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sábado, 25 de julho de 2015

Os esqueletos do passado e a greve dos petroleiros!


Esqueleto do passado é a expressão que se usa para definir algo que volta das profundezas de uma realidade insepulta para assombrar o presente, geralmente com intenções reacionárias.

É exatamente isso que tem marcado os tempos presentes: esqueletos insepultos do passado regurgitando suas últimas armas para manter sob seus domínios a República Federativa do Brasil.

A greve dos petroleiros decretada em todo o país contra o PL 131 de José Serra (que retira a Petrobrás dos contratos do pré-sal) é o grito de consciência que deve alcançar os ouvidos dos nacionalistas, dos progressistas, dos Trabalhistas para o momento decisivo que vivemos, e que tem as gigantescas jazidas de petróleo como estopim.

Explico.

O golpe de 1964 contra o Presidente João Goulart, e os 21 anos de ditadura que se seguiram, foi a panela que cozinhou o situação de hoje. De lá vieram dois esqueletos que estão no cerne da questão atual: a mídia monopolizada e o centro político conservador patrimonialista, juntos e misturados.

Ambos dividiram o poder político do pós ditadura. Nos anos de governo Sarney, os magnatas da mídia (criados na ditadura) espalharam suas concessões de rádio e televisão pelo interior do país colocando-as nas mãos de retransmissoras pertencentes aos políticos patrimonialistas saídos da concertação da Nova República, tendo na Lei de Anistia seu maior símbolo e no "centrão" da constituinte o seu resultado mais prático.

Ao não resolver de maneira eficaz e com justiça os crimes da ditadura, mantendo seus instrumentos vivos até hoje, e ao monopolizar a informação nas mãos de meia dúzia de magnatas e seus sócios políticos, o Brasil criou um monstrinho.

Agindo de maneira objetiva, esse grupo de poder político e financeiro foi, nos anos 1990, o sustentáculo dos governos FHC e do desmonte neoliberal. O PSDB, com seu verniz democrático e intelectual, foi o ninho onde se aconchegaram os magnatas da mídia e o "centrão". Eis o braço maior da Casa Grande, que acreditava poder governar o país por 20 anos. 

A Companhia Vale do Rio Doce não escapou. A Petrobrás só escapou porque ela tem por trás de si uma história de nacionalismo resistente e porque os danos econômicos provocados pelos 8 anos de tucanato foram tão profundos que o povo reagiu antes e não houve tempo hábil de concretizar os planos.

Lula e o PT cresceram na oposição a esse grupo dominante. São os representantes dos movimentos populares ressurgidos no final dos anos de chumbo e que ocuparam o lugar do Trabalhismo varguista. Eram o contraponto à patranha dominante. Perderam 3 eleições até Lula compreender que precisava fazer alianças à direita. Lula fez seu primeiro mandato sob intensa crise política até entender que precisava fazer uma divisão de poder com o maior e mais pragmático representante do "centrão", o PMDB. Lula governou somente para os mercados até encontrar em alguns aspectos do Trabalhismo a sua marca: os avanços sociais via atuação do Estado.

Foi aí, na opinião deste pequeno blog, que o caldo entornou. Mesmo não rompendo em momento algum com o modelo econômico hegemônico capitalista, ao propiciar a ascensão de amplas massas na sociedade de consumo, Lula, a partir de seu segundo mandato, incomodou a Casa Grande. Seu simbolismo no imaginário popular ficou grande demais. E, para completar o cenário, Lula descobre o pré-sal, nacionaliza-o e faz a sua sucessora. O "mito" Lula e as gigantescas jazidas nas mãos da Petrobrás "petista" era demais para a Casa Grande suportar. O conluio mídia-tucanato, defenestrado do poder central em 2003, não podia conviver mais com isso. 

Bingo. 

O campo de guerra voltou a se formar. O antigo embate em torno do projeto nacional (ocorrido em 1932, 1954 e 1964) voltou a se armar. Entreguismo vs Nacionalismo, com as nuances e especificidades do tempo, voltam a se enfrentar e a desafiar a saúde da democracia brasileira.

Tudo que vivemos de 2010 para cá (a saber: jornadas de junho de 2013, campanha anti-Copa, investigação na Petrobrás, operações midiáticas com vazamentos seletivos, perseguição contra a imagem de Lula, micaretas coxinha televisionadas e o atual movimento do impeachment conduzido pelo grupo de Aécio Neves e Eduardo Cunha) nada mais é do que parte desse embate maior, fora das regras democráticas, e que em breve terá um desfecho.

A greve dos petroleiros vai direto nesse ponto, politiza o debate, mostra essa realidade e por isso serve do símbolo desse artigo.

Impossível prever o desfecho, mas é possível enxergar que ele passará pela Presidente Dilma. A história é assim, recoloca as pessoas em situações já vividas. Em 1972, a menina Dilma, 21 anos, enfrentava um julgamento militar de cabeça erguida enquanto seus opressores escondiam o rosto, numa foto histórica. Dilma, com sua frase "sou resistente porque sei que uma hora tudo passa", confiou na democracia e na sua dignidade moral para dar a volta por cima e chegar na Presidência. Agora faz o mesmo. De cabeça erguida espera que a nossa democracia pós ditadura seja forte o suficiente para não se quebrar diante dos esqueletos do passado, que podem ser poderosos, mas não passam de anões morais.

Ricardo Jimenez

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