Reportagem Tribuna
Após letargia de alguns meses, a Prefeitura de Ribeirão Preto corre contra o tempo para não perder uma verba de R$ 243,75 mil liberada pelo Ministério do Turismo (MTur) para ser investida no Parque Ecológico Guarani, mais conhecido como Parque da Lagoa do Saibro, no Jardim Parque dos Lagos, na Zona Leste, em área de afloramento do aquífero Guarani.
A verba já teve inclusive a nota de empenho emitida, em 20 de maio do ano passado. Em 15 de dezembro, a então prefeita interina Gláucia Berenice (PSDB) assinou contrato com o MTur prevendo o repasse do dinheiro por meio da Caixa Econômica Federal. São, no total, R$ 250 mil – R$ 243,75 mil do governo federal e apenas R$ 6,25 mil de contrapartida da Prefeitura.
O contato estipula o prazo de oito meses (vence em 15 de agosto próximo) para que a administração municipal apresente o plano de trabalho, informando como será investido o dinheiro. Aí começou a dor de cabeça para os integrantes do “Mutirão da Lagoa do Saibro”, grupo formado por moradores voluntários que há cinco anos se mobiliza pela implantação do parque – nesse período, por conta própria, essas pessoas instalaram placas, bancos, lixeiras e roçaram o mato no entorno da área várias vezes.
A bióloga e educadora ambiental Juliana Assumpção Hernandes, membro do mutirão e também da Associação Ecológica Pau-Brasil, conta que logo após a assinatura do contrato, em dezembro, a Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão Pública designou um técnico para elaborar o plano de trabalho. “Já estava 80% pronto, faltando pouco, quando o técnico foi remanejado, e não transferiram a atribuição para nenhum outro. Ou seja, o plano parou”, informa.
Ela diz que nos últimos meses fez cinco ofícios e esteve em cinco diferentes secretarias (algumas mais de uma vez) na tentativa de mostrar aos administradores que uma verba de R$ 250 mil está prestes a ser perdida. Na última quinta-feira, 6 de julho, a convite do vereador Marcos Papa (Rede), a bióloga esteve na Câmara e denunciou o descaso na tribuna do Legislativo.
Na manhã de sexta-feira (7), o Tribuna contatou a Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da Prefeitura, questionando por quê a elaboração do plano está paralisada. Algumas horas depois, foi anunciada a realização de uma reunião, na tarde deste sábado (8), na Lagoa do Saibro, com as presenças de Marcos Papa e Maurício de Vila Abranches (PTB) e do secretário municipal de Planejamento, Ruy Salgado. Ou seja, graças ao alerta do “Mutirão da Lagoa do Saibro”, provavelmente a Prefeitura conseguirá concluir o plano de trabalho até o prazo estipulado.
O Parque Ecológico Guarani (Lagoa do Saibro) foi criado pela lei municipal 10.921, de 13 de setembro de 2006. Tem aproximadamente 75 mil metros quadrados e fica entre a avenida Henry Nestlé, rua “B”, rua Leonardo Gonçalves e alameda “C”, no Parque dos Lagos. A lei prevê o fechamento do parque com alambrados, a implantação de uma pista de caminhada, a construção de sanitários e de um centro de educação ambiental e o monitoramento pela Guarda Civil Municipal.
Integrantes do mutirão, porém, sabem que os R$ 250 mil não serão suficientes sequer para cercar a área com um alambrado. “Mas em uma época como a atual, em que a Prefeitura vive crise financeira, não podemos perder esse recurso, será fundamental para iniciarmos o processo de implantação do parque ecológico”, destaca Juliana Hernandez.
A lagoa é área de recarga do Aquífero Guarani, reservatório subterrâneo de água com 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão e que se estende por sete estados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Em Ribeirão Preto, cidade que mais usa o manancial – todo o abastecimento da população é feito via poços artesianos –, segundo o Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema), o reservatório sofre rebaixamento de um metro de profundidade por ano e, nas últimas décadas, o nível da reserva caiu 72 metros.
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