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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A Ilha de Cuba e o relato do sindicalista Pedro Sampaio, o Pedrinho dos Químicos!


Cuba tem muitos heróis. Fidel, Guevara, José Martí... Mas o maior de todos os heróis de La Isla é o seu povo, combativo, orgulhoso e altivo desde os tempos das lutas contra as ocupações espanholas e estadunidenses que duraram até a revolução de 1959.

Sofrendo um embargo econômico desde 1962, quando foi expulsa da OEA por pressão dos EUA por razões ideológicas, Cuba teve de se reinventar nas últimas décadas. O fim da URSS em 1992 levou muitos a apostarem no 'fim' da Ilha. Foi e continua sendo um momento difícil para o povo cubano, como assinala o companheiro Pedrinho no seu relato abaixo, o país construiu uma sociedade igualitária e uma democracia racial em bases econômicas pobres e tem buscado caminhos de desenvolvimento que melhorem as condições materiais sem abrir mão das conquistas sociais.

Apesar de ter uma renda per capita (em dólar) baixíssima para os padrões capitalistas mundiais, Cuba permanece figurando entre os 50 países de maior IDH no mundo, graças aos inegáveis avanços sociais, frequentemente premiados pela ONU e suas agências, no campo da educação, da saúde, da moradia, do combate à fome e da promoção da igualdade racial.



Cuba possui hoje 75 mil médicos (1 para cada 160 habitantes),além dos cerca de 15 mil atuando fora de Cuba em missões da ONU contra o ebola e em missões humanitárias contratadas por dezenas de países. Cuba exporta a sua filosofia de medicina, preventiva e baseada nas equipes de saúde da família.

São, em sua maioria, médicos negros, o que pode ter em muito contribuído ao clima de radicalização de uma parte da elite brasileira contra a vinda de médicos cubanos para o Programa Mais Médicos do governo federal. Como também destaca o Pedrinho em seu relato, a democracia racial se destaca não só nos médicos, mas nos cientistas, nos engenheiros, nos professores etc.

O blog O Calçadão tem pelo povo cubano um apreço enorme e defendemos a manutenção da sua soberania, criticando duramente o vergonhoso embargo econômico e também posturas incorretas da elite dirigente. Mas, fundamentalmente, ficamos otimistas com o futuro, com o processo lento mas contínuo de reintegração de Cuba na comunidade interamericana e mundial, buscando o desenvolvimento econômico com igualdade social.

Temos o mesmo sonho do Pedrinho, queremos que um dia a Ilha seja um exemplo de igualdade na riqueza e que o povo cubano continue sendo um exemplo para todos nós.

Acompanhem abaixo o relato do sindicalista Pedro Sampaio (Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Fabricação do Álcool, Químicas e Farmacêuticas de Ribeirão Preto), que permaneceu 12 dias na Ilha num intercâmbio sindical. Pedrinho relata algo importante, a forma como o povo cubano constrói sua participação política, uma forma local de democracia direta, organizada nos locais de trabalho e moradia.

A Ilha

Cuba sempre foi para nós, operários latino-americanos, um possível exemplo de uma sociedade igualitária que nós almejamos e lutamos para construir em nossos países.

Com esse pensamento em mente, embarquei para Cuba em uma viagem de trabalho para conhecer a forma que os trabalhadores cubanos se organizam em seus sindicatos e, consequentemente, seus resultados práticos.

A chegada ao aeroporto em Havana já preparou-me para o que eu iria ver nos dias seguintes. Era um aeroporto simples e os táxis em seu entorno eram de diversas décadas.

Na ida do aeroporto até o hotel, que a central sindical cubana nos hospedou para os dez dias de trabalho sindical, a visão era de uma sociedade em transformação, com residências antigas e em reforma, visão que em todo período que fiquei em Cuba, no aspecto material, se manteve.

 A minha principal impressão da sociedade cubana é que ela é pobre, igualitária e principalmente uma democracia racial. Eu tive dificuldade em explicar aos cubanos o que é cota racial e política de inclusão de deficientes. Essas tarefas já ficaram no passado, a atual geração já está totalmente integrada, desconhecendo esse tipo de discriminação.

Em Cuba, todos os trabalhadores cursam até o ensino médio e um curso de qualificação profissional complementar. Uma grande porcentagem deles vai para a universidade, a forma de escolha destes últimos é, vocação e meritocracia, tendo uma avaliação desde os primeiros anos de estudo.

Não há analfabetos em Cuba.

O alto grau de educação e igualdade existente em Cuba produziu uma sociedade com criminalidade quase zero e sem policiamento ostensivo. Os policiais em sua maior parte não portam armas.

A organização dos trabalhadores em seu local de trabalho é: a cada dez trabalhadores, um dirigente sindical que fica encarregado de associar e receber a mensalidade sindical. Aproximadamente 70% dos cubanos são filiados em sindicatos. A sindicalização não é obrigatória.

A economia em aproximadamente 70% é estatal, os outros 30% são de cooperativas e empresas privadas cubanas ou estrangeiras. Nas empresas estatais e algumas empresas de capital misto, o governo indica o gerente administrativo, que participa da assembleia dos trabalhadores que são realizadas mensalmente nos locais de trabalho para junto com os mesmos planejar a produção do mês seguinte e avaliar a produção do mês anterior.

Esta assembleia é organizada pelo dirigente sindical, que tem seu trabalho avaliado na mesma e junto com os trabalhadores avalia também o trabalho do gerente administrativo, podendo ambos serem demitidos pelos trabalhadores.

A forma de pagamento tem uma parte fixa que atende a necessidades básicas e uma variável que depende da realização econômica alcançada, isto é definido na assembleia.

O bloqueio econômico imposto a Cuba é culpado por muitas das dificuldades atuais.  Porém, o fim da União Soviética e do bloco socialista que comercializava com a ilha agravou sua já difícil situação econômica. Pessoalmente, acho que isto pode ter um lado positivo, Cuba pode pular a etapa de industrialização poluente e criar um parque industrial moderno, pois conta uma população altamente qualificada.

Foi uma viagem que valeu muito a pena, uma experiência formidável. Encontrei uma Cuba igualitária, porém pobre. Eu gostaria muito de um dia reencontrar uma Cuba igualitária, mas rica, assim como notamos nas experiências social democratas Escandinavas, por exemplo. 

Pedro de Jesus Sampaio - Sindicalista e ex-Presidente do PT de Ribeirão Preto

Equipe O Calçadão

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