Arte: Elifas Andreato
Elizeth Moreira Cardoso, nascida em 16 de
julho de 1920, perto do morro de Mangueira, recebeu o título de Divina do produtor
musical Haroldo Costa, após se transformar em uma das maiores divas da canção
brasileira e uma das mais talentosas intérpretes de todos os tempos,
reverenciada pelo público e pela crítica.
Seu talento musical começou a aflorar a
partir dos cinco anos de idade, quando ao subir no palco do clube de danças
Kananga do Japão, convocou o pianista e cantou: “Zizinha, Zizinha, Zizinha,
minha santinha, ó vem comigo, vem meu amorzinho, também quero tirar minha
casquinha”.
Trabalhando desde os dez anos para ajudar
a família, foi balconista, funcionária de uma fábrica de saponáceos e
cabeleireira, até ser descoberta por Jacob do Bandolim, cantando na festa dos
seus dezesseis anos, quando foi convidada pelo músico a fazer um teste na Rádio
Guanabara, no qual foi aprovada e passou a participar do programa Suburbano, ao
lado de Vicente Celestino, Araci de Almeida, Moreira da Silva, Noel Rosa e
Marília Batista.
Ingressando no Teatro de Revista em 1939,
conheceu o comediante Ari Valdez, com quem se casou. Entretanto o casamento
durara muito pouco, e para sobreviver, passou a trabalhar como taxi-girl, mas o
que menos fez foi dançar, pois tornou-se crooner de orquestras de dancings, e
aos poucos retornou à sua carreira radiofônica.
Após passar uma temporada em São Paulo,
onde se apresentou no Salão Verde e na Rádio Cruzeiro do Sul, no programa
Pescando Humoristas, Elizeth ganha o presente de sua vida. Grava o samba Canção de amor de Chocolate e Elano de
Paula em 1950, que foi um grande sucesso e se transformou em sua assinatura
musical.
Depois dessa gravação, todas as rádios a
queriam, mas a Divina aceitou o convite de Almirante para ser a estrela da
Tupi. Seu prestígio cresce a tal ponto, que sobe ao palco do Teatro Municipal
de São Paulo para interpretar as Bachianas Brasileiras número 5, de Heitor
Villa-Lobos.
Ainda em 1951, foi contratada pela Rádio Mayrink Veiga e pela
boate Vogue, e gravou um dos seus maiores sucessos, Barracão (Luís
Antônio e Oldemar Magalhães). Em 1952, além de atuar no filme O rei do
samba, de Luís de Barros, gravou Maus tratos (Bororó e Dino
Ferreira) e Nosso amor, nossa comédia (Erasmo Silva e Adolar Costa). Em
1953 participou do show Feitiço da Vila, na boate Casablanca, no Rio,
estreando-o em São Paulo no ano seguinte, quando foi contratada pela Rádio e TV
Record.
Como ponto de referência, vale lembrar que
sua voz abriu as portas da bossa nova, ao gravar o LP Canção do Amor Demais, pois
todo o disco era dedicado às músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, além do
acompanhamento ao violão de João Gilberto em Chega de saudade e Outra vez.
O ano de 1965 foi um dos mais brilhantes
na carreira de Elizeth, pois ela gravou o disco Elizeth sobe o morro, que se
tornou um marco na discografia brasileira, iniciou em agosto, na TV Record de
São Paulo, o programa Bossaudade, que teve grande êxito por quase dois anos.
Terminou o ano participando do espetáculo Vinícius, poesia e canção, em São
Paulo.
Em fevereiro de 1968 realizou no Teatro
João Caetano, no Rio de Janeiro, um espetáculo com o Zimbo Trio, Jacó do
Bandolim e seu conjunto Época de Ouro; o show, produzido por Hermínio Bello de
Carvalho para o Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro, foi gravado ao vivo
em 2 LPs. Ainda em 1968, realizou com o Zimbo Trio uma longa excursão pela
América Latina para divulgar a MPB.
Em homenagem a Divina, Ary Barroso compôs
o samba É luxo só, que enaltece a
intérprete com os esses lindos versos: “olha, essa mulata quando dança, é luxo
só. Quando todo o seu corpo se balança, é luxo só. Porém, seu coração se agita,
e palpita mais ligeiro, nunca vi compasso tão brasileiro”.
Durante toda a sua carreira, Elizeth
interpretou diversos gêneros musicais, entretanto se fixou no samba, que
cantava com extraordinária personalidade, o que lhe valeu vários apelidos, tais
como A Noiva do Samba-Canção, Mulata Maior, A Magnífica, A Enluarada, mas
nenhum desses se iguala ao título de A Divina.
Salve Elizeth Cardoso: a Divina!
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