América supera Europa e Brasil é o novo epicentro da pandemia: 80 mil mortos até agosto
Semanalmente este Blog tem trazido uma análise sobre a conjuntura política em meio à pandemia. Alertamos que por não ter uma política centralizada de atuação, e pelas atitudes irresponsáveis de Jair Bolsonaro, o Brasil vinha se colocando no epicentro da doença, assim como os EUA, ambos governados por presidentes populistas de extrema-direita afeitos a guerras ideológicas desastrosas. E esse resultado tristemente chegou. O mundo já passa de 4,7 milhões de vítimas da Covid-19 com 315 mil mortos. O continente americano já é o líder de casos com EUA e Brasil liderando. Em termos de mortes temos: EUA (90 mil), Reino Unido (34 mil), Itália (32 mil), França (28 mil), Espanha (27 mil) e Brasil com mais de 16 mil casos. México, Suécia, Holanda, Canadá e Bélgica continuam preocupando, mas é o Brasil que é tido como novo epicentro e o New York Times repercute prognóstico da agência norte-americana IHME que prevê 80 mil mortos até agosto. Enquanto isso, prefeitos e governadores seguem pressionados, o governo federal não aponta saídas sanitárias nem econômicas para a grave crise e o Presidente segue sendo o capitão cloroquina da nau genocida terraplanista que se veste com a camiseta da seleção brasileira.
Capitão cloroquina segue sendo o pior líder do mundo no enfrentamento à pandemia e busca radicalizar na política para não ser derrubado
Nessa última semana o Brasil registrou a triste média de 800 mortes por dia e a previsão é que alcance as 1 mil mortes diárias já em junho. São Paulo, com 4700 mortes, e Rio de Janeiro, com 2600 mortes, apresentam uma média de 180 mortes ao dia. São Paulo dobrou o número de mortes em 2 semanas. Estados como o Ceará, Amazonas, Pernambuco e Pará já superaram as 1 mil mortes e estão com as suas capacidades hospitalares quase no limite e já falam em lockdown. Mas o país segue sendo conduzido pela guerra da desinformação. O Presidente e seus seguidores seguem fazendo aglomerações e parte dos empresários segue pressionando pela reabertura econômica diante da completa falta de perspectiva advinda do governo federal. Isso sem falar nos trabalhadores, muitos já em condições de graves necessidades. Desde o início o Presidente buscou lavar as mãos da responsabilidade do combate à pandemia e buscou o negacionismo desumano e transferir responsabilidade a prefeitos e governadores, e segue fazendo isso. Os 1,3 trilhões destinados aos bancos por Paulo Guedes seguem "empoçados", os pequenos e médios empresários, sem linhas de crédito, demitem e fecham as portas, e os trabalhadores, com os 600 reais, que não chega a todos, que o governo a princípio não queria dar, não dão conta de se sustentarem e são empurrados ao trabalho e à roleta russa da morte. Não estamos protegendo nem a economia nem a vida. Somos hoje um país rumo ao caos econômico, social, sanitário e político enquanto um presidente se veste de capitão cloroquina, gasta 1 milhão por mês no cartão corporativo e segue cada vez mais encalacrado em denúncias, a última feita pelo empresário Paulo Marinho, que cedeu a sua casa no período de campanha, e traz à tona que Bolsonaro teria recebido informações antecipadas sobre a operação que alcançaria Flávio e Queiroz e que as denúncias foram adiadas para não atrapalhar a eleição, o que coloca as eleições de 2018 em forte suspeita de fraude. Queiroz, rachadinha, milícias e Marielle seguem no armário presidencial à espera de uma solução. Bolsonaro tenta radicalizar na política mas tem perdido popularidade, as manifestações de seus seguidores estão cada vez mais esvaziadas e o preço da compra de apoio no Congresso é cada vez mais caro. Sobram o fator militar, que ainda dão sustentação ao governo de extrema-direita, e o fator neoliberal, com boa parte da elite financeira ainda embarcada no projeto de Paulo Guedes. Mas o capitão cloroquina claramente se enfraquece.
Prefeito Nogueira tenta driblar pressão fazendo o jogo do abre e não abre e, assim, fortalece a narrativa bolsonarista
Devido à total falta de atitudes do governo federal no sentido de proteger o pequeno e médio empresário e os trabalhadores enquanto o Brasil enfrenta a pandemia, em uma política premeditada para transferir responsabilidades e fazer guerra política, Prefeitos e governadores seguem duramente pressionados. Diante disso, o Prefeito Nogueira, muito pressionado por empresários, inclusive pelos números ainda baixos de casos e mortes em Ribeirão (464 e 12), faz o jogo do abre e não abre. Na quarta, 13 de maio, Nogueira deu coletiva e se aproveitou do irresponsável decreto presidencial para dizer que ia liberar salões de beleza e academias. No dia seguinte, sabedor de que o decreto do governador é o que realmente baliza as determinações, segundo o STF, voltou atrás. Essa postura fluida acaba por reforçar a falsa narrativa bolsonarista de proteger a economia em detrimento da vida. Que economia Bolsonaro e Nogueira, mais os empresários que pressionam, querem salvar? A economia neoliberal fracassada historicamente e destruída pelo vírus? Veja o exemplo do Madero, cujo dono fez pouco caso da epidemia e que ao reabrir em Curitiba viu o movimento cair a 25%. Veja o Drive Thru de Ribeirão, com dificuldade de se por de pé. Precisamos entender que não será necessário apenas reabrir, pois com a doença em crescimento não haverá retomada alguma. E nem depois, sem uma guinada na política econômica. Mesmo representantes do 'mercado' como o economista André Lara Resende, afirma que sem pesados investimentos públicos não haverá retomada viável. O Prefeito Nogueira bem que poderia defender isso ao invés de tentar salvar empresários de ônibus com adiantamento de 4,5 milhões ou ficar inaugurando obra inacabada de mobilidade preocupado com o calendário eleitoral ou terceirizando ambulâncias, em uma medida investigada em CPI na Câmara. E a falta de atitudes mais concretas do Prefeito em proteger a população mais vulnerável tem exigido dos movimentos sociais e das próprias comunidades a auto-organização e ações de apoio e solidariedade. Essa semana a Vida Nova União e a Comunidade do Bem realizaram campanhas de arrecadação de alimentos, inclusive para seus animais domésticos, com o apoio da OAB-RP, e o MST, novamente, realizou a distribuição de mais de 2 toneladas de alimentos da rede agroflorestal nas comunidades Nazaré Paulista, Vida Nova União, Comunidade da Paz e Comunidade Sete Curvas. Se o poder público municipal tivesse a disposição solidária dos movimentos nós estaríamos muito melhor.
O bolsonarismo, apoiado na Universal, e a direita neoliberal podem crescer em 2020 diante da fragmentação do campo de esquerda?
A desistência do Deputado Federal Marcelo Freixo (PSOL) em disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro, a divisão do PT de São Paulo onde Jilmar Tatto venceu o deputado Alexandre Padilha com 11 votos de diferença e a falta de articulação do campo de esquerda nos 100 maiores municípios do país para as eleições de 2020 acenderam um sinal amarelo para todos. Há claramente uma disputa no campo da direita neoliberal no país. O bolsonarismo, aliado à Universal de Edir Macedo, tenta sobreviver através da radicalização e da compra de apoio do 'Centrão'. É um campo que está perdendo popularidade mas que contará certamente com 25% do eleitorado até o final do ano. Por outro lado, o PSDB de Dória busca se fortalecer a partir do embate midiático entre o governador e o presidente. A saída atirando feita por Moro, com apoio da Globo, e as denúncias agora de Paulo Marinho, ex-aliado e suplente de Flávio Bolsonaro, agora pré-candidato tucano a Prefeito do Rio, mostram claramente esse embate na direita. Estão disputando o apoio do grande capital e do partido militar. Se sair um impeachment de Bolsonaro, a direita em torno de Dória tende a ser a força central. Nesse cenário, qual o espaço cabe à esquerda? PT, PSOL, PCdoB, PSB e PDT têm dificuldades de diálogo e articulação para a construção de uma pauta mínima conjunta de atuação. Desconfianças, ressentimentos, desentendimentos e objetivos particulares parecem superar a aproximação política e programática. Isso aponta para um risco de o campo de esquerda sair como terceira força nas eleições municipais superado pelas duas forças já mencionadas. O que fazer? Colocar o interesse público, histórico acima dos outros. Fazer a autocrítica necessária, diluir politicamente contendas passadas e presentes e ser capaz de ceder quando necessário. Formar coligações em torno de candidaturas mais fortes para enfrentar bolsonarismo e o projeto de Dória e criar uma base política municipal para as eleições de 2022. Ainda é tempo. Aqui em Ribeirão Preto PSB/PDT/PT/PSOL/PCdoB se dividirão em ao menos três candidaturas: duas de esquerda (uma do PT e outra do PSOL) e uma de centro, com PSB, PDT e PCdoB provavelmente juntos. Seria interessante ter PT e PSOL juntos em uma única chapa, mas o diálogo para isso não avançou. Corremos o risco de termos em Ribeirão um segundo turno entre Nogueira (PSDB) e um candidato de extrema-direita? Sim, corremos, mas o mais provável é que o campo de centro vá ao segundo turno, também com possibilidades de fortalecimento de uma candidatura à esquerda. Mas será preciso muito mais esforço ao campo de esquerda para que ele se constitua em um pólo de força capaz de disputar o poder e fazer frente simultaneamente à extrema-direita e ao projeto neoliberal.
Blog O Calçadão
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