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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Governo de morte - Bolsonaro acaba com a moradia de 261 famílias em Igarapava


Só a luta e a mobilização pode salvar o projeto Vargem Alegre  

Conheci algumas pessoas em Igarapava, me lembro de cada rosto, de cada olhar de esperança e confiança. Tenho na minha lembrança a praça, o estacionamento, o pôr-do-sol, as pessoas chegando, o pipoqueiro atrasado, as pessoas fumando o último cigarro antes da reunião.

Fazer a lista de presença sempre era um problema, às vezes faltava mesa para escrever. Mas todos e todas, as pessoas mais novas, as mais idosas, aquelas com crianças, sem exceção, tinham de “escrever o nome no papel”, para constar a presença que marcava ponto na luta pela moradia.

Consigo ver cada um no seu lugar naquele teatro, a moça que ficava no fundo reclamando, o casal que filmava tudo, a coordenadora na primeira fila desconfiada, a senhora idosa agradecendo a Deus e tendo esperança.
Até o cachorro acompanhava com atenção nossa reunião que trazia sempre uma expectativa para todos na cidade. 

Tinha a presença do pessoal da prefeitura que ajudou muito e, com o tempo, passaram a fazer parte do mesmo sonho.

Algumas poucas vezes, os vereadores estiveram lá. Alguns nitidamente torciam contra. 

Consegui ao longo destes cinco anos entender que o governo pode salvar um povo ou pode levá-lo à morte física ou à morte na esperança.

Não vou entrar em detalhes aqui, mas o governador Geraldo Alkmin, do PSDB, foi o primeiro que teve o prazer de iniciar a morte de várias famílias em Igarapava, quando negou a participação do Estado de São Paulo numa pequena parte do projeto.
Depois veio o Temer que novamente, e por duas ocasiões, mentiu, descumpriu todas as portarias e foi covarde ao deixar para o novo governo a responsabilidade de contratação.
Sem dó nem piedade Bolsonaro e seus anjos da morte finalmente enterraram de vez a construção de um projeto que levaria a cidade de Igarapava, seus moradores, a comunidade em geral a uma experiência de solidariedade e justiça social.

Não acho que temos que ter “sucesso” em todas as iniciativas. Mas neste caso não se trata de projeto arquitetônico, projeto de ideia ou papel. Trata-se de vidas e de vidas de pessoas que muito já sofreram. São famílias que acreditaram num programa de governo, que fizeram todas as etapas legais, e eram muitas. São famílias que viveram anos na esperança de conquistar uma moradia. Não era uma ilusão, uma brincadeira ou algo que se não der certo começa outro. Para muitos e muitas esta era a última oportunidade de suas vidas.

Quem vai parar este governo de morte do Bolsonaro?


Prefeito, deputado, entidade e as famílias, cada um com seu grau de cumplicidade, foram presas fáceis desta matilha de lobos cruéis covardes. Não posso deixar de fora os pastores. Perguntem a eles porque o governo não olha para os pobres.

Resta agora, cada uma com suas responsabilidades, entender que é hora de virar o jogo e parar com tanta crueldade do governo Bolsonaro.

“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.” Esta frase atribuída a Santo Augustinho pode nos ajudar.

Muitos do grupo Vargem Alegre talvez não tenham mais força para continuar, mas sei que aqueles que conseguem terão o dobro para compensar.

É necessário que as famílias do grupo Vargem Alegre continuem juntas, conversem, se organizem para exigir respeito e ação concreta que possam reparar este dano cruel que sofreram. Só haverá alguma saída a partir da organização popular.

O fim do Programa Minha Casa Minha Vida e do projeto Vargem Alegre que atenderia 261 famílias interessa a quem? Quem usará aquela terra para morar? Por que tem dinheiro para projeto comercial? Até quando vão ignorar as famílias que não tem onde morar? Por que tanta terra vazia e tanta gente sem-terra?

Não precisa ser assim, não deve ser assim. É necessário se indignar com esta situação e fazer desta indignação ações para exigir que o poder público cumpra seu papel de zelar pela população mais vulnerável da cidade. Não podemos aceitar apenas que "não deu certo", isso é mentira. Deu certo sim, o que não houve foi o cumprimento do programa, houve um crime cometido pelo governo e devemos buscar todas as formas de responsabilizar o governo por isso.  

Jamais devemos aceitar a injustiça com passividade.

Paulo Honório

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