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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Resultados do ENEM: para além da classificação!

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais ‘Anísio Teixeira’, INEP, divulgou os resultados das escolas no Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM, em 2013 (dados aqui). Trata-se de uma importante ferramenta para gestores e professores, pais e toda a comunidade escolar quando tais dados são analisados de forma mais abrangente do que aquela que os jornais costumam realizar elaborando apenas uma classificação e ranqueamento das escolas.

O conjunto de resultados é composto por uma média do desempenho dos alunos da escola em cada uma das quatro áreas de conhecimento avaliada no exame (Linguagens; Matemática; Ciências Humanas e Ciências da Natureza) e na redação. Os dados também mostram a porcentagem de alunos subdivididos em 5 níveis de proficiência. Por fim, o INEP inovou este ano ao divulgar também junto com o desempenho da escola o Indicador do Nível Socioeconômico dos alunos, INSE, e um Indicador da Formação Docente dos professores da escola. Por fim, é importante ressaltar que somente as escolas que tiveram mais 50% dos alunos no exame tiveram seus resultados divulgados.

Ao analisarmos o quadro do desempenho das escolas de Ribeirão Preto (dados aqui), a primeira coisa que chama a atenção é que as 10 escolas com maior desempenho médio no exame tem um INSE classificado como muito alto (de forma semelhante ao que ocorre no contexto nacional). Isto é um dado extremamente relevante e revelador aos gestores públicos, pois, se, por um lado, a educação é considerada como fator essencial para se diminuir as desigualdades sociais, nesse caso, ela tem se prestado a aumentar tais desigualdades, na medida em que serão os alunos dessas escolas de maior desempenho (e maior INSE) que terão condições de estudar nas melhores universidades e nos melhores e mais concorridos cursos (medicina e engenharia, por exemplo). Um aluno que estuda em uma escola com um INSE baixo está condenado a não estudar nos melhores cursos das melhores universidades. Isto é um dado extremamente revelador da exclusão social em nossa sociedade por meio da educação: os alunos das escolas das periferias (com baixo INSE) não terão o direito de estudar medicina/engenharia numa universidade pública de qualidade.

Um outro dado ‘oculto’ mas revelador é que os resultados divulgados pelo  INEP trazem 33 escolas particulares de Ribeirão Preto e apenas 11 escolas públicas (sendo 1 municipal e 10 estaduais). Digo dado oculto porque a cidade possui mais de 30 escolas estaduais de ensino médio que não aparecem na divulgação, localizadas principalmente nas periferias da cidade. Conforme mencionei no início do texto, um critério para a divulgação é ter 50% dos alunos participantes no exame. Se escola não apareceu nos dados significa que menos que 50% dos seus alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio fizeram o exame, mas por quê? Se o ENEM é hoje a principal porta de entrada do Ensino Superior brasileiro, tanto em universidades públicas, por meio do SISU, quanto em universidades particulares, por meio do PROUNI, podemos supor que os alunos da periferia que não fizeram o exame não tem a perspectiva de continuidade dos estudos. E isso é outro dado relevante, pois as camadas com mais vulnerabilidade são aquelas que mais necessitam de incentivos para estudar e nós não estamos conseguindo convencê-los disso.

Enfim, há muito que se analisar com esses dados divulgados, mas o que me é mais revelador é escancarar as desigualdades sociais ainda muito predominantes em nossa sociedade e a educação (e a falta dela) como um fator de continuidade.

Ailson Vasconcelos da Cunha, professor e doutorando. Um eterno aprendiz.

Um comentário:

O Calçadão disse...

O drama mais cruel do Brasil é a exclusão. Espero que a luta de todos consiga fazer da educação um instrumento de inclusão. Avançamos muito, mas ainda é pouco. Abraço, Aílson.

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