Páginas

quarta-feira, 9 de abril de 2025

ONU denuncia marco temporal e violência policial como heranças da ditadura militar

 

Em Rio das Pedras (SP), a polícia atacou acampados mesmo após acordo de saída pacífica
Foto: Coletivo de Comunicação do MST

Documento da ONU aponta continuidade de violações da ditadura contra indígenas, negros e camponeses no Brasil atual

O relator especial da ONU para a promoção da verdade e justiça, Bernard Duhaime, afirmou que a tese do marco temporal e a violência policial no Brasil representam a continuidade de crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). Em relatório preliminar divulgado nesta segunda-feira (7), ele destacou que muitos povos indígenas foram expulsos de seus territórios durante o regime, o que invalida a tese que limita a demarcação de terras à ocupação em 1988.

Duhaime também denunciou a persistência de abusos como execuções sumárias, tortura e detenções arbitrárias, sobretudo contra indígenas, camponeses e pessoas negras. Para ele, é urgente uma reforma na segurança pública e a responsabilização de agentes envolvidos nessas práticas, já que a impunidade favorece a repetição dos crimes.

O relator citou documentos do antigo SPI e da Funai que registram massacres, deslocamentos forçados e trabalho escravo durante a ditadura. Mesmo diante das denúncias, o Ministério da Defesa e o Alto Comando das Forças Armadas se recusaram a recebê-lo. O relatório final será apresentado em setembro ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

O que é a SPI?

SPI é a sigla para Serviço de Proteção aos Índios, um órgão criado em 1910 pelo governo brasileiro com o objetivo oficial de proteger e integrar os povos indígenas à sociedade nacional. No entanto, ao longo das décadas, especialmente entre as décadas de 1940 e 1960, o SPI ficou marcado por uma série de denúncias de corrupção, violência, trabalho forçado, abusos e massacres contra populações indígenas.

Essas graves violações vieram à tona especialmente com o chamado Relatório Figueiredo, de 1967, que documentou crimes cometidos por funcionários do SPI, incluindo tortura, assassinatos e apropriação de terras indígenas. O escândalo foi tão grande que levou à extinção do SPI em 1967.

Após sua extinção, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que assumiu a responsabilidade pela política indigenista no país.


Nenhum comentário:

Relatório Nacional Aponta Raízes e Caminhos para Prevenir Ataques às Escolas no Brasil

  Relatório cita falhas estruturais das escolas brasileiras , como a ausência de acolhimento, o predomínio de práticas punitivas, a precarie...