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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Grécia: coação e desrespeito, eis a democracia dos financistas!

A Grécia é o retrato da Europa pós união europeia. O vitorioso sistema de bem-estar social, implantado no pós-guerra, foi aos poucos sendo removido pela visão do financismo neoliberal e colocado o ônus na conta do povo.

Aquilo a que estamos acostumados há tempos por estas bandas, se tornou o martírio dos europeus, principalmente os europeus da Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, Polônia, Itália, Ucrânia e outros países satélites da dupla França e Alemanha, no sistema montado a partir de 1994 no velho continente: arroxo fiscal, Estado mínimo, reformas previdenciárias extorsivas, desemprego, crise. 

A receita também é bem conhecida por nós sul-americanos: mais cortes, mais arroxo, mais juros e mais extorsão sobre a renda do trabalhador.

É um sistema montado para sugar o sangue dos trabalhadores e para transformar os Estados nacionais em meros chanceladores das decisões do tal "mercado".

O PIB mundial quadruplicou nos últimos 30 anos, mas o desemprego estrutural se tornou epidemia, a pobreza aumentou e a renda se concentrou de maneira brutal: 1% detém quase 99% de tudo o que é produzido no mundo e restam aos 99%  cada vez mais as migalhas.

Tal como aqui, onde a reação popular se fez valer nos últimos anos (elegendo governos de esquerda), tendo como resposta a violência do sistema, apoiado em estruturas de mídia compradas (não à toa Argentina, Venezuela e Equador investiram em reformas de mídia), lá na Europa a coisa se repete. Apesar de espasmos ainda tímidos na Espanha e na Alemanha, é na Grécia onde ocorre a reação mais direta.

O esquerdista Syriza venceu as eleições com uma proposta bem clara: "não vamos mais ficar passivos diante da extorsão dos mercados. 45% da juventude desempregada é o nosso limite". E a democracia, a soberania popular, resolveu eleger este grupo, esta proposta.

O que fez a União Europeia? Iniciou a maior e mais violenta reação a um pequeno país da Europa dos tempos atuais. Só por 1 bilhão. Um bilhão!!!

1 bilhão, senhores, a UE e os mercados ganham em 1 minuto na ciranda financeira. Mas eles querem o sangue grego por 1 bilhão.

Faltam menos de 24 horas para esgotar o tempo grego, como num sequestro onde é apontado para a cara da Grécia o cano de um berro. O terror implantado fez os gregos correrem às agências bancárias, derrubou as bolsas. Qual a resposta da UE a tudo isso? Alguma palavra para tentar acalmar a situação? Algum tempo a mais para o diálogo? Não.

"Nos sentimos traídos", eis a palavra da executiva da UE sobre o caso ao saber que o ministro grego resolveu consultar o povo através de um referendo. Nenhuma palavra de conforto, apenas de confronto.

O caso grego é didático. A soberania popular, pilar básico da democracia, não vale nada diante do deus mercado. Desespero, sofrimento, caos não significam nada. Ou a Grécia salda os 1 bilhão (mesmo cortando na carne do povo) ou a UE decretará "sanções".

É um grande exemplo para nós.

Depois de 12 anos de tímidas políticas desenvolvimentistas, mas que serviram de contraponto no mundo, pois se avançou na renda e na inclusão social enquanto o mundo desempregava as pessoas, o que se vê é uma reação violenta. 

Há 9 anos descobrimos jazidas enormes de petróleo no pré-sal e acendeu-se o estopim do golpe.

Há 6 anos um governante decidiu que estas jazidas seriam exploradas com 30% de participação da empresa nacional (em regime de partilha) e que os royalties da exploração iriam para a educação e saúde. Há exatos 6 anos um candidato a presidente da oposição foi flagrado prometendo reverter tudo isso em favor de uma multinacional estadunidense. Há exatos 5 dias o presidente do parlamento prometeu "corrigir" o erro cometido por Lula "em tempo rápido" a partir de um projeto entreguista formalizado por aquele candidato, hoje senador por São paulo. Tudo magnificamente apoiado em uma mídia interessada em "delações" com vazamentos premiados para fustigar o governo.

Eleita com o discurso da manutenção do desenvolvimento, a Presidente (após tentar baixar os juros e a conta de energia elétrica) é forçada a romper com tudo e abraçar as receitas do "mercado". Juros, cortes, superávits, arroxo. E o "mercado' ouve o tilintar das moedas.

A artimanha tem reflexos na política. Hoje o maravilhoso presidente da Câmara, eleito com 6 milhões doados por bancos, planos de saúde e empresas (e após constitucionalizar as doações empresariais em uma manobra criminosa) colocou mais uma vez sua cunha: "queremos o parlamentarismo e rápido. O executivo não libera as verbas parlamentares e não podemos mais esperar". Eis a canalhice explícita!

Coação, desrespeito, eis a democracia dos canalhas!

Ricardo Jimenez

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