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domingo, 10 de maio de 2020

Resumo da Semana (10/05/2020): estudo HC/USP mostra que flexibilização só quando casos decrescerem


Mundo registra mais de 4 milhões de infectados, 282 mil mortos e mantém curva crescente desde meados de março   


O mundo registra neste domingo (10/05/2020) mais de 4 milhões de casos de infecção pelo novo coronavírus com 282 mil mortes (7% de letalidade). Desde meados de março a curva de contaminação e de mortes é crescente e a epidemia ainda não atingiu seu pico, apesar de ainda se concentrar fortemente nos EUA e na Europa. Entre os países os EUA lideram com 1,3 milhão de casos e 80 mil mortes (6,1% de letalidade), seguido por Reino Unido (220 mil casos/32 mil mortes), Itália (219 mil casos/30 mil mortes), Espanha (225 mil casos/27 mil mortes) e França (139 mil casos/26 mil mortes). Outros países são fontes de preocupação como a Bélgica (53 mil casos/ 9 mil mortes), a Holanda (43 mil casos/5,5 mil mortos), o México (34 mil casos/3,5 mil mortos), a Suécia (26 mil casos/3 mil mortes) e o Brasil, que neste domingo registra 163 mil casos com 11123 mortes, com um índice de letalidade de 6,8% e uma média de 700 mortes por dia, e que apresenta a maior taxa de contágio do mundo. Dentre as regiões brasileiras, São Paulo segue na liderança (também com curva crescente de contaminação e mortes) com mais de 45 mil casos e 3,7 mil mortes seguido por Rio de Janeiro (onde a doença avança rápido) com 17 mil casos e 1714 mortes, Ceará (16 mil/ 1 mil mortos), Pernambuco (13 mil/ 900 mortes) e Amazonas (12 mil / 850 mortes). Um estudo realizado pelo HC/Faculdade de Medicina USP-RP mostra que o Brasil já teria chegado a 2 milhões de casos, indica o Brasil como novo candidato a epicentro da pandemia e indica que uma flexibilização do isolamento social só deve acontecer quando os números de contaminação e de mortes começarem a cair e qualquer comportamento ou política diferente disso agora é flertar com a morte de centenas de milhares de inocentes. Não se anda de jet ski nem se faz churrasco diante dessa tragédia.

Decreto do governador prorroga quarentena até 31 de maio, entidades patronais fazem nota de repúdio e Ribeirão Preto receberá 86 milhões do governo federal

Enquanto as curvas de contaminação e de mortes seguem em crescimento no mundo, no Brasil e em São Paulo, os números oficiais de contaminação e mortes em Ribeirão Preto seguem baixos (veja estudo do HC que prevê 8,1 mil contaminados na cidade), com 343 casos e 8 mortes, o que aumenta a pressão das entidades patronais sobre a Prefeitura e sobre Nogueira, que essa semana foi colocado como integrante do Comitê Estadual de "Retomada", criado por Dória. O governador, diante dos números crescentes, determinou a prorrogação da quarentena até dia 31 de maio, levando com isso junto os demais municípios paulistas. Entidades patronais, alegando que haverá quebra de empresas, emitiram uma Nota de Repúdio, dentre elas a ACIRP, que em 2016 ameaçou fechar o comércio do centro da cidade em apoio ao impeachment de Dilma Roussef.
Enquanto isso, o Prefeito libera o atendimento drive thru no comércio, recorre e ganha na Justiça o direito de determinar o retorno de parte dos profissionais da educação ao trabalho nas escolas e a região metropolitana receberá 210 milhões de reais de ajuda do governo federal. Sendo 86 milhões para Ribeirão Preto. Ao invés de se confrontar com a realidade e ficar combatendo o necessário isolamento social, enquanto houver avanço da doença, as entidades patronais bem que poderiam fazer o enfrentamento político correto, que é lutar por mais recursos para a ajuda a trabalhadores e empresas. 86 milhões de reais não cobrem nem 20% do déficit fiscal esperado para Ribeirão Preto esse ano e problemas grandes aguardam no debate municipal, como os contratos de lixo, de transporte coletivo, de tratamento de esgoto, a ameaça de privatização do Daerp, o buraco sem fundo da Coderp e o endividamento do município, além da expansão mais do que necessária da saúde e da educação. Com a mesma agenda neoliberal, privilegiando o setor financeiro e promovendo a precarização e exploração do trabalho, com deterioração do serviço público e do orçamento, não chegaremos a lugar algum. Nem mesmo comemorar o dia das mães duas vezes irá nos salvar. Liberar abertura de shoppings, academias, igrejas e clubes sociais agora é expôr a cidade e o trabalhador à uma doença que, até agora, não tem cura nem tratamento, e ainda não chegou ao pico no país.

A Nova Economia de Francisco: com fracasso histórico neoliberal, Papa Francisco lidera os esforços para pensar uma nova economia, mais justa e sustentável

O neoliberalismo, etapa do capitalismo adotado pelos centros financeiros em substituição aos Estados de Bem-Estar Social a partir de 1980, é um fracasso há 40 anos, provocando concentração de renda, desemprego, pobreza e destruição ambiental. Os números explicam facilmente esse fracasso. A OXFAM compila dados da concentração de renda desde 1980 e mostra que nesses 40 anos, 82% das riquezas produzidas se concentraram em poder do 1% mais rico enquanto mais de 4 bilhões de seres humanos vivem com menos de 10 dólares por dia. Dados da Organização Internacional do Trabalho  (OIT) mostram que o neoliberalismo privilegia os lucros do capital e deprecia os rendimentos do trabalho. Entre 1980 e 2019 os rendimentos da massa salarial mundial caiu 13%, com intensa precarização e perda de direitos trabalhistas. Também é importante ler a obra "A Era do Capital Improdutivo" de Ladislaw DowborDados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) mostram que a concentração do capital também gerou concentração tecnológica em poder de poucas dezenas de corporações transnacionais, causando desindustrialização dos países em desenvolvimento, como o Brasil (que lidera o ranking mundial da desindustrialização), causando empobrecimento dos empregos oferecidos e rebaixamento dos ganhos no comércio internacional (veja o conteúdo do trabalho dos professores Paulo Gala e Laura Carvalho sobre o neokeynesianismo). Dados da Organização das nações Unidas (ONU) mostram que o período neoliberal representa a etapa mais devastadora do meio ambiente, eliminando a possibilidade de existência entre o padrão de exploração e a capacidade de recuperação do planeta, isso sem falar na segurança alimentar e na destruição do patrimônio cultural e alimentício da populações tradicionais e da agricultura familiar. Concentração de renda, empobrecimento dos trabalhadores, desindustrialização e destruição ambiental são os legados do neoliberalismo. Além do crescimento da extrema direita com trumps e bolsonaros, após a crise de 2008. A pandemia só veio desmontar de vez esse sistema que não interessa aos povos do mundo. Nesse sentido, e como a maior liderança humanista da atualidade, Francisco, antes mesmo da pandemia, buscou organizar o pensamento de uma nova economia, com a ajuda de dois prêmio Nobel: o norte-americano Joseph Stiglitz e o indiano Amartya Sen. Francisco quer pensar uma economia com o ser humano no centro, que distribua renda, que garanta os direitos mínimos de vida digna para todos e que seja um modelo que preserve o patrimônio ambiental. Uma economia anti-neoliberal, diferente do modelo falido mas vendido como única solução para o mundo. Os eixos principais são: justiça social, ética, humanismo, agroecologia e economia solidária. Qualquer tipo de mudança econômica depende fundamentalmente da organização e da luta da classe trabalhadora e a iniciativa de Francisco acena para essa conexão.

Uma nova economia, anti-neoliberal, é tudo que o Brasil precisa

E Ribeirão Preto também, para se pensar em uma cidade mais humana, desenvolvida e sustentável. Onde a população tenha acesso aos seus direitos sociais como saúde, educação e moradia. Onde a mobilidade urbana e pública se integre em uma cidade mais acolhedora e aberta à convivência saudável das pessoas. Onde o ser humano substitua o dinheiro e o automóvel como centralidade. Onde o bem-estar social e ambiental prevaleçam. Ser anti-neoliberal é ser a favor da vida.

Blog O Calçadão



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