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terça-feira, 15 de abril de 2025

Relatório Nacional Aponta Raízes e Caminhos para Prevenir Ataques às Escolas no Brasil

 


Relatório cita falhas estruturais das escolas brasileiras, como a ausência de acolhimento, o predomínio de práticas punitivas, a precariedade das condições de trabalho e a insuficiente formação de profissionais para mediação de conflitos como causas institucionais para a violência

Um dos mais abrangentes diagnósticos já realizados sobre a violência extrema contra escolas no Brasil acaba de ser publicado pelo Grupo de Trabalho de Especialistas em Violência nas Escolas, instituído pelo Ministério da Educação em 2023. O relatório analisa a escalada dos ataques armados a instituições de ensino no país, identifica suas causas e propõe um conjunto de medidas urgentes e estruturantes para o enfrentamento do problema.

Ao todo, o Brasil registrou 36 ataques a escolas entre 2002 e 2023, com um crescimento expressivo a partir de 2017 — tendência que só foi interrompida durante o ápice da pandemia. Os ataques resultaram em 164 vítimas, sendo 49 fatais e 115 feridos, segundo levantamento do GT. A maioria dos atentados envolveu alunos ou ex-alunos motivados por ressentimentos e cooptados por comunidades extremistas na internet, com discursos de ódio, misoginia e racismo.

O estudo rejeita explicações simplistas baseadas apenas em distúrbios mentais. Os ataques são classificados como multicausais e imersos em um contexto maior de violência estrutural, desigualdade social, cultura armamentista e ausência de políticas públicas voltadas à convivência e à escuta nas escolas.

“Os ataques são a expressão mais brutal de um ambiente escolar e social adoecido. É preciso compreender o fenômeno para enfrentá-lo de forma séria e eficaz”, afirma o relator do documento, Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP.

Causas: entre o ódio digital e a negligência institucional

O relatório aponta que os agressores — todos do sexo masculino — foram influenciados por comunidades virtuais de ódio, onde o humor violento, o culto às armas e a misoginia são utilizados como ferramentas de recrutamento. A maioria dos ataques segue o padrão dos chamados copycat crimes, inspirados em atentados anteriores, especialmente o de Columbine (EUA, 1999).

Também são mencionadas as falhas estruturais das escolas brasileiras, como a ausência de acolhimento, o predomínio de práticas punitivas, a precariedade das condições de trabalho e a insuficiente formação de profissionais para mediação de conflitos.

Doze ações emergenciais

O relatório apresenta 12 medidas urgentes que o Estado brasileiro deve adotar, entre elas:

  • Combate às comunidades extremistas online e responsabilização das plataformas digitais;
  • Controle rigoroso sobre o acesso a armas de fogo, especialmente por menores;
  • Implementação de políticas de saúde mental nas escolas e ampliação da rede psicossocial;
  • Promoção da cultura de paz e da gestão democrática escolar;
  • Atualização das leis sobre crimes de ódio e bullying;
  • Campanhas de comunicação e protocolos de cobertura jornalística, para evitar o chamado “efeito contágio”.

Um novo olhar sobre a violência nas escolas

Mais do que repressão, o relatório defende políticas preventivas centradas na educação em direitos humanos, convivência democrática e formação cidadã. A recomendação é que a violência seja tratada como fenômeno multidimensional, que exige resposta intersetorial e federativa, integrando segurança, educação, saúde, assistência social e comunicação.

A pesquisa é resultado de mais de 2 mil contribuições recebidas por especialistas de diversas áreas, e se consolida como referência para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à proteção e à reconstrução do espaço escolar como ambiente de vida, aprendizado e cidadania.

Leia o relatório completo no site do Ministério da Educação ou acesse aqui.


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