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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

'Acordo de Curitiba' e a negação da política: o fim da Nova República!


É comum que um país do tamanho e com as particularidades do Brasil viva de ciclos, geralmente comandados por consensos políticos feitos por cima, pela cúpula econômica e política do momento.

A história do Brasil é repleta desses ciclos, que têm início, desenvolvimento, crise e fim.

Há transições que levam para algo melhor, como as de 1889 e 1930; mas há outras que constroem coisas piores, como a de 1964.

Hoje vivemos a crise do fim daquilo que se convencionou chamar de 'Nova República', ou seja, o acordo político que propiciou a transição da ditadura militar para a democracia, consolidado em 1985. E é um fim triste, afogado na podridão da relação promíscua entre políticos e empresários.

O que virá no futuro ainda permanece imerso em névoas, perigosas névoas.

A morte inesperada de Tancredo alterou os rumos iniciais da 'Nova República' e construiu o caminho para a sua crise e destruição futura, como vemos hoje.

Foi ali no governo Sarney que se construiu a relação promíscua de poder envolvendo políticos, empresários e mídia, todos contemplados com as concessões do Ministério das Comunicações comandado pelo arenista Antônio Carlos Magalhães.

Foi no comando de Ulisses na Assembleia Constituinte que se formou o 'Centrão' (junção fisiológica do MDB com a ARENA), a grande maioria parlamentar garantidora da 'estabilidade política'.

 Assim se construiu o PMDB de hoje ( e seus similares menores), esta federação de caciques que faz o papel de garantidor da 'governabilidade' em qualquer governo, se alimentando de cargos públicos que permitem reproduzir os acordos políticos que sustentam todo o esquema e a sobrevivência política de suas lideranças.

Será dentro dessa estrutura política, através do mesmo modus operandi, que irão caminhar as duas grandes agremiações políticas que acabaram polarizando a disputa na "Nova República': o PSDB e o PT.

A diferença entre o PSDB e o PT é que o primeiro é aliado dos barões da mídia, dos interesses do empresariado paulista e das aves de rapina do capitalismo internacional, enquanto o PT tem uma visão mais nacionalista e desenvolvimentista, forçado sempre pela pressão de sua enorme base social.

O PSDB e seus aliados da Casa Grande são os grandes inimigos da Constituição de 1988. Sonham com o parlamentarismo (para chegarem ao poder central mais facilmente) e com o desmonte dos preceitos econômicos e sociais contidos na Constituição. Fizeram isso enquanto governo, acabando com os monopólios da comunicação e do petróleo e investindo contra os direitos dos trabalhadores.

Mas a 'Nova República' começa a ruir com a chegada do PT ao poder.

Mesmo não realizando nenhuma reforma profunda, tendo se aliado ao PMDB de sempre, ao esquema do financiamento empresarial e tomando uma postura conciliadora com os barões da mídia, o PT no poder colocou a 'Nova República' em xeque.

Sob pressão da sua base social, os governos petistas não só incluíram milhões na sociedade de consumo, como construíram uma grande ameaça para a Casa Grande, a ameaça de construir no país um sistema de democracia direta insuportável para a elite plutocrata.

Isso, somado à mudança de paradigma legal no Pré-Sal e às quatro vitórias seguidas para Presidente, fez acender a luz vermelha na Casa Grande: era preciso ruir com a 'Nova República'.

O 'Acordo de Curitiba' é exatamente isso. Jogar o velho jogo da negação da política para colher um objetivo estratégico: apear os inimigos do governo central sem precisar do voto.

A parceria da mídia com setores dissidentes da Justiça e da PF trazem para o Brasil a tática da operação mãos limpas italiana: prender, chantagear, amedrontar, vazar na 'imprensa' e obter 'delação'.

Transformar a política em algo sujo, inútil, difundir um clima de histeria e hipocrisia com relação à corrupção. Desconstruir adversários e construir heróis substitutos.

Acontece que este jogo perigoso ameaça o próprio país.

A principal figura da esquerda brasileira e das massas, Lula, e seu partido são meticulosamente cercados e desconstruídos, mas seu adversário maior, o PSDB, não consegue se viabilizar como solução, não vira herói, pelo contrário, a relação podre e promíscua entre política e empresários acaba por pegar todo mundo.

Isso e o desmanche do PMDB, afogado em fisiologismo, representa a 'Nova República' inteira se esvaindo.

A figura da Presidenta Dilma, por sua postura moral inatacável, poderia despontar como a liderança da construção de um novo pacto nacional. Mas, infelizmente, ela não está à altura da tarefa, parece não compreender o momento ou não ter condições para tanto.

Escrever um artigo de ano novo na Folha de São Paulo e colocar a reforma da previdência como objetivo maior do governo após tudo o que ela passou e com o seu mandato salvo a partir da mobilização da Frente Brasil Popular e de intelectuais e artistas representa a pá de cal nas esperanças de ela vir a ser o pilar da reconstrução.

O futuro é incerto. A vitória da criminalização da política e a dissolução da 'Nova República' abre espaços para aventuras sinistras. A capacidade de cooptação dos tentáculos da Casa Grande colocam o Brasil e o povo brasileiro sob risco de um retrocesso político histórico.

Nas várias das crises que o país já passou, o movimento popular ora teve um papel destacado, ora um papel secundário. Esse é o momento de ter um papel destacado. É na unidade do movimento popular que está a melhor arma de enfrentamento e o PT precisa entender isso com urgência!

Um novo pacto político nacional é necessário, em bases novas, com o empoderamento popular como pilastra central. Sem isso, o futuro do Brasil vai estar entregue mais uma vez nas mãos de seus maiores inimigos.

Ricardo Jimenez

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