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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Dívida Pública: o financismo na jugular do setor produtivo e do trabalhador!


Faz algumas semanas que o Primeiro Ministro grego Alexis Tsipras renunciou. Tsipras fora eleito para peitar o sistema financista europeu e negociar uma forma de canalizar parte dos gastos com os juros do endividamento público para a recuperação econômica e social da Grécia.

Tsipras caiu, renunciou após meses de extrema pressão. Se continuasse a peitar o sistema, a Grécia sairia da zona do euro e estaria literalmente sem moeda e sem condições de se financiar. Seria o caos. Tsipras foi moído pelo sistema e o voto do povo grego foi ignorado.

Assim é o sistema capitalista financista. Tudo montado para garantir a "liquidez" do sistema. Em outras palavras: o fluxo de dinheiro para financiar a ciranda que não pode parar, mesmo que para isso se achate e se oprima o setor produtivo e o trabalhador.

É um sistema abstrato, que não produz um parafuso, mas que necessita que os Estados nacionais ajam em sua defesa, aplicando regras que garantam que a maior parte das riquezas produzidas sejam destinadas a azeitar a roda do capital.

Desde 1990, quando esse sistema foi consolidado, as regras do "Consenso de Washington" são uniformes para os países: aumento na idade das aposentadorias e diminuição dos benefícios, flexibilização trabalhista e achatamento de salários, privatizações e fusões de conglomerados, leis de "responsabilidade fiscal" que garantem o pagamento das dívidas e superávits primários garantidos sob o tacão das "agências de risco", que rebaixam a "nota" dos países que decidam diminuir um pouco a poupança para pagar juros para investir, digamos assim, em assuntos mais provincianos, como moradias populares, por exemplo.

Quem ousa enfrentar o sistema? A Venezuela, a Argentina, a Rússia, a Síria?

Vejamos o caso brasileiro. Enquanto foi possível, o Brasil fez durante 14 anos os superávits necessários. Isso inclusive resultou na diminuição da dívida em relação ao PIB. Veja o gráfico.


Acumulamos 400 bilhões em reservas internacionais por termos sido excelentes "pagadores".



Mantivemos uma média de 40% do PIB (7% só para fazer superávit primário) para pagamento da dívida pública durante uma década e meia. Só em 2015 serão 482 bilhões de reais. De onde vem esse dinheiro?

Bom, no Brasil, onde 60% da arrecadação vem dos impostos retidos na fonte  (da folha de pagamento do trabalhador e do imposto de renda), podemos dizer sem medo que a grana que escorre para os cofres do financismo vem do suor do povo e do empresariado nacional, aqueles que ainda insistem em produzir parafusos.

E, mesmo assim, crescemos, geramos 20 milhões de empregos e renda, investimos em infraestrutura, construímos moradias, colocamos 7 milhões na universidade e foram retirados da pobreza mais de 40 milhões de pessoas. Graças a um governo que soube enxergar o Estado como ferramenta de inclusão social. Graças a Lula.

Enquanto pôde, o Brasil fez as desonerações necessárias para proteger o emprego e a renda da crise internacional, criada pelas bolhas do sistema em 2008 e que persiste até hoje. 

Dilma liderou uma renúncia fiscal da ordem de 100 bilhões de reais! E manteve os níveis de investimento, inclusive em ferrovias e no Minha Casa Minha Vida. Foi com Dilma, em 2011, que o Brasil alcançou o máximo de grau de investimento (no gráfico acima).

Mas a crise se agravou. O dólar alto é fruto dela. Não dá mais para fazer o mesmo caminho de desonerações e de investimento. E nesse momento, sofremos do mesmo mal da Grécia. O sistema não se importa.

Dilma deixou Joaquim Levy implantar o arrocho e o discurso hipócrita da mídia não permite que se recomponham os níveis de arrecadação para não ser necessário cortar gastos sociais, nem com aumento do imposto de renda dos mais ricos e nem com qualquer outro mecanismo de política fiscal. Apregoam que "a culpa é da Dilma". Na mídia crise internacional não existe.

O trabalhador e o sistema produtivo nacional encontram-se em uma encruzilhada. O governo reeleito em 2014 para manter a política de inclusão e o desenvolvimento está encurralado e desorientado. Corremos o risco de um recuo nas conquistas sociais e econômicas dos últimos anos.

O rebaixamento da "nota" brasileira pela S&P é só mais do mesmo: chantagem do sistema ávido por grana. O que é oportunamente explorado pela oposição tucana, principalmente pelo moleque mimado que foi derrotado em 2014. O fato de terem quebrado o país três vezes e dele próprio ter quebrado Minas Gerais não importa. Importa é faturar junto com a mídia.

Busca-se, desonestamente, passar a mensagem de que o governo tem que cortar gastos para superar a crise, quando esses "gastos" são justamente os programas sociais! São os mentirosos fazendo o que mais sabem fazer, mentir. Tucanos e mídia são os arautos do sistema financista.

Nesse momento, somente a unidade das forças populares e progressistas pode buscar dar um pouco de força ao governo combalido. Mas não é fácil. Como defender um governo que não acena em nossa direção? Mas é necessário se compreender o momento e agir para resgatar a capacidade de condução do Estado.

É absolutamente possível sair dessa crise sem deixar que as conquistas se esvaiam. Temos mercado interno, temos petróleo, temos os BRICS. Só precisamos construir unidade. Lideranças responsáveis apoiadas no movimento social.

Temos força populacional, energética e econômica e precisamos resgatar o Brasil como um pólo de inclusão social, de desenvolvimento econômico, de proteção ambiental e de liderança regional. 

A força produtiva do povo brasileiro não pode mais servir para irrigar um sistema mundial falido e que só causa estragos por onde passa.

Precisamos defender o interesse nacional!

Obs: como informação é tudo, compartilho aqui uma entrevista com a auditora Maria Lúcia Fatorelli. Veja.


Ricardo Jimenez

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