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sábado, 5 de fevereiro de 2022

Salvador teve ato Justiça por Moise

 


O bárbaro assassinato do imigrante congolês, Moïse Kabamgabe, não revela apenas as vísceras da necropolítica que nos ceifa diuturnamente. Ele escancara as inúmeras violências e lutos estruturais, simbólicos e reais. A morte de Moïse faz saltar aos olhos a situação de como determinados imigrantes oriundos de determinados territórios, seja de África, seja de Américas, ambas representada por um povo repleto de melanina, são vistos. Nós, pretas e pretos, não somos vistos, pois nessa estrutura regida pelo racismo somos catapultados à figura do outro, do não humano. Nesse processo anti-humano, são nossos corpos pretos que caem. Esse ato de barbárie evidencia, igualmente, o resultado da retirada de direitos trabalhistas. A precarização do regime de trabalho, a imposição compulsória do estado em submeter corpos pretos e pobres ao território do estado paralelo, da milícia. Se nossa existência é negligenciada pelo estado, nosso luto é duplo: morte pelo estado, morte pela milícia. A necropolítica se soma ao neoliberalismo, cria-se um mercado lucrativo com nosso luto e nossa dor. Moïse morreu por pedir o direito dele, por pedir os 200 reais que deviam a ele, R$200 é o valor que o matou. Não apenas isso, mas o espetáculo da morte que o mesmo foi vitimado, pelos olhos de quem passava no quiosque, Moïse não teve quem o visse, quem o ajudasse, quem o olhasse, quem interrompesse aquele ato de covardia em que ceifara a vida do jovem Congolês. O racismo cria essa forma de relação, ele banaliza a barbárie a depender de quem é a vítima. Se for preto, preta, o fim costumeiro é o mesmo do Moïse. Não adianta ter diploma de engenharia, ou ser médico, a tez de nossa pele nos catapulta a posição de alvo. O Bolsonarismo potencializou essa crueldade ao federalizar a milícia e ao legitimar de forma cristalina o racismo estrutural. Muitas observações se fazem aparecer: as necessidades de fazerem uma política nacional de proteção aos imigrantes, criação de políticas públicas de reforço aos direitos trabalhistas (revogação da reforma trabalhista), criação de uma polícia comunitária e antirracista. Moïse é um exemplo de muitos que são barbaramente assassinatos e jogados nas masmorras do esquecimento. Moïse era nosso irmão, mais um que se vai pelo racismo potencializado pelo neoliberalismo. É questão de raça/classe; território e esse grito silencioso, daqueles que choram sem serem vistos e que morrem sem serem percebidos. Somos nós, pretas e pretos, que vivemos e morremos na invisibilidade. Basta! Parem de nos matar!


Moïse Kabamgabe; presente!! ✊🏿✊🏿

Texto Professor Roberto Barros

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