Txai Suruí, Jahzara zona e Giovanna Corrêa. Foto: Filipe Augusto Peres |
Txai Suruí denuncia violência, exclusão e destruição ambiental promovidas pelo agronegócio durante o 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação
Nesta última segunda-feira (3), durante o 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado na Fecap, no bairro da Liberdade, em São Paulo, a jovem ativista indígena Txai Suruí fez duras críticas ao papel do agronegócio na crise climática e nos conflitos territoriais que afetam os povos indígenas. Suas declarações foram feitas na mesa “Jovens alertam sobre o aquecimento global”, em que ela destacou a violência, a exclusão e os impactos ambientais decorrentes das atividades agrícolas em larga escala. Suruí dividiu a mesa com Com Giovanna Corrêa (RS), Jahzara Ona (SP), (RO) mediação de Renata Cafardo (Jeduca e Estadão) e Tatiana Klix (Jeduca e Porvir).
Questionada sobre como se tornou uma ativista indígena, Txai fez questão de dizer que quando se é indígena, não existe escolha de vai querer lutar ou não.
“Para nós, não é muito uma escolha. E os meus pais já eram grandes ativistas, já eram grandes defensores da floresta. Essa história não começa comigo, vem muito antes. Então, quando eu tinha 14 anos, a gente teve que ficar um ano sendo acompanhada pela Força Nacional, por causa das ameaças de morte que os meus pais, que toda a minha família estava recebendo. E por causa das denúncias que a gente vinha fazendo contra a invasão e a extração ilegal de madeira que o nosso território estava sofrendo na época. E não mudou muita coisa de lá pra cá. Essa luta a gente continua. A gente continua ainda tendo as nossas vidas ameaçadas, continua tendo que lutar pelo nosso território. Então, como eu falei, a luta não é muito bem uma escolha, quando a gente já nasce nessa linha de frente mesmo, contra a destruição da nossa floresta”
Txai denunciou que muitas comunidades indígenas estão sendo cercadas e atacadas por fazendeiros, resultando em situações de extrema violência. A ativista descreveu cenários de guerra, onde fazendeiros armados intimidam, atiram e ameaçam as comunidades.
"Você imagina esses parentes que eu falei, que estão vivendo isso, que estão vivendo essa guerra, como que deve estar a saúde mental deles também," disse a ativista.
Além disso, a jovem líder indígena criticou a forma como o desenvolvimento promovido pelo agronegócio exclui e marginaliza os povos indígenas, as mulheres e as comunidades locais. Segundo Txai, o desenvolvimento que o agronegócio propõe é voltado apenas para grandes latifundiários, deixando de lado as necessidades e direitos das comunidades locais.
"Eles falam tanto de um desenvolvimento, mas um desenvolvimento que não envolve, que não envolve as mulheres, que não envolve os povos indígenas, que não envolve as pessoas, que não envolve as comunidades."
Queimadas criminosas e articuladas
Ela também destacou que as atividades do agronegócio, especialmente as queimadas e desmatamentos, têm impactos devastadores no meio ambiente e na qualidade de vida das comunidades indígenas e deixou claro o motivo de elas acontecerem.
“As queimadas são muitas vezes criminosas e articuladas, com o propósito claro de expandir fronteiras agrícolas às custas da floresta e da biodiversidade.”
A ativista ligou diretamente as práticas do agronegócio à crise climática, sublinhando que essas práticas não só contribuem para o aquecimento global, mas também afetam diretamente a vida das pessoas em áreas como Porto Velho (RO)
"Você imagina que em Porto Velho está daquele jeito, mas as pessoas veem a fumaça, veem os hospitais cheios de pessoas passando mal com doença respiratória, mas elas ainda não entendem que aquilo está ligado à questão da emergência climática."
Txai destacou, também, a necessidade de uma maior conscientização e educação sobre os impactos do agronegócio, seus crimes e campanhas de desinformação. Ela acredita que o jornalismo tem um papel crucial em educar a população sobre essas questões e em combater as fake news que frequentemente distorcem a realidade.
"É muito importante que tenha essa conscientização das pessoas, inclusive através do próprio jornalismo. A disseminação de informações precisas e a conscientização pública são essenciais para mobilizar a sociedade em defesa dos direitos indígenas e da proteção ambiental”.
Apesar das dificuldades e da violência, Txai expressou esperança na resistência e na luta dos povos indígenas. A líder indígena acredita que a educação diferenciada (escola indígena, escola do campo), que respeita e valoriza as tradições e conhecimentos indígenas, é uma ferramenta fundamental na luta contra a crise climática.
"Eu tenho muita esperança ainda, porque apesar de tudo, eu vejo todo dia a diferença sendo feita lá no meu território, a gente plantando árvores, a gente cuidando da nossa floresta. Eu tenho esperança porque eu tenho esperança em quem luta do meu lado. Eu tenho esperança na floresta."
Por fim, Txai Suruí reforçou a urgência de repensar o modelo de desenvolvimento agrícola no Brasil e de valorizar o conhecimento e a resistência dos povos indígenas e d oi campo. Ela destacou a importância de uma educação e conscientização que possam reverter a situação atual, promovendo um desenvolvimento mais inclusivo e sustentável.
Quem é Txai Suruí?
Txai Suruí é uma jovem ativista indígena do povo Paiter Suruí, uma comunidade indígena localizada na Terra Indígena Sete de Setembro, que abrange áreas dos estados de Rondônia e Mato Grosso, no Brasil.
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