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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Batalha do Discurso: a mídia e a corrupção




O discurso anti-corrupção é, como quase tudo na vida, uma faca de dois gumes. Ele sempre se presta a um papel, à uma estratégia. Geralmente o grito "corrupção!" sai da boca das pessoas mais reacionárias e propensas a aderirem aos movimentos punitivos coletivos, tipos linchamentos em praça pública. Esse sentimento e esse comportamento real por parte de um grupo de pessoas sempre foi usado ao longo da história por um grupo ou outro e para contê-lo a civilização criou o Estado de Direito, um conjunto de leis que rege a sociedade e trata com o devido processo legal os desvios de conduta. Mas o Estado de Direito nem sempre é levado em conta quando a disputa política é tensa e decisiva para grupos que disputam o poder.

De certo modo, o brasileiro tem o sentimento de que aqueles que alcançam o poder acabam uma hora ou outra cometendo desvios. O sentimento geral é que "política é coisa de corrupto, de malandro". E, convenhamos, para um povo sofrido como o brasileiro, que por séculos aguarda a sua vez de usufruir da qualidade de vida sempre prometida e nunca entregue, esse sentimento geral é justo e não fica longe da verdade. Não que a prática política seja suja e, portanto, desimportante, como apregoam os reacionários. Não, é que o povo poucas vezes teve a oportunidade de se sentir realmente representado no poder e, portanto, a elite acaba governando para si mesma e deixando os anseios do povo de lado, daí a sensação ruim sobre a política em geral.

No Brasil, esse discurso anti-corrupção foi usado de maneira brutal pela mídia em duas oportunidades antes da atual. Em 1954 contra Vargas e em 1964 contra Jango. O governo Vargas, que criava a Petrobrás e avançava com o salário mínimo, era o "mar de lama". Já o governo Jango, que propunha aprofundar os avanços sociais com as reformas de base, era a ameaça comunista e ameaça ao equilíbrio da nação, como mostra a capa do Globo na época.

Como se percebe, em todas as vezes entra a figura da mídia, que aqui no Brasil é representada por apena 6 famílias abastadas (pertencentes ao 1% dos mais ricos). É muito difícil competir com esse sistema de mídia monopolizado. E, pior, uma mídia que foi engordada na ditadura militar. Leia a história da TV Excelsior e entenderá como essa disputa se deu em detrimento do progresso do Brasil.

Nos tempos atuais o discurso anti-corrupção ganhou força após a vitória de Lula em 2003, fortalecido por ser o PT, segundo ele próprio propagandeava, o defensor da ética. Ao entrar no poder e se acomodar nas estruturas já existentes, o PT atraiu contra si os raivosos facilmente levados por uma mídia que, a despeito da corrupção, quer mesmo é derrubar um governo que não é alinhado a ela. E a mídia vence o discurso, coloca a todos contra a parede, até o Judiciário. A mídia mais uma vez está vencendo no discurso.

Não importa se o grupo de policiais federais ligado ao juiz Moro seja pró-oposição, e nem se o próprio juiz tem ligação com a oposição. O que importa é ter vazamentos seletivos que prejudiquem seus inimigos. A mídia "apura", julga e condena, e joga para cima dos adversários a massa "indignada". Qualquer menção à necessidade de que a investigação deva ser transferida para outra Vara por um princípio democrático é logo abatida brutalmente.

Continuamos vivendo o clima de combate que se viveu na campanha recém terminada e os objetivos dos "donos da mídia" e seus aliados não é nem de longe "sanear" o país. O objetivo é tomar o poder de assalto, coisa que não conseguiram nas últimas 3 eleições realizadas sob o tacão da "moralidade".

O objetivo continua sendo interromper qualquer projeto de nacionalismo que se estabeleça no país. E no meio de tudo está novamente a Petrobrás (e os interesses das multinacionais) e a elevação do padrão de vida do trabalhador, realidade inconteste nestes últimos 12 anos e que aflige e muito os representantes do 1%.

A reação a tudo isso só será dada no campo político e social. Não há outra alternativa que não seja a luta em defesa do patrimônio nacional e pela continuidade e aprofundamento das políticas sociais e do emprego. A luta mais imediata é defender o governo Dilma dos abutres e, assim, defender o Brasil.

Ricardo Jimenez

Um comentário:

ANTONIO CARLOS disse...

Ricardo, parabéns pelo artigo. Como disse em sua última frase, a luta mais importante no momento é defender nosso país dos abutres de bico comprido.
Sempre acesso seu blog e nunca havia notado na foto, a grama em pleno asfalto. Comparo com o Partido dos Trabalhadores,
nascendo, germinando e crescendo numa pequena fenda em meio ao concreto para se tornar a grande esperança da maior parte do povo brasileiro.

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