Ricardo Rodrigues Jimenez
para o Blog O Calçadão, 23 de novembro de 2021.
Uma análise
política realista e confiável precisa ser feita da extração de informações a
partir de uma sólida base de dados. Dessa forma, olhando para o objetivo
fundamental de derrotar o projeto tucano em São Paulo, que se repete por longos
27 anos, e substituí-lo por um projeto popular de desenvolvimento com inclusão
social que com certeza passa pela formação de uma bancada forte, seja na
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo seja na Câmara dos Deputado em
Brasília. Assim, preparamos este estudo sobre o mapa eleitoral do PT e do PSOL no Estado
nas eleições de 2018, para os cargos de Deputado Federal e Deputado Estadual,
no sentido de construir um cenário que aponte caminhos para as eleições de
2022.
Para tanto,
buscamos no repositório de dados do TSE e na base de dados da CepespData/FGV, o
consolidado de dados da eleição de 2018 no Estado de São Paulo subdividido por
mesorregião, uma classificação administrativa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, IBGE.
De acordo com
essa classificação, o Estado de São Paulo possui 15 Mesorregiões:
1.
Mesorregião de Araçatuba
2.
Mesorregião de Araraquara
3.
Mesorregião de Assis
4.
Mesorregião de Bauru
5.
Mesorregião de Campinas
6.
Mesorregião de Itapetininga
7.
Mesorregião do Litoral Sul Paulista
8.
Mesorregião Macro Metropolitana Paulista
9.
Mesorregião de Marília
10.
Mesorregião Metropolitana de São Paulo
11.
Mesorregião de Piracicaba
12.
Mesorregião de Presidente Prudente
13.
Mesorregião de Ribeirão Preto
14.
Mesorregião de São José do Rio Preto
15.
Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista
Veja no mapa:
Figura 1: O Estado de São Paulo por Mesorregiões. Fonte https://www.baixarmapas.com.br/mapa-de-mesorregioes-do-estado-de-sao-paulo/
2. DADOS GERAIS
Tamanho do
colégio eleitoral
O Estado de São
Paulo é o maior Colégio Eleitoral do país, com mais de 33 milhões de eleitores
aptos a votar em 2018, sendo que a Região Metropolitana de São Paulo
corresponde a mais de 51% do colégio eleitoral do estado. Somada com a
mesorregião Macro Metropolitana Paulista o tamanho chega a quase 58%
do colégio eleitoral. Quando consideramos o tamanho dos colégios eleitorais que
compareceram às urnas, a proporção praticamente não se altera.
Comparecimento
Ao analisarmos a
taxa de comparecimento às urnas em 2018, observamos uma diferença entre as
mesorregiões que variam entre 68% a 81%, sendo que a taxa de comparecimento no
Estado de São Paulo foi de 78,5%. Vale observar que o comparecimento às urnas nas
regiões metropolitanas foi maior que no interior do Estado.
Abstenção
A taxa de abstenção ficou em 21,5%, ou seja, o número de pessoas que não compareceram às urnas foi mais de 7 milhões de pessoas no Estado de São Paulo.
3. CARGO DE DEPUTADO FEDERAL
Brancos e nulos
Os votos brancos
e nulos para o cargo de Deputado Federal somam mais de 4,6 milhões de votos, o
que corresponde a quase 18% dos eleitores que compareceram às urnas, variando
nas mesorregiões de 12,8% a 21,5%. É importante essa ressalva, pois um eleitor,
que compareceu às urnas, pode votar para Presidente ou Governador e votar em
branco ou nulo para Deputado Federal.
Válidos
Por fim, os votos
válidos, votos nominais e em legenda, para o cargo de Deputado Federal no
Estado de São Paulo no 1º turno em 2018 se aproxima de 21,3 milhões. A
proporção dos votos válidos por mesorregião praticamente não se altera quando
comparada com o comparecimento.
Quando analisamos
o número de eleitores aptos a votar (33 mi) com o número de eleitores que
efetivamente votaram para o cargo de Deputado Federal (21,3 mi) percebemos que
quase 12 milhões de eleitores não votaram para esse cargo (35,5%), o que
resultou em 64,5% de votos válidos.
O PT teve pouco mais de 2 milhões de votos para o cargo de Deputado Federal, em um universo de 21,3 milhões, o que corresponde a 9,76% do total de votos válidos.
Região Metropolitana de São Paulo (1,31): de um total de
10,8 milhões de votos válidos, o PT obteve 1,4 milhão para deputado federal
(12,8%). A região deu 67% dos votos para deputado federal do PT. Ou seja, de
cada 3 votos dados ao PT, dois vieram da região metropolitana. O desempenho do
PT nessa região foi 31% superior ao que ele obteve no Estado (é o que indica o Índice QL =1,31).
Araraquara (0,95) e Campinas (0,92): as únicas duas
regiões fora da região metropolitana de São Paulo onde o PT manteve seu
desempenho médio.
Marília (0,44), Bauru (045), São José do Rio Preto (0,50), Piracicaba (0,50): as mesorregiões
de pior desempenho proporcional do PT para deputado federal em 2018 com desempenho igual ou menor que metade do desempenho no Estado.
Ribeirão Preto (0,57): dos 1,1 milhão
de votos válidos, o PT recebeu pouco mais de 64 mil votos (5,6%). Um índice um
pouco acima do das piores mesorregiões.
O PSOL teve pouco mais de 900 mil de votos para o cargo de Deputado Federal, em um universo de 21,3 milhões, o que corresponde a 4,30% do total de votos válidos.
Região Metropolitana de São Paulo (1,36): de um total de
10,8 milhões de votos válidos, o PSOL obteve 636mil para deputado federal (5,86%).
A região deu 69% dos votos para deputado federal no PSOL. Ou seja, 7 em cada 10
votos dados ao PSOL, vieram da região metropolitana (o PSOL é ainda mais
dependente da região metropolitana que o PT). O desempenho do PSOL nessa região
foi 36% superior ao que ele obteve no Estado.
Araraquara (1,02): a única região
fora da região metropolitana de São Paulo onde o PSOL manteve seu desempenho
médio.
Araçatuba (0,29), Presidente Prudente (0,35), Assis (0,36), Litoral
Sul (0,38), Marília (0,44), São José do Rio Preto (0,47), Bauru (0,50) e Itapetininga (0,51): as mesorregiões
de pior desempenho proporcional do PSOL para deputado federal em 2018. Nessas
regiões seu desempenho médio foi metade ou menos do que o partido obteve no Estado.
Ribeirão Preto: dos 1,1 milhão
de votos válidos, o PSOL recebeu quase 30 mil votos (2,6%). Um índice um
pouco acima do das piores mesorregiões.
4. CARGO DE DEPUTADO ESTADUAL
O número de votos brancos e
nulos para o cargo de Deputado Estadual foi de 4,9 milhões de votos, cerca de
300 mil votos a mais que para o cargo de Deputado Federal. Esse é um dado interessante,
pois o eleitor que compareceu às urnas escolheu votar para deputado federal,
mas se absteve de votar em deputados estaduais.
Válidos
O número de votos válidos
para o Cargo de Deputado Estadual foi de 21 milhões (81% do total), quase 300
mil votos a menos que para o cargo de deputado federal. Esse número é 1,4%
menor que o número de votos válidos para o cargo de Deputado Federal (21,3
milhões).
O PT
teve pouco mais de 2 milhões de votos também para o cargo de Deputado
Estadual, em um universo de 21 milhões, o que equivale a 9,6% dos votos
válidos, um pouco inferior ao desempenho do partido para o Cargo de
Deputado Federal (9,76%), sendo que foram quase 65 mil votos a menos.
Mesorregião
Metropolitana de São Paulo: Novamente a mesorregião
teve expressiva importância na votação do PT. Foram mais 1,3 milhões de
votos, o que representou mais de 68% dos votos do partido para o
cargo, muito embora, essa região represente cerca de 51% do colégio eleitoral
do Estado. Ou seja, a distribuição de votos para o partido não ocorre de forma
igual e proporcional às regiões. Novamente a votação do partido fica mais
concentrada na RMSP. Essa expressiva votação pode ser enumerada pelo índice QL
de 1,34 que indica que a votação nessa região foi de 34% maior que a média do
Estado.
Araraquara
(1,05): a única região fora da região metropolitana de São Paulo onde o PT
manteve seu desempenho médio.
Marília
(0,29), Bauru (0,42) e Piracicaba (0,52): as mesorregiões do
Estado com o pior desempenho do PT para o cargo de Deputado Estadual.
O PSOL
teve pouco mais de 906 mil de votos também para o cargo de Deputado
Estadual, em um universo de 21 milhões, o que equivale a 4,30%
dos votos válidos, o mesmo desempenho do partido para o Cargo de Deputado
Federal (4,30%), sendo que foram quase 10 mil votos a menos. A
proporção se manteve porque o número de votos válidos para Deputado Estadual foi inferior
ao cargo de Deputado Federal.
Mesorregião
Metropolitana de São Paulo (1,27): Novamente a mesorregião
teve expressiva importância na votação do PSOL. Foram mais 582mil de
votos, o que representou mais de 64% dos votos do partido para o
cargo, muito embora, essa região represente cerca de 51% do colégio eleitoral
do Estado. Ou seja, a distribuição de votos para o partido não ocorre de forma
igual e proporcional às regiões. Novamente a votação do partido fica mais
concentrada na RMSP. Essa expressiva votação pode ser enumerada pelo índice QL
de 1,27 que indica que a votação nessa região foi de 27% maior que a média do
Estado.
Macro
Metropolita Paulista (1,21), Araraquara (1,13): São
José do Rio Preto (1,03) foram as mesorregiões fora da região
metropolitana de São Paulo onde o PSOL teve bons desempenhos, superiores ao desempenho
médio.
Araçatuba (0,31), Assis (0,38), Litoral Sul (0,38), Marília (0,29), Bauru (0,41), Itapetininga (0,41), Presidente Prudente (0,48) e Piracicaba (0,50): as mesorregiões do Estado com o pior desempenho do PSOL para o cargo de Deputado Estadual.
4. COMPARAÇÃO PT
Comparando o
número de votos para o PT para os cargos de Deputado Federal e
Deputado Estadual, o partido perde quase 65 mil votos (3%). No entanto,
conforme mencionamos acima, o número de votos válidos para Deputado Estadual
foi 1,4% abaixo que o número de votos válidos para Deputado Federal. Assim,
podemos concluir que o PT perdeu proporcionalmente mais votos que os demais
partidos.
Em quase todas as
mesorregiões houve perda de votos sendo que os piores resultados foram na Mesorregião
de Marília (-34%), Assis (-26%), Araçatuba (-25%).
Em números
absolutos, as mesorregiões que perderam mais votos foram: Campinas (-22 mil) e
Metropolitana de São Paulo (-18,5 mil).
Por outro lado,
houve ganho de votos significativos em São José do Rio Preto (28%, mais de 11
mil votos), Araraquara (8%, quase 3 mil votos) e Piracicaba (2%).
Essas diferenças
podem ter relação com chapas de políticos locais. Esses números também podem
dar apoio a formação de dobradinhas e indicar ao partido onde fortalecer
candidatos a Deputado Estadual.
Comparando o
número de votos para o PSOL para os cargos de Deputado Federal e
Deputado Estadual, o partido perde mais de 8 mil votos (1%). No entanto,
conforme mencionamos acima, o número de votos válidos para Deputado Estadual
foi 1,4% abaixo que o número de votos válidos para Deputado Federal.
Assim, podemos concluir que o PSOL perdeu proporcionalmente MENOS votos que os
demais partidos.
As mesorregiões com maiores perdas percentuais
de votos foram Piracicaba ( -22%), Itapetininga (-18%) e Bauru (-17%).
A Mesorregião Metropolitana de São Paulo
foi a mesorregião com maior perda absoluta de votos (- 54mil).
Por outro lado, o PSOL conseguiu, em algumas
mesorregiões aumentar muito seus votos para Deputado Estadual: Macro
Metropolitana Paulista (mais de 25mil votos, aumento de 53%); São José do
Rio Preto (mais de 19mil votos, aumento de 116%) e Presidente Prudente (mais de
2,6mil votos, aumento de 35%).
5. Considerações
A partir dos
dados, observamos que tanto o PT como o PSOL têm maior base eleitoral na Região
Metropolitana de São Paulo, sendo que mais de dois terços dos votos de cada um
dos partidos, em 2018, veio dessa região (independente do cargo em disputa, deputado
federal ou deputado estadual). Além disso, o desempenho de ambos cai muito pelas
mesorregiões do interior com algumas mesorregiões muito críticas cujo desempenhos
dos partidos é menor que metade da média do Estado.
A única mesorregião
do interior em que ambos os partidos se saem bem é a mesorregião de Araraquara
e esse resultado merece melhor atenção. Uma possibilidade é a presença forte do
prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT) o que indica que o prefeito pode sim
ter grande influência nas eleições para deputados estadual e federal.
O PT teve, em
2018, pouco mais que o dobro do número de votos que teve o PSOL no Estado (e em
praticamente todas as mesorregiões) em ambos os cargos. Ainda assim, a soma dos
votos de PT e PSOL não chegou a 15% dos votos válidos nos cargos em questão. Logo,
para a formação de uma bancada forte seja na Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo seja na Câmara dos Deputados em Brasília, ambos partidos precisam
melhorar esse número. Olhar para cada uma das mesorregiões pode ser um
indicativo. Por outro lado, a Mesorregião Metropolitana de São Paulo também
merece ser observada com maior atenção uma vez que ela sozinha concentra mais
de 50% do eleitorado.
A partir dos
cenários eleitorais para deputado federal e estadual do PT e do PSOL em 2018 é
possível compreender que a esquerda só vencerá no estado de São Paulo quando
conseguir aumentar os votos no interior. Como fazer isso?
Há alguns
caminhos a se considerar:
1. Uma adequada
política de alianças capaz de dar capilaridade em pequenos e médios
municípios;
2. Fortalecimento
dos diretórios municipais, com formação de quadros militantes capazes de
conduzir o debate político em suas cidades e levar junto o programa partidário;
3. Melhorar o
conhecimento sobre o interior e suas regiões. O interior não é homogêneo.
Há diferenças importantes entre as mesorregiões: diferenças políticas,
econômicas e culturais;
4. Avançar no
diálogo com a juventude, com as mulheres e com população negra, setores do
eleitorado que se destacam hoje nas pesquisas na rejeição a Bolsonaro, e com as
periferias das grandes e médias cidades do interior como Campinas, Ribeirão
Preto, Araraquara, São José do Rio Preto e outras que, apesar das diferenças,
compartilham problemas sociais comuns.
Ou seja, a esquerda só vencerá em São Paulo se for capaz de olhar para o interior e construir massa crítica militante e de massa nas diversas regiões do estado.
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