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terça-feira, 3 de setembro de 2024

Especialistas discutem no 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação como abordar casos de racismo nas instituições de ensino

 

Foto: Filipe Augusto Peres 


Apesar das dificuldades, as escolas públicas estão mais preparadas que as privadas em relação à educação antirracista, pois destaca o maior cuidado e atenção às políticas públicas, afirmou especialista

Durante o 8º Congresso Internacional de Jornalismo de, realizado na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), em São Paulo, nesta terça-feira (3), especialistas discutiram os desafios e responsabilidades na cobertura jornalística de casos de racismo nas escolas. Ednéia Gonçalves, da Ação Educativa, e Halitane Rocha, do portal Mundo Negro, compartilharam suas perspectivas sobre o tema. A mesa ainda contou com as presenças de Renata Cafardo (Jeduca e Estadão) na mediação e Daniel, representando o Instituto Vera Cruz.

Ednéia Gonçalves ressaltou a importância de diferenciar bullying de racismo, sublinhando que o racismo é uma violência coletiva. Ela destacou que, quando uma criança é vítima de racismo, toda a comunidade negra é afetada. Gonçalves mencionou que a confusão entre bullying e racismo muitas vezes leva à eleição de personagens individuais, esquecendo-se do impacto coletivo do racismo. “Enfrentar o racismo no ambiente escolar tem a ver com a discussão de qualidade na educação e a responsabilidade social das escolas”, afirmou.

Escolas Públicas mais preparadas que as privadas

Gonçalves também argumentou que a escola deve ser um espaço de aprendizagem significativa para todos, e que a universidade tem um papel crucial na formação de educadores conscientes das questões étnico-raciais. Ela destacou que a educação antirracista deve articular conhecimentos sistematizados pelas áreas do conhecimento com outros saberes presentes nos territórios e nas diferentes culturas. Para ela, a narrativa de resistência às opressões não foi feita pela escola ou pela academia, mas pelos movimentos negros e indígenas. Gonçalves afirmou que, apesar das dificuldades, “as escolas públicas estão mais preparadas que as privadas em relação à educação antirracista”, destacando o maior cuidado e atenção às políticas públicas.

"O que eu tenho visto é um interesse maior (das privadas) em dispensar a educação antirracista. Nas escolas públicas sempre houve a discussão a partir da mudança. Eu acho que isso não se explica apenas em função da maior presença negra na escola pública, eu acho que tem muito mais a ver com o cuidado e a atenção com a política pública. Eu acho que as escolas privadas não se sentiram pertencentes àquela legislação hoje lida com esses efeitos."

Racismo na cobertura antirracista

Halitane Rocha abordou a dificuldade dos jornalistas ao cobrir questões de racismo nas escolas. Ela enfatizou a necessidade de preservar a saúde mental dos jornalistas e dos leitores, selecionando os casos a serem noticiados com cuidado. Rocha destacou a discrepância na cobertura de casos de racismo envolvendo figuras públicas ou famílias brancas, comparado a famílias negras. “A audiência tende a ser maior quando os filhos são negros, mas de mães e pais brancos”, observou. Ela também enfatizou a importância de discutir a lei da história afro-brasileira nas escolas e de trazer à tona projetos e iniciativas de professores e alunos que promovem a educação antirracista.

Daniel, que representou a Escola Instituto Veracruz, sublinhou a necessidade de projetos antirracistas sistêmicos nas escolas. Ele enfatizou que o racismo está presente na escola como na sociedade e que é essencial garantir uma experiência positiva para alunos negros e indígenas. Daniel destacou que situações de racismo não são exceções e que a notícia deve focar no que a escola faz para lidar com o problema de forma abrangente. Ele também criticou a exposição excessiva de casos específicos, que pode prejudicar as vítimas e não contribuir para a construção de relações mais saudáveis na comunidade escolar.

A mesa discutiu a cobertura do caso da filha da atriz Samara Felipo, que sofreu racismo nesta escola particular. Renata, jornalista que cobriu o caso, compartilhou sua experiência ao abordar o tema, destacando a importância de trazer discussões mais amplas sobre a educação antirracista, além de relatar os incidentes específicos.

Em Ribeirão Preto, caso de racismo foi arquivado

Em Ribeirão Preto, no dia 14 de maio, em evento esportivo dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (Jeesp), sediados pelo SEB COC, durante o jogo entre o Colégio Elisa Duboc Garcia e o Colégio Sabin, estudantes da escola municipal relataram terem sido ofendidos com  xingamentos racistas proferidos por alguns alunos do Sabin, unidade Jardim Califórnia.


O Ministério Público do Estado de São Paulo concluiu a investigação sobre alegações de racismo durante eventos esportivos escolares em Ribeirão Preto e decidiu arquivar o caso devido à falta de evidências de responsabilidade civil das escolas envolvidas. O documento detalhado, referente à representação número 43.0156.0003182/2024-4, foi conduzido pelo 20º Promotor de Justiça da região.


De acordo com o documento, as alegações de atos racistas durante os jogos entre estudantes da Escola Sabin e uma escola municipal levaram à investigação, com relatos de agressões verbais e físicas por parte de espectadores não identificados. O Ministério Público contatou a Secretaria Municipal de Educação, o Conselho Tutelar e o Conselho Municipal de Desenvolvimento e Promoção de Igualdade Racial, bem como as escolas SEB e SABIN, para obter informações e respostas sobre o ocorrido.


Após análise das respostas e investigações realizadas pelas escolas envolvidas, a Promotoria não encontrou indícios de responsabilidade civil das instituições educacionais em relação aos interesses coletivos prejudicados. Embora tenha sido reconhecido que ocorreram ofensas racistas durante os eventos, a falta de identificação dos agressores e a ausência de boletins de ocorrência registrados pelas vítimas levaram à conclusão de que a responsabilidade recai sobre os indivíduos responsáveis pelos atos.


Diante disso, a Promotoria decidiu arquivar o caso e encaminhar a questão à Polícia Civil para investigar as responsabilidades individuais dos agressores. As escolas SEB e SABIN foram consideradas isentas de responsabilidade civil no caso, e nenhuma ação civil pública será iniciada contra elas.


Veja o documento abaixo.








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