As mentiras que nos contaram. Por Pedro Zambarda.
1. O pior que não ficou no
retrovisor
Míriam Leitão publicou em 16
de julho a coluna “O pior pelo retrovisor”, no Globo. Num tom otimista, traçava
um panorama da economia brasileira baseado apenas na valorização dos papéis da
Petrobras e na alta das bolsas de valores.
E acrescentava: “O resultado
reflete a percepção de algumas melhoras, inclusive regulatórias, na economia e
a avaliação de que a recessão está perdendo força, apesar de estar claro que
não haverá a volta rápida do crescimento”.
As contas do governo Temer
tiveram um déficit de R$ 38,4 bilhões em novembro, o pior resultado para o mês
desde 1997. No mesmo mês do ano passado, com o governo sob Dilma, o saldo
negativo foi de R$ 21,2 bilhões. Parece que o pior da economia está longe de
sair do retrovisor, seja dos investidores ou dos cidadãos comuns.
2.“Pior que tá, não fica”
Em maio de 2016, quando o
impeachment caminhava para minar o poder de Dilma Rousseff, Eliane Cantanhêde
publicou várias colunas no Estadão dizendo que é “pior sem ele”.
No mês de dezembro, o
Datafolha divulgou que 58% das pessoas consideram Michel Temer pior do que
Dilma. Parece que ficou pior do que estava.
3. Previsão de crescimento
de 1% que sumiu
Uma reportagem do site da
Exame de setembro apontou que a economia sob Michel Temer poderia crescer 1% em
2016. A previsão foi traçada pela consultoria em negócios internacionais e
políticas públicas Prospectiva, levando em conta até mesmo a Lava Jato.
O chefe do Departamento
Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou em dezembro deste ano que a
previsão para 2016 é de recessão de 3%, com queda na oferta de crédito
bancário. Parece que as consultorias de estimação estão perdendo crédito em
suas análises em menos de seis meses.
4. “Golpe contra o
impeachment”
Antes de ficar famoso
nacionalmente por perguntar a Temer como ele conheceu a mulher numa farsa no
“Roda Viva”, Noblat escreveu um artigo bonito acusando um “golpe contra o
impeachment”.
O texto faz denúncias de uma
compra de votos contra o afastamento de Dilma Rousseff — para variar, sem
apresentar provas. Teriam ocorridos pixulecos de R$ 1 milhão por voto “não” e
R$ 400 mil pelas ausências.
Parece que o golpe contra o
golpe não se concretizou. Noblat nunca explicou como é que essa operação
milionária fracassou.
5. “Interrupções
presidenciais têm impacto positivo”
Merval Pereira falou no dia
17 de janeiro de um estudo de um economista chamado Reinaldo Gonçalves, da
UFRJ. O especialista tentava provar que o impeachment de Dilma poderia ser
positivo.
Segundo o texto reforçado
por Merval, o impedimento reverteria a recessão em 2017 e impulsionaria a
economia em 2018.
Nenhum dos sinais dessas
medidas com “impactos positivos” foram vistos com Michel no poder. Merval
Pereira aproveitou a coluna para alfinetar advogados que criticaram a Operação
Lava Jato. Nunca mais citou o tal Reinaldo.
6. Cunha “não tem nada a ver
com o impeachment”
Merval também dá suas
cacetadas no Jornal das 10 da GloboNews. No dia 13 de dezembro de 2015, ele
soltou no programa que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não tinha
relação com o golpe. Um santo.
“Eduardo Cunha não tem nada
a ver com o impeachment. O Eduardo Cunha foi o presidente da Câmara que
aceitou, viu que tecnicamente havia condições de aceitar aquele processo,
aquele pedido. Então ele não tem nada a ver com isso, quem vai decidir mesmo é
o plenário da Câmara”.
Merval jogou a
responsabilidade num Congresso que tem maioria com pendências na Justiça só
para tentar livrar a cara de um processo conduzido por um notório corrupto. Em
2016, consumado o golpe, Cunha foi preso. Merval Pereira nunca mais tocou no
assunto.
7. “Impeachment ou caos”
O economista Rodrigo
Constantino, o amigo do Pateta que foi demitido da Veja e do Globo e hoje tem
coluna na Istoé, publicou um artigo em abril com o título: “impeachment ou
caos!”.
Era baseado em teses
esplêndidas como a de que o presidente Temer faria um “governo suprapartidário”
caso o golpe prosperasse, usando aspas do professor de filosofia Denis
Rosenfield.
Para Constantino, o governo
Temer seria um sucesso porque não teria vermelho em sua bandeira. O único golpe
possível era o que o PT estava fazendo, seja lá o que isso signifique.
8. Golpe “cristalizado”
Quando o impeachment foi
consumado, em setembro, Eliane Cantanhêde afirmou em texto que o governo Michel
Temer sofre com protestos mas “termina em pé”. Comparou-o a Itamar Franco.
“A palavrinha mágica ‘golpe’
ajudou a cristalizar, talvez em milhões de pessoas, a percepção de que o
impeachment de Dilma foi ilegal e ilegítimo, a ‘jornada de 12 horas’ ajuda a
oposição a ratificar que Temer vai retroceder nos direitos e abandonar os
pobres à própria sorte. Em vez de falar esse absurdo, o governo bem que poderia
ter usado e abusado, a seu favor e a favor da verdade, dos resultados do Ideb,
que configuram o fracasso da ‘pátria educadora’ de Dilma”, diz Eliane no
jornal.
9. A “revolta armada” do PT
que não existiu
O ex-presidente Lula
publicou uma cartilha criticando os procedimentos da Operação Lava Jato. Na
cabeça do colunista Reinaldo Azevedo, a carta afirmava que o PT ia optar por
uma “revolta armada”, segundo sua coluna na Folha de S.Paulo em agosto.
Dilma, segundo Reinaldo, era
a “Afastada”. “Que bom que a ópera petista chega ao último ato, com o próprio
partido chamando os inimigos por seus respectivos nomes. É o PT quem me dá
razão, não os que concordavam comigo”, diz ele, sem explicar como se daria a
revolução do partido de Lula em curso.
10. O editorial que mais
curtiu o impeachment
“Impeachment é o melhor
caminho” é o editorial de apoio ao golpe mais explícito publicado na imprensa.
Feito pelo mesmo time do Estado de S.Paulo que chamou o jornalista Glenn
Greenwald de “ativista petista” e pediu sua expulsão do Brasil, o texto é rico
em previsões furadas sobre o governo Temer já em abril de 2016.
As propostas de novas
eleições “são fórmulas engenhosas para resolver um problema complicado. Pena
que sejam todas, pelas mais variadas razões, impraticáveis”.
Hoje, a notícia é de que a
maioria da população apoia eleições diretas segundo absolutamente todos os
institutos de pesquisa.
11. “A saída da crise”,
segundo Paulo Skaf
Nenhuma lista dessa natureza
ficaria completa sem as revistas da Editora Três, aquela que concedeu a Temer o
título de Brasileiro do Ano.
Em março, o presidente da
Fiesp, Paulo Skaf, estava na capa da IstoÉ Dinheiro com a chamada “A reação dos
empresários”.
“O impeachment de Dilma é a saída
mais rápida da crise”, falou. A reportagem destacava a atuação dele para
conseguir a adesão “de boa parte da classe empresarial, da indústria ao
varejo”.
De acordo com Skaf, a
“economia está indo mal por causa da crise política. Há confiança no Brasil,
mas não há confiança no governo”.
Ah, sim: o industrial sem
indústria é um dos citados na delação da Odebrecht.
12. As instituições
funcionam
O Globo, que defendeu o
golpe militar de 64 e só se desculpou 50 anos depois, defendeu o impeachment
com unhas e dentes em vários editoriais.
Num deles em especial, de 30
de março, a família Marinho mandou ver: “Na estratégia de defesa e nas ações de
agitação e propaganda de um PT e de uma presidente acuada no Planalto, a
palavra ‘golpe’ ganha grande relevância”.
O impeachment de Dilma,
fomos informados, “transita pelas instituições sem atropelos. Em 64 seria
diferente”.
E finalizava: “Aceite quem
quiser que políticas de supostos benefícios aos pobres podem justificar a
roubalheira. Não num país com instituições republicanas sólidas”.
Pois é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário