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terça-feira, 5 de julho de 2016

Zona de Guerra em Ribeirão Preto. Direitos humanos e a polícia! Por Leonardo Sacramento


Foto A Cidade On
Hoje a classe média ribeirão-pretana sentiu o que é viver em uma zona de guerra. 
Tiros de fuzil e bombas foram lançados em um ataque cinematográfico contra uma empresa de valores, tal qual aconteceu em Campinas. Um policial foi morto.
Ficou horrorizada e, alguns, de forma oportunista, reclamam pelos direitos humanos ao policial.
Quem o faz revela ignorância retumbante.
Os policiais foram chamados para impedir um assalto em uma empresa privada que guarda dinheiro... de banqueiros. O que será que essa sentença significa? Que o que estava em jogo é parte insignificante de algo que pertence a pessoas que não ligam para a morte do policial. 
Talvez o Trabuco, presidente do Bradesco, ou o Setúbal, dono do Itaú, tenham recebido hoje a notícia do assalto e da morte do policial. Com certeza, já acionou o seguro. Não perdeu nada! Se bobear, ganhou algum faz-me-rir com o seguro, que para um banco como o Bradesco, que teve lucro em 2015 de 17 bilhões de reais, consiste em centavos. Mas duvido que saibam da notícia da morte do policial ou que seus assessores tenham feito questão de transmitir tal notícia. Duvido que tenham ciência até do roubo.
Mas por que os policiais, que não são de nenhum destacamento de enfrentamento, que não foram treinados para a guerra formal, procuraram impedir a ação da quadrilha especializada? Porque são militares, e como tais, seguem qualquer ordem, inclusive as que colocam as suas vidas em risco. Em qualquer lugar do planeta onde a polícia não é militar, o policial tem o direito de não se colocar em risco eminente de morte, especialmente quando não há outra vida em risco.
A pergunta é: por que as forças mais conservadoras e a elite econômica defendem a continuação da militarização das policias estaduais? Por que os governos estaduais, financiados por esses grandes grupos econômicos, defendem a militarização e criam políticas de guerra, como a política falida de combate ao tráfico de drogas?
As respostas são muitas, mas uma, com certeza, é a supressão da escolha dos policiais de não se colocarem em risco em situações como essa, que nenhuma vida estava em risco, a não ser a deles. O objetivo da militarização é o de defender a propriedade privada dessa elite econômica a qualquer custo, inclusive com a vida daqueles que não detém qualquer propriedade.
Sabe aquela discussão que os Direitos Humanos fazem sobre a desmilitarização da policia? Sabe aquela discussão que os Direitos Humanos fazem defendendo que policiais não coloquem a vida de cidadãos e as suas em risco, especialmente por motivos fúteis (dinheiro de banqueiro é um deles)? Sabe aquela discussão que os Direitos Humanos fazem defendendo que policiais tenham o direito de não se colocarem em risco, devendo desobedecer ordens, se for necessário? Sabe aquela discussão de grupos de Direitos Humanos fazem defendendo o direito dos policiais não militarizados de terem sindicato, de poderem reivindicarem abertamente as suas demandas?
O que aconteceu é uma cena típica de zona de guerra, é verdade. Mas isso não acontece só no Iraque, Líbia e Faixa de Gaza. Acontece no Brasil, nas periferias e morros das grandes cidades. Seria relevante que, com o terrorismo que sentiu, essa classe média tenha pelo menos alteridade para saber o que significa estar no meio de um tiroteio de fuzis e bombas, comum em comunidades das periferias e morros das grandes cidades. 

O que significa perder seu ente querido por bala perdida, já que sentiu ontem o medo de ouvir o tiro e não saber a direção da bala de fuzil. Que deixe de defender uma política pública cujo resultado é a troca de tiros e bombas. Que reflita sobre o terror que milhões de moradores pobres e pretos sentem quase todos os dias no combate militarizado da famigerada "guerra às drogas".

Leonardo Sacramento é Professor e Secretário-Geral da Aproferp

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