genocídios históricos. Mostrando proporcionalmente a dimensão da violência, Ualid afirmou que a perda de vidas ultrapassam muitos extermínios na história moderna.

“43.926 exterminados oficialmente, no dia de hoje, na Faixa de Gaza… Isso dá 2,43% da democracia de Gaza. Seriam quase 10 milhões exterminados no Brasil em um ano. Seriam 75 milhões exterminados… na Europa da Segunda Guerra Mundial.”

Consequências Humanitárias

Rabah lamentou as condições extremas enfrentadas pelos palestinos devido à destruição de infraestrutura e falta de acesso a necessidades básicas. Ele apontou que hospitais foram destruídos e que o bloqueio imposto à Faixa de Gaza impede o acesso a alimentos e medicamentos. Um cenário que, de acordo com o presidente da FEPAL do Brasil, deixou milhões de palestinos em condições de vida desesperadoras.

“109 mil feridos hoje, sem hospitais, sem médicos… fome, sede, frio… 92% deles deslocados morando em 1/6 do território de Gaza.”

Ualid também criticou o apoio dos Estados Unidos e outras potências ocidentais a Israel, viabilizando o genocídio contra o povo palestino e destacou que a aliança é uma continuação de uma tradição colonial e imperialista, a qual prioriza interesses geopolíticos em detrimento dos direitos humanos. E deu nome aos bois.

“É preciso parar a máquina de guerra e de extermínio de Israel, comandado pela verdadeira Alemanha nazista deste tempo, que não é Israel, mas os Estados Unidos.”


E ressaltou que a opressão contra os palestinos não é ato isolado ou ocasional, mas parte de um projeto contínuo de dominação, exclusão e extermínio. Ualid alertou que a violência é um experimento genocida intencional, refletindo um modelo de totalitarismo moderno que pode ser aplicado no mundo todo.

“Este é um experimento genocida para ser um modelo para todo mundo… Israel é um modelo de totalitarismo que utiliza uma combinação de máxima tecnologia… Nós estamos diante agora desta combinação macabra.”

Desespero e Resistência Palestina


Dr.Abdel L. Hassan denunciou a morte de crianças palestinas.


Natural de Belém, o Dr. Abdel Latif Hassan começou a sua fala apontando a dor e a resistência dos palestinos frente à ocupação israelense. Para Hassan, a realidade de Gaza é de tristeza constante, em que vidas inocentes, principalmente de crianças, são perdidas. Neste contexto, o médico intensivista chamou atenção para o fato de que, apesar da tristeza, a resistência é a única alternativa para o povo palestino.

“Estamos, há um ano, assistindo com muita tristeza e impotência completa. […] Estamos vendo as crianças falecidas sendo assassinadas por forças de ocupação israelense. […] Não temos outra opção senão resistir. Resistir para existir, resistir porque temos a certeza de que vamos vencer.”

Em seguida, o doutor Latif afirmou que o sionismo é um movimento colonialista o qual utiliza narrativas religiosas para justificar ações opressivas. Para ele, o sionismo não é diferente dos projetos colonialistas históricos que visavam dominar povos originários, justificando o extermínio ou expulsão.

“O sionismo usa a narrativa de uma ‘terra prometida’ para legitimar uma política de Estado que comete crimes contra a humanidade, como apartheid, genocídio e racismo”.

E mostrou a quem o Estado de Israel serve

“[…] Israel é visto como um bastião da ‘civilização europeia’ contra a ‘barbárie oriental’, uma visão que alimenta uma política excludente e violenta.”

Hassan também desconstruiu os mitos criados para sustentar a dominação israelense e destacou os conceitos de “terra prometida” e “terra sem povo” como falácias criadas para legitimar a ocupação e extermínio do povo palestino.

“O mito de terra prometida e povo excluído foi usado para justificar a colonização e o extermínio de nativos. […] Palestina sempre foi terra dos palestinos, e essa narrativa não reflete a verdade histórica, mas uma tentativa de justificar um projeto colonial.”

O médico destacou a desigualdade vivida pelos palestinos em Israel, que, segundo ele, vivem como cidadãos de segunda ou terceira classe. e criticou a legislação que discrimina palestinos, tanto em relação ao acesso à terra quanto ao direito de retorno.

“Israel se define como o Estado dos judeus, mas 25% da população não é judia. Isso faz desses cidadãos pessoas de segunda ou terceira categoria, que enfrentam dezenas de legislações discriminatórias. […] Enquanto qualquer judeu do mundo tem direito à imigração e cidadania, os palestinos são impedidos de retornar para suas terras.”

Concluindo sua fala, Dr. Hassan apresentou uma visão de esperança na resistência palestina e destacou que, apesar das várias ocupações ao longo da história, a Palestina e seu povo sempre resistiram.

“Palestina foi ocupada durante sua longa história por 27 vezes. Todos foram embora, e Palestina continua lá. […] Não vamos abandonar nossa terra, não vamos abandonar nosso céu, porque os palestinos sofrem de um mal incurável, chamado esperança.”

Dra. Jamile Latif denuncia mitos e verdades sobre Israel

o sionismo e o Estado de Israel constituem uma ameaça mundial


A advogada palestina Dra. Jamile Latif ao falar sobre o tema “Os mitos de Israel e a verdade que liberta: Entenda o que se passa na Faixa de Gaza” chamou atenção para as políticas de Israel, o impacto do sionismo e a resistência palestina.

Jamile iniciou sua fala afirmando que o sionismo e o Estado de Israel constituem uma ameaça mundial e que sua influência se expande por meio do controle e censura e fez uma analogia com a obra “1984”, de George Orwell, para ilustrar o cenário israelense. E citou a fala do ex-primeiro ministro de Israel Moshe Dayan.

“Israel diz que tem um exército de defesa, mas talvez um dos maiores generais de Israel, Moshe Dayan, falou, Israel nunca se defendeu, Israel ataca… Israel nunca se defende, sempre ataca.”

Criticando o racismo institucionalizado pelo Estado e Israel, Jamile lembrou a declaração do ex-primeiro ministro de Isral, Menachem Begin, o qual expressou ideias de superioridade racial do povo judeu em relação aos não-judeus

“Nós somos deuses divinos neste planeta”

A advogada lembrou Gandhi para fundamentar seu ponto de que a resistência palestina é legítima diante da perda de terras e direitos, e que o povo palestino tem o direito de lutar pela sua sobrevivência.

“[...] Mas a Palestina pertence aos árabes, no mesmo sentido que a Inglaterra pertence aos ingleses, a França aos franceses. É errado e desumano impor os judeus aos árabes. O que está acontecendo hoje na Palestina, que era sem imigração judaica, é já o extermínio e palestinos. Não pode ser justificado por nenhum código moral de conduta”.

E reforçou o direito do povo palestino de se defender do colono invasor.

“O que os senhores fariam? Nós esperamos décadas. Os senhores querem o quê? Que nós entreguemos florzinhas? Para quem já deixou claro que nós não somos humanos?”

A advogada também questionou a legitimidade do sistema democrático em Israel. Jamile denunciou em sua fala a existência de prisioneiros políticos,  a repressão a dissidentes dentro do próprio Estado.

“Democracia em que tem prisioneiro político não é democracia. É uma falsa democracia.”

E, enfatizando a luta palestina como uma questão de sobrevivência e dignidade, destacou a importância de se buscar a verdade, resistir ao totalitarismo global” crescente.

“Perdemos o coração, e o pior, perdemos a cabeça. Então, por favor, razoem e levem a verdade. A verdade é a única possibilidade, verdade e união, realmente, da gente acordar o mundo para a ameaça do totalitarismo.”

Latif destacou que aceitar a invasão israelense, não reagir, significa compactuar com os crimes de estado cometido pelos sionistas, crimes como estupro, roubo, racismo, negação aos direitos mais básicos, como atendimento médico.

“Aceitar Israel é aceitar estupro, aceitar roubo, aceitar racismo, aceitar mentira, aceitar matar de fome e sede um povo. É recusar analgesia para as crianças que tiraram, separaram braços e pernas. Essas crianças são amputadas sem anestesia”.

Encerramento

É importante que todos entendam a urgência de lutar pela libertação palestina


Após as falas da mesa, o espaço foi aberto às pessoas presentes para que realizassem falas e saudações. Após, Fátima Suleiman destacou o papel essencial da juventude, de professores, movimentos sociais e aliados políticos na continuidade da causa palestina. Para a delegada da FEPAL, é importante que todos abracem as causas humanitárias e entendam a urgência de lutar pela libertação palestina.

Fátima ainda destacou a resiliência da causa palestina mesmo diante de dificuldades e lembrou que a esperança  é um símbolo da força do povo palestino, que não desistirá até que a Palestina seja livre.

“Só que como palestinos nós não desistimos jamais. Hoje estamos fazendo aqui, nesse salão, amanhã será no cinema, e depois no estádio, e depois no mundo todo. Palestina livre! Palestina livre!”

 


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