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domingo, 18 de agosto de 2019

Como enfrentar o tempo de resistência ao avanço da dupla neoliberalismo com a extrema direita?



Vivemos tempos bicudos, não há dúvida. Às vezes parece que entramos em uma realidade paralela onde tudo que nos fazia sentido até a pouco, desapareceu.

Vivemos o tempo de Bolsonaro e Paulo Guedes, o tempo dos bolsominions reacionários e dos ultraliberais da 'escola austríaca'. São tempos onde o conjunto de direitos que foi construído na elaboração da Constituição de 1988, na reconstrução democrática pós ditadura, se esvai no ar todo dia.

O artigo 5º da Constituição, aquele que nos garantia as liberdades individuais e coletivas? É detonado todo dia na perseguição aos movimentos sociais, aos sindicatos, à imprensa livre, ao exercício do direito de defesa, à presunção de inocência, à segurança jurídica e ao direito adquirido.

O artigo 6º da Constituição, aquele que nos garantia um esboço de Estado de Bem-Estar Social com um sistema público de educação, saúde, aposentadoria e assistência social? É morto todos os dias com o sucateamento do serviço público e da entrega dos filões mais atrativos para a sanha de lucro da 'iniciativa privada'.

Os estatutos de proteção e garantias cidadãs às minorias e grupos socialmente fragilizados? Morrem todo dia nos crimes de homofobia, feminicídios e ataques aos direitos das crianças e dos adolescentes.

Isso sem mencionar a proteção ao trabalho, direitos mais antigos do que a Constituição de 1988. Presenciamos o retorno aos padrões anteriores a 1930 com a ausência total de proteção ao trabalho diante do poder do capital.

Os servidores públicos veem diariamente o minguar de suas carreiras e do serviço público enquanto mecanismo de Estado na atuação administrativa, social e humana. E a população já sente rapidamente na pele os resultados maléficos da ausência do serviço público em suas vidas.

Tudo isso teve início a partir do impeachment de 2016, ou antes, em 2013 ou em 2014, com o início do esquema lavajatista, não importa, pois isso será fruto de estudos históricos futuros, apontando causas, erros e descaminhos.

O fato é que tudo desaguou na eleição em 2018 de Bolsonaro e Paulo Guedes, unindo a truculência reacionária dos porões da ditadura, a atuação miliciana corrupta dentro das instituições e a violência destrutiva neoliberal.


Diante desse cenário estamos nós, 30% da população entre 15 e 65 anos: atônitos, angustiados e sem rumos definidos. Nesses 30% estão todos que se colocaram como anti-Bolsonaro/Guedes no segundo turno de 2018: militantes e lideranças partidárias, militantes sociais, ativistas e trabalhadores comuns que ainda enxergam o mundo pela óptica da defesa ampla dos direitos humanos e da democracia.

Estamos na resistência ao rolo compressor que ameaça passar por cima da nossa Constituição e das nossas vidas.

Alguns de nós lutamos pela liberdade de Lula, como um símbolo maior do desmonte necessário da farsa montada e que nos trouxe até aqui (como tem mostrado as reportagens do The Intercept). Outros acham justa a luta pela liberdade de Lula como forma de reconstruir as garantias do Estado de direito, mas não fazem desta a primeira bandeira de luta.

Nesse campo estão Haddad (PT) e Boulos (PSOL).

Outros buscam caminhos alternativos. Nesse campo está Ciro Gomes, do PDT, ainda tentando se construir pisando na canoa do anti-bolsonarismo e do anti-petismo ao mesmo tempo.

O objetivo de todos é ampliar o apoio para os 40% que ainda se mantém neutros diante do desastre e, assim, construir uma maioria social que possa alicerçar a mudança e a superação dessa fase terrível. E é preciso apontar que este também é o objetivo da direita tradicional, como aquela que se apoia em Dória ou Luciano Hulk.

Mas, enfim, nós os 30% estamos na resistência.

E estar na resistência é muito complicado nesse momento, pois não há rumos definidos. Alguns chegam ao limite emocional. Basta dar uma olhada nos sites, blogs, grupos de whatsapp e afins para notar isso: raiva, negação, tentativa de apelar para o desespero do outro e, principalmente, Bolsonaro, Bolsonaro e Bolsonaro. Cada dia um assunto pautado de maneira propositalmente torpe por Bolsonaro e que entope nossas redes de comunicação nos levando à beira do delírio.

Passa da hora de dar rumo à resistência e começarmos a atuar de maneira mais eficaz, equilibrando a necessária denúncia interna e externa das impropriedades de Bolsonaro e seu clã com a proposição de pautas positivas, de ação conjunta, de construção da unidade na ação.

É preciso escapar da cilada montada por Bolsonaro e fazer isso dentro do Parlamento e na sociedade: resistência propositiva!

Mesmo que seja mirando a perspectiva histórica, é preciso tentar caminhar para frente e dar conta de envolver as pessoas em uma luta justa e esperançosa por democracia, por direitos e pela reconstrução do país.

Pela superação dessa fase de aliança entre a extrema direita e o neoliberalismo e o apontamento de um outro rumo a ser seguido.

De uma certa forma, e à sua maneira, Lula tem apontado isso em suas entrevistas: a união de forças e a renovação da esperança.

Não existe, companheiros e companheiras, resistência sem rumo e sem esperança. E o alvo deve ser o envolvimento das pessoas na superação da paralisia e na construção de um projeto anti-neoliberal, democrático e inclusivo.

O diálogo franco entre as várias forças da resistência e a formação de frentes de atuação é fundamental para isso. Não há receita pronta nem tempo definido, mas o primeiro passo tem de ser dado.

Blog O Calçadão

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