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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Alberto Santos Dumont: Ribeirão Preto, Brasil, Mundo. Entrevista com Ruy Sodré!

Sabe aquelas informações do senso comum que temos sobre a vida e a obra do grande herói brasileiro e pai da aviação Alberto Santos Dumont? Aquelas informações do estilo vira-lata propagadas pela nossa mídia nativa, para usar um termo do Mino Carta, sabe?

Pois é. Elas não resistem à leitura da obra O Sonho de Voar do aviador e escritor Ruy Sodré.

Mas como eu sou um cara de sorte, além de ler o livro, ainda fui agraciado com uma aula de cerca de 1 hora e meia dada pelo próprio autor na casa da amiga em comum e artista plástica Maria Helena de Oliveira, onde também participei de um excelente almoço após a entrevista.
O livro é uma homenagem especial a Santos Dumont, que passou a infância em Ribeirão Preto. "Foi aqui em Ribeirão Preto que ele desenvolveu o sonho de voar", diz um entusiasmado Ruy. Aliás, entusiasmo e empolgação é o que não lhe faltam quando fala de Santos Dumont: "Santos Dumont é um filho de Ribeirão Preto" (ele nasceu em Palmira, atual Santos Dumont, em Minas, mas viveu em Ribeirão Preto onde seu pai, Henrique Dumont, foi o primeiro 'rei' do café e cuja fazenda é hoje o vizinho município de Dumont).

Santos Dumont foi um brasileiro gênio da humanidade. Foram mais de 22 inventos. Santos Dumont ganhou os três mais importantes prêmios da aviação, envolvendo voos com balões (mais leve que o ar) e aviões (mais pesado que o ar). "Dar dirigibilidade aos balões já foi por si só algo extraordinário", diz Ruy.

Aliás, o desenvolvimento da tecnologia aeronáutica foi um feito de gênios corajosos, pois naquele tempo era o inventor que testava a sua invenção: "não havia piloto, o piloto era o inventor. Muitos morreram. Santos Dumont caiu com vários dos seus inventos, poderia ter morrido. Ele decolava e pousava com os balões na Champs Elysees", conta.

Com o voo do 14 Bis em julho de 1906 em Paris, Santos Dumont consegue um feito histórico para a humanidade, trabalhando a relação peso e potência, o brasileiro conseguiu que o mais pesado que o ar voasse com os seus próprios meios. "Os princípios básicos contidos no invento de Santos Dumont são os mesmos mantidos até hoje, até no ônibus espacial", completa Ruy.
Neste ponto, recebi mais uma lição da história da aviação ao perguntar sobre a possível polêmica com os irmãos Wright, que voaram com um mais pesado que o ar em 1903, mas auxiliados por uma catapulta. "Essa polêmica não existe! Isso é coisa de brasileiro que custa a valorizar os próprios brasileiros. A história da aviação no Brasil é contada de maneira distorcida e repleta de preconceitos contra Santos Dumont", corrige, levemente irritado, Ruy. "Mundialmente, tanto os irmãos Wright, quanto Santos Dumont e outros que menciono no meu livro são todos considerados heróis da história da aviação. É essa visão errada que temos no Brasil que fez com que Santos Dumont só fosse colocado no Panteão Nacional, no livro de aço, 100 anos depois dos seus feitos", ensina.

Ruy Sodré construiu em 2006 uma réplica da Demoiselle (o protótipo desenvolvido por Santos Dumont entre 1907 e 1909) e voou com ela na Academia da força Aérea Brasileira e em outras exposições. "O projeto da Demoiselle feito por Santos Dumont foi precursor da indústria aeronáutica tanto na Europa quanto nos EUA. Essa é a verdade, tanto que a NASA nomeou um ponto geográfico lunar com o nome de Santos Dumont. Precisa dizer mais?".
O livro de Ruy Sodré, de capa dura e muito leve, "foi desenvolvido para lembrar uma revista de bordo", explica. O Sonho de Voar faz uma homenagem a todos aqueles que fizeram a diferença na história da aviação, desde Leonardo da Vinci até Neil Armstrong, passando pela contribuição de dois brasileiros também geniais, o paranaense Júlio César Ribeiro de Souza e o Potiguar Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, ambos com contribuições extraordinárias na dirigibilidade de balões (Augusto Severo morreu em Paris em 1902 testando um de seus balões dirigíveis, que explodiu no ar).

Por fim, os ensinamentos finais, o suicídio de Santos Dumont não foi causado por nenhuma tristeza por ter sido o seu invento usado como arma de guerra. "Não há nenhum registro a este respeito", ensina. "Certamente Santos Dumont encontrava-se deprimido mas por uma doença que o estava paralisando, a esclerose múltipla", afirma. "Quando Santos Dumont faleceu, a guerra de 1932 parou em homenagem ao herói", informa. Outra coisa do senso comum que Ruy faz questão de desfazer: "Santos Dumont era um namorador. Essa história de homossexualidade foi uma invenção de um jornalista inglês e, claro, a imprensa brasileira abraçou a causa por ignorância. Santos Dumont teve belas mulheres e até foi processado em Paris por um marido ciumento. Conto e provo isso no livro", encerra.

A obra de Ruy Sodré tem essa responsabilidade crucial: desfazer o senso comum e trazer à tona a verdadeira história do herói brasileiro e mundial. E vai mais além, a obra consegue ligar essa história da humanidade com a história de Ribeirão Preto, tão relegada a um segundo plano inclusive na rede de ensino municipal. E todos temos o direito a ter acesso à essa história.

"Nós aviadores precisamos ter a verdadeira história da nossa profissão contada", desabafa.

Ruy pretende continuar fazendo palestras e lançará sua obra na Feira do Livro deste ano, além de participar de eventos comemorativos aqui em Ribeirão Preto.

Você pode encontrar Ruy Sofré no facebook aqui e o email do Instituto Cultural Santos Dumont é ruysodre@hotmail.com

Ricardo Jimenez

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