Meu texto de hoje é para falar de política e para falar do Brasil. Portanto, não vejo outro exemplo melhor na nossa história nacional para simbolizar esses temas do que a nossa maior empresa.
A Petrobrás representa a dor e a delícia da nossa política. Criada em outubro de 1953 por Getúlio Vargas, a Petrobrás imediatamente despertou sonhos e ódios. Já um ano depois, em outubro de 1954, provocou um tiro no peito de seu criador, num gesto que naquele momento impediu um golpe militar que só viria 10 anos depois.
Vargas é o seu primeiro herói. Muitos outros vieram nesses anos todos, heróis engenheiros, petroleiros, mergulhadores, ou seja, são heróis aqueles que pegaram a criação de Vargas e a transformaram na maior petrolífera do mundo em exploração de petróleo em água profundas. É tecnologia brasileira, é ciência brasileira, é orgulho nacional.
Outro herói é Lula. E aí, leitores, é uma questão pessoal deste que escreve. Eu não acredito que Lula teve má intenção para com a Petrobrás. Acredito que Lula tinha pela empresa uma visão estratégica, nacionalista. Nos seus dois mandatos Lula demonstrou amor pela empresa, aprendeu a reconhecer o seu valor histórico e de futuro para um país como o Brasil. A recuperação da indústria naval e a nacionalização do pré-sal através do regime de partilha são de fato uma segunda refundação da Petrobrás.
Porém, a Petrobrás não teve apenas heróis. A empresa teve o impacto de muitos canalhas. Canalhas que discordavam de sua criação, que foi um tapa na cara dos interesses do império. Canalhas da mídia monopolizada criada na ditadura que até hoje destilam o seu ódio contra a empresa, não por causa da empresa em si, mas por ela ser ainda uma empresa estatal e ser símbolo de nacionalismo no imaginário popular.
A Petrobrás teve canalhas nos anos 90, quando o neoliberalismo a fatiou, a empobreceu e tentou mudar o seu nome para Petrobrax, buscando vendê-la mais facilmente. Foi ali nos anos 90 que muitos dos esquemas de corrupção dos quais se locupletam os canalhas de hoje se formaram.
A prisão de ontem do senador petista Delcídio Amaral e a gravação do áudio que o levou para a cadeia faz qualquer nacionalista embrulhar o estômago. A forma grotesca com que dialogam sobre um tema que envolve o maior patrimônio nacional nos fazem pensar: e se pudéssemos ouvir tudo, ouvir outras conversas sobre a Petrobrás, seriam no mesmo nível de indiferença e falta de amor ao país?
Acredito que sim.
Levantar no dia de hoje e escrever um artigo ou fazer qualquer outra coisa relacionada com política não é fácil. O áudio de Delcídio nos faz fechar um ciclo e entender o porquê dele apoiar o projeto de Serra de entregar os pré-sal para as multinacionais, nos faz perguntarmos por que alguém vindo do PSDB chega à liderança do governo e permanece lá mesmo após defender um projeto contra o pré-sal?
Delcídio representa os canalhas de primeiro e segundo escalão que, assim como a mídia tradicional e a plutocracia, odeiam o Brasil e o seu povo.
Mas não se pode desistir. É preciso buscar compreender o momento e retomar o rumo. Manter as bandeiras e a luta é a melhor forma de resistir. A Petrobrás é maior do que tudo isso. Temos uma gigantesca reserva de petróleo que precisa ser revertida em educação, saúde e novas tecnologias. Temos um país a construir e avanços sociais a defender do retrocesso.
Contra a perigosíssima seletividade da Lava Jato e seu viés claramente contra a Petrobrás, há o STF. O mesmo STF que garantiu a legalidade ao interromper o golpe paraguaio dos tucanos com Cunha e que proibiu o financiamento empresarial. É preciso lutar para que mantenha a lei de direito de resposta do senador Requião.
Contra o avanço da direita há a mobilização dos movimentos populares, como a das mulheres e a dos estudantes em São Paulo.
É preciso enfrentar a política de frente e confiar que essa bagunça toda pode ser depurativa. É hora dos nacionalistas que fazem política com 'P' maiúsculo encarem com firmeza os canalhas da política rasteira, existentes aos montes dentro dos partidos, incluindo o PT, e retomarem as rédeas.
São nos momentos mais difíceis que surgem os heróis, pois os canalhas só agem nas sombras.
Ricardo Jimenez
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