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sábado, 11 de abril de 2020

Ribeirão contra a pandemia: Prefeituras quebradas relaxam isolamento em pleno avanço da pandemia


Os números no mundo mostram que o Brasil avança completamente no escuro


Os números da pandemia de Covid19 avançam no mundo e revelam que o Brasil lida com a doença completamente no escuro com relação aos números reais e atirado na disputa da desinformação, tendo o Presidente da República como o líder do movimento negacionista. Hoje são 1,7 milhão de casos no mundo com 105 mil mortes. Os EUA lideram com mais de 500 mil casos e 20 mil mortes (em um ritmo de 2 mil mortes por dia) seguido por Itália (150 mil casos e 19 mil mortes), Espanha (150 mil casos e 17 mil mortes) e França (125 mil casos e 13 mil mortes). Há uma grave preocupação das autoridades sanitárias internacionais com as situações de Índia, países africanos e América do Sul, notadamente o Brasil. Por aqui, diante da guerra da desinformação comandada pelo Presidente e seu núcleo de apoio e da pressão do setor econômico, o Brasil dá mostras de um completo relaxamento das políticas de isolamento social nos últimos 10 dias. O grande problema, segundo informou o Médico Marcelo Bigal, no nosso canal O Calçadão Blog, a partir do acompanhamento online encontrado em www.worldometers.info/coronavirus, é que o Brasil não realiza testes e, assim, os 20 mil casos confirmados com cerca de 1 mil mortes podem ser completamente incorretos e muito menores que os casos reais. Isto nos coloca, como afirmou essa semana a CNBB, "no itinerário da morte" dentro de um trem fantasma se movimentando completamente no escuro.

O estado de São Paulo e o município Ribeirão Preto estão na lista de alerta em abril e maio

Com 8 mil casos confirmados e 540 mortes (com uma taxa de 50 mortes por dia), São Paulo é o estado mais afetado, seguido por Rio de Janeiro e Ceará como regiões que já romperam a barreira dos 1 mil casos. Porém, neste momento em que o avanço da pandemia é uma grave incógnita por falta de testes, as políticas de isolamento social vão se afrouxando em quase todos os municípios. É o caso de Ribeirão Preto, onde o Prefeito Duarte Nogueira já admitiu em uma de suas lives diárias a possibilidade de relaxar o decreto de calamidade pública que se estenderia até dia 22 de abril. Apesar de algumas ações importantes como o centro avançado de tratamento na UPA da 13 de maio, ações de suspensão de aluguel no Centro Popular de Compras, suspensão de corte de água e algumas ações da Câmara no sentido de adoção de medidas sanitárias em bancos, nos bairros da periferia o isolamento social nunca aconteceu de fato e a cidade nunca conseguiu atingir o índice de 50% indicado pelo governo do Estado. Houve fechamento do comércio na região central e a diminuição da circulação de ônibus (contestada pelo Ministério Público essa semana como um riso para o avanço da doença), mas nos bairros a vida seguiu quase que normalmente. Assim, Ribeirão Preto está na rota do imponderável nesse mês de abril e no mês de maio, principalmente as periferias, comunidades, com cerca de 50 mil pessoas, diante da ausência até esse momento de um plano emergencial da prefeitura para essas regiões, e os idosos, que representam 80% dos mortos até agora e perfazem uma população de 100 mil pessoas na cidade e 20 milhões de pessoas no país. Ribeirão Preto consta na lista de 13 cidades com riso de aumento da doença em estudo realizado pela UNESP (veja o estudo AQUI).

A guerra da desinformação e as crises sanitária e econômica colocam o Brasil e a população diante da possibilidade do caos


Os gráficos mostram que a Covid19 avança no mundo e no Brasil. Medidas de combate estão sendo adotadas no mundo, basicamente o isolamento social com apoio do Estado para a manutenção das famílias e do setor produtivo enquanto durarem tais medidas. Os EUA estão imprimindo dólar e injetando mais de 2 trilhões de dólares na economia. Países da União Europeia buscam romper as amarras da austeridade fiscal neoliberal e já se fala em um Pacto de Moncloa continental com um orçamento de guerra para o enfrentamento imediato da crise econômica e para a reconstrução econômica que será necessária posteriormente. O Reino Unido, após um breve período de negacionismo, assim como ocorreu nos EUA, também já adotou medidas restritivas com injeção de recursos na economia via atuação do Estado. Figuras econômicas progressistas como o ganhador do Nobel Joseph Stiglitz e o ex-Presidente do BC do Brasil Henrique Meirelles defendem que os países imprimam dinheiro para que seja injetado na economia como forma de combate imediato à crise e reconstrução posterior. Enquanto as políticas neoliberais vão sendo substituídas no mundo, por total incapacidade do neoliberalismo enfrentar uma crise como essa, no Brasil nós continuamos dentro da campanha negacionista liderada por Bolsonaro e bolsonaristas e protegendo mais os bancos do que o povo e o setor produtivo. Até agora o governo federal anunciou um pacote de 1,2 trilhão de reais para os bancos (que aumentaram os juros e estão com dinheiro "empoçado"), sob o argumento de evitar uma crise bancária, e 147 bilhões para o financiamento do auxílio emergencial de 600 reais e a proteção ao setor produtivo, mostrando que as autoridades econômicas brasileiras, lideradas por Paulo Guedes, ainda se mantém na defesa dos preceitos neoliberais que já causavam baixo crescimento, desemprego e desindustrialização antes do vírus.

Famílias passam fome, empresários demitem e Prefeituras estão quebradas

O auxílio emergencial de 600 reais (podendo chegar a 1200 reais para mulheres arrimos de família), valor estabelecido pelo Congresso a partir da proposta inicial de 200 reais feita pelo governo, começou a ser pago essa semana pela Caixa Econômica Federal através do cadastro de informais e os relacionados no Cadastro Único, incluindo os que recebem Bolsa Família, em um aplicativo de celular. A previsão é que o auxílio seja pago pelos próximos três meses. Há outras medidas sendo analisadas no Congresso para a proteção dos pequenos e médios empresários. Mas tudo muito lento e muito pouco diante da necessidade de uma crise ainda subdimensionada no país. O resultado disso é que as medidas de isolamento social adotadas por estados e municípios (a única forma atual de combater o avanço da epidemia e evitar o colapso do sistema de saúde diante da ausência até o momento de uma vacina ou de um tratamento medicamentoso) estão sendo relaxadas nos últimos 10 dias. As pessoas precisam trabalhar para comer e os pequenos e médios empresários precisam funcionar para pagar a contas e manter os empregos. Esse atraso em adotar medidas de fôlego para o combate à crise fortalece o discurso irresponsável e perigoso vindo do Presidente, incentivando o rompimento do isolamento social e colocando as famílias diante de um risco imponderável. Outro fator de fragilidade são as Prefeituras, já enfraquecidas do ponto de vista orçamentário antes da crise e agora em uma situação de pré-falência. Sem dinheiro para as pessoas, para o setor produtivo e para o fortalecimento orçamentário das Prefeituras não há como fazer o combate à pandemia. E os números mostram que o pior está por vir entre abril e maio.

Araraquara investe 10 milhões de recursos próprios e Ribeirão Preto já vê IPM em crise de pagamentos

As Prefeituras do Brasil estão abandonadas pelo governo federal. Na realidade já estavam, dentro do fracasso do modelo neoliberal adotado no Brasil desde os anos 1990 e aprofundado após o golpe de 2016. A saída que as Prefeituras estavam encontrando diante do abandono era o ajuste fiscal em cima das políticas sociais e em cima dos servidores ativos e aposentados. Antes do vírus, a crise já rondava os municípios. Com o avanço da Covid19, os municípios estão à beira da falência. Aqui na região temos dois exemplos, a cidade de Araraquara governada por Edinho Silva do PT e a cidade de Ribeirão Preto governada por Duarte Nogueira do PSDB. Dois projetos administrativos distintos, duas visões políticas distintas, graves problemas. Edinho enfrentava o neoliberalismo mitigando as políticas neoliberais enquanto Nogueira as aprofundava. Com a crise, estão ambos no barco do abandono. Não há mais espaço para ajuste fiscal. Agora é momento de investimento em saúde e em proteção social. Hospitais de campanha, centros de tratamento, respiradores, leitos de UTI, apoio para as periferias. Mas não há orçamento e não há nenhum apoio até agora. Araraquara já investiu 10 milhões de reais de recursos próprios no combate à pandemia. Uma das 3 UPAs se tornou um centro de tratamento da Covid19, um hospital de campanha construído, um centro de tratamento só para servidores da linha de frente. E Ribeirão Preto já antevê graves problemas de caixa. Essa semana a superintendente do IPM afirmou que poderá ocorrer atraso nos pagamentos de aposentados. O Congresso ainda não sinalizou de maneira contundente uma política de apoio aos municípios. Sem os municípios não há como fazer o combate à pandemia. É preciso acabar com a criminosa política de teto de gastos, imposta em 2017 por Temer e que já causou sérios danos aos sistema de saúde e na educação. É preciso suspender e renegociar o pagamento das dívidas dos municípios, dentro de uma política anti-neoliberal de ação imediata e de ação futura, no necessário processo de reconstrução posterior. O neoliberalismo não é capaz de enfrentar uma crise como essa. A Oxfam prevê 500 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza no mundo, 15 milhões no Brasil. 

Cobrar nos tribunais e na História as responsabilidades

Não há conflito entre escolher proteger as vidas ou a economia. Só há esse conflito para quem já perdeu a noção de humanidade. Protege-se a vida e se organiza a economia para dar conta disso. Pronto. Para as autoridades que ainda insistem em negar a pandemia ou colocar a economia neoliberal na frente das vidas, restarão os tribunais. Este Blog se solidariza com cada família que procura se informar e proteger aqueles que amam diante da terrível guerra da desinformação vivida no Brasil. Nos solidarizamos especialmente com os idosos. Eles são 80% das mortes até agora. Eles são 100 mil em Ribeirão Preto, 5 milhões no estado de São Paulo e 20 milhões no Brasil. São seres humanos com medos, angústias, dúvidas e, principalmente sonhos. São os mais vilipendiados por aqueles que dão à vida uma importância secundária. Recebam muito mais do que a nossa solidariedade, recebam a nossa luta hoje e sempre.

Blog O Calçadão




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