Celebração da Festa dos Santos Reis - Igreja Bom Jesus da Lapa - Ribeirão Preto-SP - Foto: Paulo Honório |
Na Bíblia do Novo Testamento, há
duas versões do nascimento de Jesus. Uma do evangelho de Lucas que culmina com
a adoração dos pastores. A outra, do evangelho de Mateus, que se concentra na
adoração dos três reis magos. A lição é: judeus e não-judeus (antigamente se
dizia pagãos), cada um a seu modo, tem acesso a Jesus e participam da alta
significação que ele encarna. Tentemos captar o sentido dos reis magos, festa
que as Igrejas celebram no dia 6 de Janeiro, hoje quase esquecida.
As Escrituras judaico-cristãs
deixam claro que Deus não se revelou apenas aos judeus. Antes de surgir o povo
de Israel com Abraão, revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a
Balaão e a um não judeu, o rei Ciro a quem, pela primeira vez na Bíblia, se
atribui o título de Messias. E nunca deixou de se revelar aos seres humanos, de
muitas formas diferentes, pois todos são seus filhos e filhas e ouvintes da
Palavra. Os reis magos estão entre eles. Quem eram? Diz-se que eram astrólogos
vindos provavelmente da Babilônia.
Naquele tempo astronomia e
astrologia caminhavam juntas. Certo dia, estes sábios descobriram uma estranha
conjunção de Júpiter com Saturno que se aproximaram de tal forma que pareciam
uma única grande estrela, na constelação de Peixes. O grande astrônomo Kepler
(+1630) fez cálculos astronômicos e mostrou efetivamente que no ano 6 antes de
Cristo (data do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal
conjunção.
Para os sábios, este fato possuia
grande significação. Júpiter, na leitura astronômica da época, era o símbolo do
Senhor do mundo. Saturno era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes
era o sinal do fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim interpretaram: no
povo judeu (Saturno) nascerá o Senhor do mundo (Júpiter) sinalizando o fim dos
tempos (Peixes). Então se puseram a caminho para prestar-lhe homenagem.
Sempre houve na história dos
povos, pessoas simples ou sábias que se puseram a caminho em busca de salvação,
quer dizer, de uma totalidade integradora que superasse as rupturas da
existência humana. Deus veio ao encontro desta busca entrando nos modos de ser
e de pensar das respectivas pessoas.
Mas por que foram encontrar
Jesus? Porque, segundo a compreensão dos evangelistas, Jesus é um princípio de
ordem e de criação de uma grande síntese humana, divina e cósmica. Quando dão a
ele o título de Cristo (ungido em grego) querem expressar esta convicção.
Cristo não é um nome de pessoa, mas uma qualidade conferida a alguém para
cumprir uma missão que, no caso, é concretizar uma síntese integradora
(salvação). Jesus operou tal síntese; por isso o chamaram de Cristo. Pessoa e
missão se identificaram de tal forma que Jesus Cristo se transformou num nome.
Mais correto seria dizer, Jesus, o Cristo. Esta síntese é buscada e realizada
em outras religiões e caminhos espirituais, embora sob outros nomes: Sabedoria,
Logos, Iluminacão, Buda, Tao, Shiva etc. Estes são “ungidos e
consagrados”(significado de Cristo) para serem um centro atrator e unificador
de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes, mas o sentido é sempre o
mesmo.
Nossa realidade, entretanto, é
contraditória. É feita de elementos sim-bólicos e dia-bólicos, de verdade e de
falsidade, de luz e de sombras. Como criar uma ordem superior que ultrapasse
essas contradições? Sentimos a urgência de um Centro ordenador e animador de
uma síntese pessoal, social e também cósmica.
Os evangelistas usaram o fenômeno
astronômico do aparecimento de uma estrela para apresentar Jesus como aquele
Senhor do Universo que vem sob a forma de uma frágil criança para unificar
tudo. Essa Energia é divina mas não é exclusiva de Jesus. Ela se expressa sob
muitas formas históricas e em muitas figuras religiosas, justas ou sábias e, no
fundo, em cada pessoa. Em Jesus, o Cristo, ganhou uma concretização tal que
mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente, os Magos.
Todos os caminhos levam a Deus e
Deus visita os seus em suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela
Energia unificadora que se esconde no significado da palavra Cristo. Esse
encontro com a Estrela que guiou os magos, produz hoje, como produziu ontem,
alegria e sentimento de integração.
Haverá sempre uma Estrela no
caminho de quem busca. Importa, pois, buscar com mente pura e sempre atenta aos
sinais dos tempos como o fizeram os reis magos.
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