Em tempos de pandemia de
coronavírus, o grande desafio do Brasil é estar um passo à frente em relação a dinâmica
da epidemia. Temos que executar já o que queremos ter quando o maior impacto
dos casos acontecer, no início do nosso inverno.
Os dados obtidos nos demais
países em relação ao coronavírus são: 5% dos casos evoluem para UTI e 10%
internação. Com isso, é possível calcular a necessidade de leitos de UTI. Se
essa demanda não começar a ser tocada agora, em 90 dias os leitos não estarão
prontos, instalados e funcionando.
É importante lembrar que em 11
dias começa o Outono no Brasil. Em três meses, teremos o Inverno. Essa é a minha
grande preocupação. Independente do coronavírus, o inverno deve ser muito
complexo para as redes pública e privada de saúde. E isso é consequência do
golpe e dos desmontes implementados nos últimos anos. A população vulnerável
aumentou. Na cidade de São Paulo, por exemplo, dobrou a população de rua. Em
Belo Horizonte, triplicou a população em situação de rua. Os dados do
Ministério da Saúde de 2019 mostram que aumentou a internação e crianças de até
5 anos de idade por pneumonia - o que é um indicador extremamente sensível
sobre a perda da resolutividade da atenção primária em saúde.
Outra consequência do desmonte e
da redução dos trabalhadores e trabalhadoras com carteira assinada é o aumento
da população SUS exclusiva. Isso porque caiu o número de usuários de planos de
saúde. Tivemos também o fechamento de diversos equipamentos importantes da
Assistência Social, que são equipamentos decisivos, por exemplo, os leitos de
longa permanência para idosos e casa de acolhimento para idosos.
Como já foi em 2019 este desmonte
do SUS já mostrou seus sinais, não à toa aumentou mortalidade de dengue e
aumentou internação por pneumonia de crianças até 5 anos de idade. Podemos ter um inverno rigoroso com uma
pressão maior sobre esses serviços públicos de saúde com o coronavírus. Pessoas
que normalmente ficariam em casa por conta de um resfriado, procurarão os
Prontos Socorros e as UPAs.
Não podemos titubear em nenhum
protocolo de segurança, como o que ocorreu com a ANVISA, que teve dificuldade
de manter todas as equipes de vigilância nos portos e aeroportos em janeiro e
fevereiro deste ano. Essa situação é inaceitável. Precisamos nos antecipar para
que não exista essa redução de equipes, com dificuldade de plantão. Se for
preciso, é necessário que seja feita mobilização de funcionários de outras
áreas, inclusive convocar aposentados. Só assim poderemos ter a presença
completa das equipes de vistoria nos portos e aeroportos.
Sobre vacinação: eu defendo e espero que o Ministério da
Saúde concretize a redução da faixa etária para 55 anos. Precisamos aproveitar
essa oportunidade para vacinação de influenza.
Também é preciso garantir médicos em equipe da família que
hoje estão sem esses profissionais, como nas capitais, nas regiões
metropolitanas, nas comunidades como a Rocinha, todas as áreas vulneráveis. É
necessário que o Ministério da Saúde faça a reposição imediata dos médicos, se
não houver atenção primária forte, a sobrecarga sobre os hospitais vai ser
impossível de controlar. Essa reposição, ao que parece, começará a ser feita
brevemente, pois o Ministério da Saúde, que havia cancelado editais do Programa
Mais Médicos para as capitais e regiões metropolitana, soltou novo edital nesta
quarta-feira (11). Mas é necessário trazer os médicos brasileiros formados no
exterior e os médicos cubanos que moram no Brasil.
O Ministério da Saúde também precisa atuar em outra frente,
que é o acompanhamento econômico e a regulação econômica dos itens. É preciso
ser fortemente enfrentado o aumento abusivo do preço das máscaras, do álcool em
gel, ou seja, do conjunto dos produtos.
Neste momento, sugiro que a
ANVISA, que coordena nosso sistema de vigilância, reúna as vigilâncias
estaduais e municipais, e o CONASS e o CONASEMS, sob coordenação do Ministério,
para definir critérios para determinações sanitárias de bloqueio de eventos.
Isso precisa ser feito de forma prévia, pois, com o crescimento dos casos de
influenza, doenças respiratórias e coronavírus é preciso gerar medidas de
contenção de eventos descoordenadas. O resultado será o crescimento da
preocupação da população e uma descoordenação nacional das ações.
*Alexandre Padilha é
médico, professora universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da
Coordenação Política de Lula e da Saúde da Presidenta Dilma Rousseff. Foi Secretário
de Saúde de São Paulo na gestão Fernando Haddad.
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